A busca de um nome que possa tirar o presidente Jair Bolsonaro (PL) de um segundo turno contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022 mal começou, mas as divergências entre os eventuais candidatos já começam a criar arestas em seus entornos.
Nesta quarta (8), o ex-juiz Sergio Moro (Podemos) encontrou-se em São Paulo com o governador João Doria (PSDB). Há meses ambos conversam sobre a necessidade de uma convergência em 2022, mas até aqui não estavam calçados como presidenciáveis.
Moro não se lançou oficialmente, mas se mexe como candidato desde que se filiou ao Podemos. Doria venceu uma dura batalha interna no seu partido, sendo ungido como pré-candidato da sigla após derrotar o governador Eduardo Leite (RS) em prévias.
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A conversa, segundo relatos iniciais de ambos os campos, foi cordial e girou em torno do usual, a necessidade de união. Nada sobre quem ocuparia que lugar numa eventual chapa da dita terceira via –Moro já havia visitado Leite no sábado (4).
Na superfície, tudo sob controle. "O encontro foi positivo para construção de uma base de centro liberal com sentimento de proteção do Brasil e dos brasileiros", disse Doria. "É preciso construir para o Brasil um projeto equilibrado, olhando para o futuro, para o resgate da esperança", afirmou Moro.
O problema veio na embalagem do encontro. Por questões de agenda, Doria aceitou reunir-se com o ex-juiz no meio da tarde na casa da presidente do Podemos, deputada Renata Abreu (SP). Estava acompanhado do seu vice, Rodrigo Garcia (PSDB), que é próximo da anfitriã.
Ato contínuo ao encontro, Abreu divulgou nota em que ressaltava a agenda de Moro em São Paulo, elencando um encontro anterior, com o cientista político Luiz Felipe D'Ávila, pré-candidato a presidente pelo Novo. Depois completava com a visita de Doria, precedida por um "além de encontrar" D'Ávila.
Tucanos se queixam da equivalência de nomes com densidade política incomparável. Abreu também ressaltou na nota o local do encontro, algo importante nos códigos da política. O time de Doria queria um território neutro para a reunião, e evitou ao máximo divulgar detalhes dela.
Ao fim, são apenas detalhes algo banais, mas que fizeram explicitar entre os tucanos a percepção de que Moro teria entrado na campanha eleitoral com o salto alto devido à sua alta exposição de mídia e a posição em algumas pesquisas.
Na visão dos aliados de Doria, a fotografia ainda é pálida e não reflete a rejeição alta, a falta de capilaridade e musculatura partidária do ex-juiz, para não falar nos limites de sua agenda anticorrupção –o governador teria mais a mostrar, dizem.
Como seria óbvio, aliados de Moro pensam outra coisa. Consideram que a posição do PSDB nas pesquisas, no bolo abaixo dos 5%, deveria tirar o que também chamam de salto alto dos tucanos.
Citam a entrevista concedida pelo presidente da sigla, Bruno Araújo, ao site da revista Veja nesta semana. Nela, Araújo disse que Moro seria um "vice ideal". Por outro lado, aliados de Doria consideraram a frase ruim para o tucano, trazendo à tona os ressentimentos do processo de prévias.
Integrantes da terceira via de todos os lados citam abril como um horizonte para algum tipo de acordo visando 2022, mas os movimentos iniciais sugerem que tal convergência talvez se dê apenas num segundo turno –caso algum dos nomes do grupo chegue lá.