Na verdade, todos nós temos um certo temor pela possibilidade de uso dos defensivos agrícolas em nossos alimentos e sabemos muito pouco sobre o efeito potencial dos mesmos em nosso organismo.
Em meados de junho de 2011, uma grave infecção intestinal causada por alimentos contaminados matou mais de quarenta pessoas e milhares delas foram hospitalizadas após ingerirem brotos de feijão contaminados por bactérias do tipo coliformes, provenientes de uma fazenda especializada em alimentos orgânicos na Alemanha. Esse fato chamou a nossa atenção sobre os riscos dos alimentos orgânicos, até então tidos como ideais para a saúde das pessoas. Será que a falta dos agrotóxicos teve alguma influência na proliferação dessas bactérias tão agressivas?
O fato é que há uma grande desinformação dos profissionais de saúde e das pessoas em geral sobre os chamados agrotóxicos. Esses produtos são utilizados na agricultura para proteger a plantação das pragas e são, na maioria das vezes, imputados erroneamente como causadores de intoxicação nas pessoas que consomem tais alimentos. O que foi explicado pelo toxicologista e professor da Unicamp Ângelo Trapé é que a concentração desses resíduos, na maioria dos casos, é muito aquém dos limites de segurança e não há nenhuma documentação de intoxicação e muito menos de casos fatais pela contaminação de alimentos com agrotóxicos, como ocorreu na fazenda de orgânicos na Alemanha.
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Recentemente a Agência Nacional de Vigilância Sanitária - Anvisa - causou grande preocupação ao divulgar os resultados de um estudo que revelou que 28% das frutas e hortaliças brasileiras eram considerados insatisfatórios para o consumo devido à contaminação por agrotóxicos. O mesmo professor esclareceu que o estudo da Anvisa não revelou nada tão preocupante. Primeiro, porque os resíduos de agrotóxicos encontrados acima dos limites desejáveis somaram apenas 3,6% das amostras de alimentos e segundo, porque mesmo nesses casos, "as margens de segurança são altíssimas e deveriam estar cerca de 1000% acima dos limites encontrados para se tornarem arriscadas."
Apesar disso, a pesquisa da Anvisa tem muito valor, uma vez que investiga o que o nosso agricultor tem usado como agrotóxico, suas quantidades e a adequação de cada produto ao alimento cultivado. Isso pode identificar agricultores que fazem uso indiscriminado dos agrotóxicos e de alguma forma puni-los.
Outro detalhe importante e pouco estudado é o impacto ambiental desses produtos. Apesar de ser um argumento muito utilizado contra os defensivos agrícolas, não temos conhecimento de nenhuma pesquisa séria e bem conduzida sobre esse tema. Por outro lado, são bem conhecidos os riscos da contaminação por agrotóxicos por parte dos profissionais que manipulam e aplicam tais produtos, mas o uso de equipamentos de segurança apropriados e o seguimento das recomendações dos fabricantes reduzem significativamente os riscos.
É importante esclarecer que a limpeza dos alimentos cultivados com agrotóxicos usando água, sabão e soluções com hipoclorito de sódio não removem esses produtos dos alimentos. Isso ocorre porque os defensivos agrícolas se distribuem pela polpa dos legumes e frutas. Essa higienização é útil para a remoção de bactérias e fungos, mas não para os resíduos dos agrotóxicos.
Orgânicos
No caso dos alimentos orgânicos, aqueles cultivados sem o uso de agrotóxicos ou hormônio de crescimento, as dúvidas ainda são muitas, porque o cultivo desses alimentos orgânicos requer o uso de nutrientes e fertilizantes para o solo e que por sua vez são produtos químicos e que também precisam de maiores estudos. Além disso, ainda é muito difícil para o consumidor ter certeza da natureza orgânica do alimento que ele está adquirindo e da fiscalização efetiva sobre a produção, armazenamento e comercialização desses produtos.
Um detalhe é bem certo, não existe diferença nutricional entre os produtos cultivados com agrotóxicos e os orgânicos. Por exemplo, a quantidade do licopeno do tomate é a mesma, assim como são iguais as concentrações de vitamina C do abacaxi e do morango cultivados pelas duas formas diferentes de plantio. Além disso, os estudos são claros em definir que quanto maior o consumo de verduras e legumes, independente do cultivo, maior a prevenção contra o câncer, e nunca o contrário.
*Por Ellen Simone de Paiva, endocrinologista e nutróloga, diretora do Citen - Centro Integrado de Terapia Nutricional.(http://www.citen.com.br)