Nutrição

Desorganização alimentar causa "fome insaciável" à noite

25 mai 2012 às 10:29

O Comer Compulsivo não é nada disso. Os episódios compulsivos não são simplesmente comer muito, em pequenos espaços de tempo. Há algumas características desses pacientes que traduzem a gravidade do problema. Entre elas, a freqüência dos episódios, no mínimo 2 vezes por semana; a sensação de perda do controle sobre a alimentação; a ingestão rápida de alimentos pouco palatáveis e o comer sem fome. Entretanto, a característica mais marcante desse tipo de transtorno alimentar é a sensação de culpa e angústia geradas pela forma anormal de se alimentar. Come-se até se sentir desconfortavelmente empanturrado, até a dor física.

Hábitos alimentares que podem ser corrigidos


Comportamento beliscador


São os pacientes que afirmam categoricamente que não comem muito, simplesmente porque eles estão se referindo a suas refeições básicas. Elas realmente são de pequeno volume ou mesmo ausentes. Esses pacientes dizem não ter fome e já começam seu dia omitindo o café da manhã. Daí por diante, passam o dia se alimentando de pequenos volumes de guloseimas. São bolachinhas, castanhas, barrinhas de cereal, balas, paçoquinhas, chocolates e até mesmo várias porções de frutas. Somando tudo isso, eles geralmente comem muito mais calorias do que se estivessem fazendo suas refeições básicas. Não têm fome para elas, mas também não conseguem rejeitar esses pequenos beliscos.


Esses pacientes sentem sempre uma necessidade imensa de comer "algo", o tempo todo. Enquanto dirigem, trabalham no computador ou assistem TV. Eles estão sempre comendo. Há sempre um alimento a ser beliscado na bolsa, na gaveta do escritório, no porta luvas do carro e seus carrinhos de supermercado são abarrotados deles.


Esses pacientes devem ser orientados no sentido de conseguirem iniciar seu dia fazendo um desjejum completo. Isso, teoricamente, poderia evitar os beliscos da manhã e fazer com que eles sintam a tão normal fome na hora do almoço.


Comportamento hiperfágico


São os pacientes famintos. Geralmente, fazem as refeições básicas e muitas delas em grandes volumes. A maioria não faz os lanches intermediários, não beliscam e são os "bons de garfo". Eles se gabam de gostar muito de comer e comerem de tudo. Mesmo assim, raramente trocam sua refeição básica por um lanche. Esses pacientes se beneficiam muito com a inclusão dos lanches intermediários na dieta, que diminuem a fome durante as refeições principais e conseguem reduzir o total calórico de seus pratos ao aumentarem o consumo de verduras e legumes.


Comportamento desorganizado


Esses pacientes simplesmente não têm um padrão alimentar. Sentem fome, mas não têm rotina. Ora eles atendem à sua fome, ora negligenciam esse sintoma e passam muito tempo sem comer. Eles simplesmente não têm uma programação alimentar e podem fazer um lanche num vendedor ambulante, quando essa situação lhes é propícia, como podem comer em um bom restaurante. Mas tanto faz... Apesar de perceberem quando um alimento é bem preparado, isso não os estimula a procurar uma forma melhor de se alimentar. Eles acham muito trabalhosos os cardápios, por mais simples que sejam. Não têm rotina alguma, nem estão dispostos a mudar seus hábitos. São tão desorganizados a ponto de passar o dia todo sem comer e, muitas vezes, não se lembram do que comeram no dia anterior, revelando o fato de não darem nenhuma importância a esse detalhe. Geralmente, comem muito à noite, mas também sem uma refeição planejada. Esse talvez seja o paciente de mais difícil tratamento, pois, raramente, conseguimos sua adesão a um plano alimentar.


Comportamento sofisticado


São pacientes que fazem todas as refeições diárias. Raramente beliscam e não fazem grandes pratos, mas não conseguem comer preparações pouco elaboradas. Sofisticam seus pratos com a adição de diferentes tipos de queijos, castanhas e nozes, cremes de leite, frutas passas, bons azeites em quantidade. Além disso, adoram serviços completos com entrada, prato principal, bons vinhos, sobremesa, café e um bom licor para arrematar. Esses pacientes não têm preguiça para programar um jantar, minuciosamente. Fazem com grande prazer e esmero. Cozinham bem ou conseguem quem o faça, mas não abrem mão da sofisticação, geralmente atreladas às calorias.


Nesses casos, precisamos convencê-los a usar ervas aromáticas e temperos como alho e cebola, reduzir a quantidade do azeite, deixar os queijos para ocasiões especiais e investir em sobremesas diet. Precisamos desafiá-los a continuar cozinhando tão bem, mas com menor teor calórico, o que para eles passa a ser estimulante e pode até dar certo.


Padrões alimentares mistos


Não raramente encontramos pacientes com comportamentos alimentares tão confusos que, muitas vezes, não sabemos categorizá-los. Além do mais, muitos não definem claramente suas formas de comer e aparentam nunca ter pensado no assunto. Simplesmente não sabem nos dizer como se alimentam. Neste grupo encontramos alguns pacientes que, à primeira vista, parecem mentir. A descrição deles não condiz com seu peso corporal. Não encontramos também em seus exames e história médica nenhuma alteração que justifique seu peso. Diante destas pessoas, estamos diante de um dilema, pois quando não encontramos o erro alimentar, não temos como corrigi-lo. Nossa grande meta, diante de queixas de aumento de peso "injustificado", é sempre tentar decifrar os hábitos alimentares dos nossos pacientes, pois só assim, poderemos encontrar uma forma possível de acolhê-los e tratá-los.

*Por Ellen Simone de Paiva, endocrinologista e diretora do Citen - Centro Integrado de terapia Nutricional.


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