Em um ano atípico, até a atenção voltada à ciência é incomum. Há alguns meses, o assunto são os estudos e o desenvolvimento das vacinas, com o acompanhamento especial das que estão na terceira fase de ensaios clínicos e, portanto, em estágios mais avançados de análises. Apesar da importância desta etapa, ela não será o último desafio da comunidade médica, de institutos e governos envolvidos. A próxima grande provação está, exatamente, na distribuição em massa.
Com um vírus como o Sars-Cov-2 – que se espalha facilmente e já causou inúmeros impactos na vida das pessoas desde o primeiro caso relatado, em Wuhan, na China –, a rapidez na criação da vacina se torna necessária. Acontece que especialistas alertam para o tempo adequado de estudos, que podem chegar a dez ou 20 anos. Para ter um comparativo, a vacina mais rápida já produzida demorou quatro anos para ser distribuída.
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Mesmo assim, como os esforços do mundo estão concentrados neste empreendimento, é possível que o lançamento ocorra ainda em 2020 ou 2021. Então, o ponto de atenção será a distribuição em larga escala, que deve chegar a todos os habitantes do mundo. Historicamente, este passo também é demorado, já que, dependendo da área geográfica, a cadeia de abastecimento e distribuição leva anos para conseguir cobrir 100% da região.
Se apenas uma dose bastar para imunizar as pessoas, serão pelo menos 7 bilhões de unidades fabricadas. Em um cenário conservador, considerando que 20% ou 30% do estoque pode ser perdido durante o transporte e armazenamento, isso pode significar cerca de 10 bilhões de doses necessárias. No entanto, se for preciso vacinar cada pessoa mais vezes, o volume pode chegar a 19 bilhões de frascos.
Por receio de que alguma falha de segurança coloque a distribuição em risco, especialistas apontam que essa também pode ser a hora de impulsionar o blockchain (também conhecido como "protocolo da confiança”) – tecnologia de registro distribuído que tem sido usada em cadeias de suprimentos nos portos, varejo e logística.
Distribuição no Brasil
O governo federal e o Ministério da Saúde apostam na vacina de Oxford/AstraZeneca para conseguir imunizar a população. Em julho, Fiocruz assinou um acordo prévio de cooperação para transferência de tecnologia e recebimento de insumos. Com isso, a produção poderá ser realizada já em território brasileiro, sem a necessidade de transportar as doses já prontas. Neste cenário, caberia à entidade e aos profissionais formados em Biomedicina EAD ou presencial a produção, formulação, envase, rotulagem e controle de qualidade.
No contrato há especificações sobre a nacionalização completa, que poderia ser alcançada no meio do ano que vem. Até este passo ser realizado, a importação do princípio ativo da vacina ainda precisará ser desenhada e, nesse período, cerca de 30 milhões de doses seriam entregues ainda em 2020 e 70 milhões no primeiro semestre de 2021.
"Levamos em consideração a tecnologia que poderia ser mais rapidamente interiorizada na Fiocruz. É algo que a gente já usa em outros produtos", diz Marco Krieger, vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz.
De acordo com Krieger, a estimativa é de que os resultados preliminares da terceira fase de pesquisa estejam disponíveis. Se positivos, permitiriam um pedido emergencial de registro da vacina à Anvisa.