Sabemos que a formação de nossa personalidade resulta das experiências vividas nos primeiros anos de vida. Um ponto muito importante é a relação que estabelecemos com nossos pais. Nossa personalidade é influenciada também pela forma como nossos pais estabeleceram a relação entre eles. A relação conjugal é a base, a estrutura de uma família. Quando a criança assiste este relacionamento se sentirá fortemente amparada ou poderá se sentir insegura, ameaçada, hostilizada.
E o que percebe-se nas relações conjugais? Muitos acham que para serem bons pais basta serem dedicados aos seus filhos. Mas isto não é verdade. As crianças aprendem a se relacionar com o mundo na experiência com seus pais e também assistindo ao filme da vida conjugal que seus pais lhe apresentam. Observamos casais poucos dispostos a olhar amorosamente um para o outro, compreendendo suas atitudes e aceitando o seu parceiro como ele pode ser.
Então, quando a criança percebe seus pais numa relação disfuncional, se tratando com aspereza, frieza, indiferença, agressividade, dissimulações é assim que ela provavelmente se relacionará com o mundo, mesmo que este mesmo casal se disponha a olhar para seus filhos com amor. A criança deseja acima de tudo que seus pais se respeitem e se amem, isto resultará num ambiente familiar seguro.
Qual a função do namoro? Conhecer as pessoas, perceber as identificações e as afinidades, as diferenças que também podem fazer crescer. No namoro as pessoas se conhecem e também conhecem a família de origem de seu parceiro. É nesta observação que as situações podem saltar aos olhos. Como é esta família? Que valores observamos neste sistema familiar? Aonde esta família deposita suas prioridades? ''Onde está o teu tesouro, lá também está teu coração'' (Mt 6, 21).
Quando consigo identificar estes valores posso antecipar se esta relação terá um bom futuro ou não. Então o namoro não é uma relação que se estabelece somente entre duas pessoas, mas preciso ver a pessoa que escolhi junto com a sua família. É uma família super-protetora? É uma família que tem autonomia ou cria seus membros de uma forma dependente? Há diálogo? Uma boa comunicação? As pessoas confiam entre si? São agressivas? Observe.
Muitas vezes as nossas escolhas são fruto do nosso inconsciente. Nos aproximamos e nos sentimos atraídos por algo que mobiliza as nossas experiências inconscientes, situações que vivemos em nossa família, que muitas vezes não lembramos, voltando ao script vivido na dinâmica da nossa família. Se foi um ambiente tranquilo e confiável iremos nos mover em direção às pessoas que provoquem este mesmo sentimento, para darmos continuidade a este roteiro. Se o ambiente em que a pessoa foi criada foi tumultuado e de acusações, ela buscará inconscientemente uma pessoa que a faça se sentir assim novamente.
As pesquisas mostram que filhas de pais alcoólatras buscam para se casar muitas vezes, homens alcoólatras. Crianças que trazem no seu inconsciente histórias de traições buscarão parceiros que podem repetir esta mesma trama familiar.
Como quebrar este padrão familiar? Buscando o autoconhecimento. Mapeando a nossa história, trazendo as lembranças à tona, buscando conhecer a história familiar, como se fôssemos montando um quebra-cabeça e aí sim poderemos fazer escolhas de forma mais consciente. Serei capaz de me afastar e dizer não para aquilo que me faz mal e dizer sim para as pessoas e situações que me fazem bem. Crio chances de construir uma história que se diferencie das mazelas vividas pelos meus familiares e abro para a minha descendência a oportunidade de se libertarem dos traumas que fizeram parte da história dos meus antepassados.
Margareth Alves, psicóloga e terapeuta familiar (Londrina)