Imagine se você tivesse engolido um chiclete no começo de 2008. George W Bush ainda estava na Casa Branca. O Instagram ainda não tinha sido lançado. E o mundo acabava de descobrir o final da saga de Harry Potter.
Pode parecer uma eternidade, mas segundo a lenda, se você tivesse mesmo engolido um chiclete naquela época, seu corpo só estaria terminando sua digestão agora. Na infância, um de nossos maiores terrores era a ideia de engolir uma goma de mascar – e de passar sete anos com ele na barriga.
Mas será que isso seria cientificamente possível?
Anatomia de um chiclete
Um chiclete é composto de uma base de goma, açúcar (ou adoçante), aromatizantes, conservantes e emolientes. Ingredientes como açúcares e aromatizantes, como o óleo de hortelã, por exemplo, se quebram facilmente em nosso sistema digestivo e são excretados rapidamente.
O mesmo ocorre com emolientes, como óleos vegetais e a glicerina, que não representam um problema para o sistema digestivo. Portanto, o único ingrediente do chiclete que teria que enfrentar tanto os ácidos do estômago quanto as enzimas digestivas do intestino é a base de goma.
Os primeiros chicletes industriais eram fabricados com chicle, a seiva do sapotizeiro, árvore originária da América Central. Mas o produto se popularizou durante a Segunda Guerra Mundial, graças aos soldados americanos, e o cultivo de sapotizeiros não atendia mais à demanda.
Hoje, a maioria das gomas de mascar usa outros polímeros naturais ou sintéticos. A Food and Drug Administration (FDA), órgão que regulamenta a comercialização de alimentos e medicamentos nos Estados Unidos, autoriza o uso de várias substâncias, inclusive o butil, uma borracha sintética usada para fazer câmaras de pneus. Cada fabricante tem sua própria receita, com o objetivo de conseguir um teor de elasticidade perfeito.
Sintomas de que há algo errado
Mas mesmo que a base de goma não possa ser quebrada pelo sistema digestivo, isso não quer dizer que ela fica na barriga por sete anos. Ela também não se enrosca em volta do coração, como também diz outra crença popular.
A verdade é que, se se tratar de um pedaço pequeno, ela vai alguma hora encontrar o caminho para ser eliminada. Já se sabe que corpos estranhos com menos de 2 centímetros de diâmetro, como uma moeda, conseguem sair do estômago e do intestino sem causar estragos. E chiclete tem a vantagem de macio e flexível.
A única maneira de uma goma de mascar ficar sete anos na barriga de alguém é ingerindo uma quantidade enorme do produto. Mesmo assim, alguns sintomas, como a constipação, indicariam um problema.
Um estudo científico de 1998 relata os casos de três crianças que desenvolveram uma grave obstrução intestinal por causa do hábito de engolir chicletes. Uma delas era um menino de 4 anos que vinha sofrendo de constipação por dois anos. Ele mascava de cinco a sete chicletes por dia, sempre engolindo-os. Após inúmeras tentativas de fazer seu intestino funcionar, inclusive com lavagens, médicos descobriram um amontoado de goma em seu reto.
As outras duas crianças também passaram por problemas parecidos até se revelar seus estranhos hábitos alimentares. Por isso, engolir uma grande quantidade de chiclete regularmente não é uma boa ideia. Mas se, por acaso, você acabou comendo um pequeno pedaço, não há provas de que isso causará algum problema.
(com informações do site BBC)