A quimioterapia melhorou a sobrevida de pacientes com câncer e esse é um grande avanço da Medicina. Entretanto, o mesmo tratamento que traz esperança, pode trazer graves perigos ao coração e até risco de morte. Estudo conduzido nos Estados Unidos, demonstrou que doenças cardiovasculares já superaram o câncer como a principal causa de morte entre sobreviventes de câncer de mama em estágio inicial, com mais de 65 anos de idade.
Por causa dos efeitos tóxicos que os tratamentos do câncer vêm apresentando sobre o coração, um campo da Medicina vem se destacando, a cardio-oncologia. Um dos principais especialistas no assunto, o cardiologista Raymond Russell, presidente da Sociedade Americana de Cardiologia Nuclear (ASNC, sigla em inglês para American Society of Nuclear Cardiology), alerta que é necessário que cardiologistas e oncologistas adquiram conhecimentos especializados e trabalhem em equipe, sem tomadas de decisões isoladas, mas abordando o paciente de forma integrada. "A cardio-oncologia é um componente-chave na sobrevivência do paciente e o tratamento do câncer deve ser o mais personalizado possível", diz ele, que também é diretor de Cardio-Oncologia e Cardiologia Nuclear do Instituto Cardiovascular Lifespan, que inclui os hospitais Rhode Island, Miriam e Newport, nos Estados Unidos.
Cardiotoxidade e diretrizes de tratamento
Segundo Raymond Russell, a cardiotoxidade de alguns medicamentos quimioterápicos, como a doxorrubicina e o trastuzumabe, já é conhecida por muitos médicos, porém, apenas um número relativamente pequeno de cardiologistas sabe monitorar essa toxicidade, minimizar seu risco e tratá-la de forma a permitir que o paciente continue o tratamento. Por isso, ele e outros especialistas, incluindo sua esposa, a Dra. Kerry Strong Russell, estão empenhados na evolução da cardio-oncologia. Algumas diretrizes de tratamento estão sendo desenvolvidas e novos agentes cardiotóxicos estão sendo identificados. "O desenvolvimento de novas diretrizes para novos agentes cuja cardiotoxidade vai sendo identificada exigirá muita colaboração e estudos multicêntricos, ou seja, estudos conduzidos simultaneamente em mais de um centro de pesquisa para identificar os melhores tratamentos", afirma.
A cardio-oncologia também lida com aqueles pacientes que chegam ao tratamento do câncer já com problemas no coração.
Segundo Raymond Russell, as tecnologias não invasivas de diagnóstico por imagem desempenham papel importante em caracterizar a função de bombeamento do coração antes do início da quimioterapia, a fim de auxiliar os médicos a identificar os pacientes em risco de desenvolver cardiotoxicidade. Ele explica que essas tecnologias, incluindo as técnicas nucleares, ajudam a monitorar a diminuição da função cardíaca durante a administração da quimioterapia, para que possam ser tomadas decisões mais acertadas sobre o tratamento do câncer e o que pode ser feito para ajudar a proteger o coração do paciente.
Prevenção e tratamento continuado
Os pacientes precisam ser informados sobre suas opções de tratamento, o que esperar e como colaborar. "Eu acredito sinceramente em uma abordagem colaborativa entre cardiologista, paciente e oncologista", diz Russel.
Ele afirma que câncer e complicações do coração não estão necessariamente ligados, porém, quanto mais envelhece a população, maiores são os riscos de tanto um problema quanto o outro se manifestarem. Já os sobreviventes dessas doenças, além de manter uma rotina preventiva, com exercícios regulares e alimentação adequada, como também devem fazer os indivíduos que nunca tiveram câncer ou problemas cardiovasculares, precisam ficar ainda mais atentos e fazer o acompanhamento contínuo. As palavras de ordem são "antecipar e prevenir".