Mulheres precisam de menos tempo de atividade física do que os homens para reduzirem as chances de mortalidade por doenças cardiovasculares ou outras condições crônicas. É o que diz um estudo recém-publicado no Colégio Americano de Cardiologia.
A pesquisa colheu questionários de 400 mil pessoas nos Estados Unidos sobre a frequência com que praticavam exercícios físicos entre 1997 e 2019, e cruzou com dados de mortalidade da amostra.
Homens que faziam 300 minutos de atividade moderada ou vigorosa por semana obtiveram uma redução média de 18% nas chances de mortalidade. Já entre as mulheres da mesma faixa etária, essa queda era atingida com apenas 140 minutos.
Leia mais:
Fatores ambientais e ancestralidade no Brasil podem influenciar alterações moleculares de tumores no pulmão
Produtor de filme sobre Maníaco do Parque disse que a proposta era "dar voz às vítimas"
'Dor sem fim', afirma mãe de jovem londrinense vítima do Maníaco do Parque
Golpismo pode levar Bolsonaro a 28 anos de prisão e a mais de 30 inelegível
A pesquisa também avaliou o impacto dos exercícios de força na saúde, e mostrou que a redução da mortalidade atingida pelos homens com a prática de atividades duas vezes por semana foi alcançada pelas mulheres só com a frequência semanal.
O trabalho não explica a razão da diferença, mas especialistas supõem que ela tenha a ver com particularidades fisiológicas de cada sexo.
Homens têm vias aéreas pulmonares mais largas, fibras musculares maiores e 38% mais massa magra do que as mulheres, diz a educadora física Paula Brito, coordenadora da Academia Gaviões, em São Paulo.
Assim, elas precisam de menos exercícios para conseguir os efeitos que o corpo do homem demora mais a obter, diz o médico do esporte Luiz Tintori,da clínica Mizu, também na capital paulista.
Um estudo parecido, feito em Taiwan entre 1996 e 2008 chegou a resultados semelhantes, mas analisou períodos mais curtos de movimento. Pesquisas assim mostram a importância de as mulheres se exercitarem mesmo que por pouco tempo, diz a endocrinologista Andrea Fioretti, da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia).
Desde a infância, elas são menos incentivadas a praticar esportes do que os homens e, com o passar dos anos, agravantes como a sobrecarga de tarefas domésticas e a responsabilização pela esfera do cuidado as afastam ainda mais desse meio.
Segundo o relatório Move Her Mind, que avaliou 24 mil mulheres em 40 países, ainda que a maioria delas se sinta mais feliz quando se exercita com regularidade, metade não se movimenta como gostaria, e as mães estão entre as menos ativas.
"Não há dúvidas de que quanto mais exercício uma mulher puder fazer, melhor. Mas os dados vem motivar aquelas que ainda estão sedentárias: não é preciso muito tempo para colher os benefícios", acrescenta Fioretti.
Apesar do bom prognóstico, mais estudos precisam ser feitos sobre o tema. Uma das principais críticas à pesquisa vem do fato de ela ter sido pautada em questionários.
O autorrelato pode levar a equívocos, sobretudo porque, quando entrevistados, homens tendem a inflacionar a frequência com que se exercitam, diz o endocrinologista Bruno Halpern, presidente da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica).
Outra fragilidade é a falta de avaliação das comorbidades e do estilo de vida. Não foi verificado, por exemplo, se a amostra de homens tinha maior consumo de álcool ou incidência de tabagismo, diz a médica da SBEM.
De qualquer forma, a análise pode acender discussões sobre a frequência de atividade física recomendada pelos colégios americanos de Cardiologia e de Medicina do Esporte. Os órgãos indicam 150 minutos semanais de exercício moderado ou 75 minutos de atividade física vigorosa, e hoje a regra é a mesma para ambos os sexos.