''A diferença entre veneno e remédio é, muitas vezes, a dose.'' A lição do alquimista suíço Paracelso, um dos pioneiros da medicina moderna no início do século 16, mantém-se atual quase 500 anos depois. Pode ser aplicada, por exemplo, ao uso do sal e do açúcar no cotidiano das pessoas.
As duas substâncias, na proporção adequada, misturadas à água, compõem a solução de reposição oral contra a desidratação, popularmente conhecida como soro caseiro, que salva muitas vidas. Ingeridas em excesso, porém, e por longos períodos, causam graves problemas para a saúde.
O sal está sob os altos cuidados da Sociedade Brasileira de Cardiologia, que fixa o limite de seu uso nos componentes industrializados em 20%. A Organização Mundial da Saúde, por sua vez, recomenda a ingestão máxima de 5 gramas de sal por dia, dosagem suficiente e necessária para abastecer de iodo o hormônio da tireóide. Atenção: estamos consumindo o dobro disso, uma ameaça ao coração.
O açúcar acima do recomendado é um dos fatores da epidemia de obesidade da era fast-food, com matriz nos Estados Unidos e sólida ramificação entre nós. Recente pesquisa do IBGE mostrou padrões altos demais na ingestão de açúcar (e também sal e gordura saturada). Boa orientação é o consumo de açúcar in natura, inerente ao alimento, como nas frutas. Ele tem efeito positivo no organismo, gerando o que se chama de ''energia limpa'', combustível natural para as atividades diárias.
O cuidado com a saúde começa com a consciência alimentar. E o segredo para uma vida saudável e ativa é fazer o que dá prazer ao mesmo tempo em que se previne hipertensão, diabetes e arteriosclerose, causas comprovadas de eventos graves, como acidente vascular cerebral (AVC) e infarto do miocárdio. No Brasil, existem mais de 30 milhões de hipertensos, e estima-se que apenas 10% deles façam o devido controle.
Recordemos Aristóteles: a virtude está no meio-termo, ou seja, no bom senso. Comer um salgado ou um merengue uma vez por semana não faz mal a ninguém. A pessoa conserva o bem-estar propiciado pelo paladar. E é bom não esquecer de aumentar os exercícios físicos, diminuir as altas ingestões calóricas e manter o diâmetro abdominal abaixo de 90 cm.
Américo Tângari Junior - cardiologista (São Paulo)