Em meio aos recordes de desmatamento na Amazônia nos últimos anos, o governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva terá o desafio de frear a destruição e reestruturar agências de fiscalização ambiental enfraquecidas durante a gestão de Jair Bolsonaro.
Conforme os últimos dados divulgados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), outubro teve uma devastação de 904 quilômetros quadrados na floresta, a maior para o mês desde o início da série histórica, em 2015.
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Mesmo faltando ainda os dados de novembro e dezembro, o ano de 2022 já é o recordista em desmatamento na Amazônia, com 9.494 quilômetros quadrados destruídos, superando 2019, com 9.178 quilômetros quadrados.
Para o professor de química e meio ambiente da Universidade Presbiteriana Mackenzie e doutor em saúde pública pela USP (Universidade de São Paulo), Rogério Machado, o governo eleito precisará começar "tomando conta" da Amazônia.
"Isso é uma coisa que depende exclusivamente de vontade política. O governo que vai entrar já se sente na obrigação de mostrar serviço porque o mundo está cobrando uma postura técnica em cima da Amazônia", diz o especialista à ANSA.
Essa cobrança ficou visível no discurso de Lula na conferência climática da ONU, a COP27, no Egito, em que o presidente eleito ressaltou que o "Brasil está de volta" para ocupar um papel de liderança em termos ambientais.
Uma das prioridades do país na agenda climática será reativar o Fundo Amazônia, financiado por Alemanha e Noruega e congelado desde 2019 pelo governo Bolsonaro. "Se parou e por que parou pouco importa. O leite já derramou, agora vamos dar um jeito. É preciso ter vontade política e pré-disposição", afirma Machado.
Para o especialista, um dos maiores problemas atuais na Amazônia é não saber exatamente o que é mais grave ou urgente.
"Se você não fiscaliza, tem problema que a gente nem sabe que existe. Por exemplo, agora tem rio na Amazônia assoreando. O problema é porque não está chovendo? Ou porque esse mundo de terra e areia que chegou ali é por causa de garimpo ilegal?", ressaltou o professor, acrescentando que é preciso "tomar conta de verdade" da Amazônia e "colocar a lei para funcionar".
"Nós temos uma das melhores leis ambientais do mundo. Porém tem que se colocar na prática, tem que ir atrás, tem que ter vontade política para isso funcionar e não ter interesses econômicos interferindo", concluiu.