Cerca de 3,5 milhões de brasileiros têm epilepsia. A maioria dos casos se inicia na infância, fato que se deve às características do cérebro imaturo e em desenvolvimento. Estima-se que de 3% a 10% das crianças até cinco anos de idade tenham pelo menos uma crise convulsiva na vida. A epilepsia se caracteriza pela repetição das crises. É uma patologia frequente e geralmente benigna, e sua causa deve ser estudada com profundidade. Não deve ser confundida com a convulsão febril benigna da infância, comum em crianças normais entre três meses e cinco anos, que apresentam crises convulsivas somente na vigência de febre por processos infecciosos como amidalite, viroses, etc.
Os neurônios são os principais componentes do cérebro. Eles se comunicam através de correntes elétricas. Quando existe uma atividade alterada e excessiva deste grupamento de células, estas podem produzir as descargas epilépticas, que induzem clinicamente à crise convulsiva.
As crises epilépticas normalmente iniciadas em um lugar específico do cérebro produzem as crises focais, que podem ser breves e geralmente não alteram o nível de consciência. A criança pode apresentar alterações motoras, sensitivas, visuais, olfativas, dentre outras. Aos pais é importante estarem atentos a estes sintomas e a pequenos movimentos diferentes e repetitivos que possam ocorrer, pois a crise pode ser rápida e passar despercebida.
Quando a criança é acometida pelo modelo mais estereotipado de crise - a generalizada - a identificação é mais simples. Neste caso, a criança perde a consciência de maneira abrupta, cai, enrijece todo o corpo e apresenta abalos rítmicos dos quatro membros. Ainda pode haver emissão de urina e a respiração pode ser interrompida por alguns minutos. O término da crise é caracterizado por sonolência e confusão.
O médico especialista em epilepsia da criança é o neuropediatra. O diagnóstico é baseado na história clínica, descrevendo o tipo de crise convulsiva observado e relatado pela família. Os exames complementares são o eletroencefalograma e a ressonância magnética de crânio. O tratamento começa com orientação pessoal e familiar sobre a patologia.
Cerca de 25% das crianças com epilepsia apresentam alguma dificuldade de aprendizado. Os exercícios físicos devem ser feitos habitualmente, com restrição aos esportes radicais e à natação. A criança deve adotar uma rotina saudável e a família deve ser orientada sobre os fatores que podem desencadear crises, como o estresse, privação de sono, infecção (febre), entre outros.
Paulo Breinis, neuropediatra (São Paulo)