Estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Columbia e da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, revelou que a cirurgia bariátrica, popularmente conhecida como redução do estômago, é mais eficaz no controle do diabetes tipo 2 do que as dietas rígidas que os pacientes são submetidos.
De acordo com o estudo, publicado na revista científica Science Translational Medicine, a intervenção cirúrgica melhorou os níveis de açúcar no sangue em 80% dos casos avaliados. "Estudos nacionais e internacionais têm comprovado que a cirurgia bariátrica não beneficia o paciente apenas na perda de peso. Ela controla com muita eficácia o diabetes tipo 2 e outras doenças relacionadas à obesidade, como a hipertensão", diz o cirurgião Roberto Rizzi, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica.
Os cientistas acompanharam dois grupos de obesos diabéticos, sendo que um seguiu uma dieta alimentar rígida e o outro foi submetido à cirurgia bariátrica, que é recomendada no tratamento da obesidade mórbida.
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Os pacientes que foram submetidos ao procedimento cirúrgico tiveram uma melhora nos níveis de açúcar no sangue antes mesmo de uma perda significativa de peso, o que sugere, de acordo com os pesquisadores, que há algum outro mecanismo bioquímico envolvido. Os pacientes que passaram pela cirurgia tinham níveis muito menores de aminoácidos ramificados, de fenilalanina e tirosina, comparado aos pacientes que seguiram a dieta.
Esses aminoácidos já foram associados à resistência à insulina e à doença arterial coronariana em estudos anteriores. Outro estudo, realizado pela Universidade de Harvard, havia revelado que os aminoácidos ramificados e os aminoácidos aromáticos, como a fenilalanina, podem servir de indicadores biológicos para o risco do desenvolvimento do diabetes tipo 2. "Muitos pacientes que são dependentes de insulina, conseguem abandonar o tratamento medicamentoso da diabetes após a cirurgia bariátrica, melhorando assim a sua qualidade de vida", afirma Rizzi.
Três tipos de cirurgia se mostram eficientes no controle do diabetes e, por isso, são conhecidas como Cirurgia do Diabetes: o by-pass gastrojejunal e as derivações bilio-pancreáticas (scopinaro e "duodenal switch"). "As três técnicas criam um atalho para o alimento, que é desviado do duodeno e chega antes à parte final do intestino. Esse desvio altera a secreção de alguns hormônios intestinais, como o GLP-1, cujo aumento estimula a produção de insulina, resultando na melhora ou até mesmo no controle do diabetes tipo 2", diz o médico.
No início do mês a Federação Internacional do Diabetes apresentou durante o II Congresso Mundial do Tratamento do Diabetes uma nova diretriz para a aplicação da cirurgia bariátrica no tratamento do diabetes tipo 2. Anteriormente indicada apenas para pacientes obesos com IMC acima de 35, o documento apresentado defende que a técnica seja liberada para pacientes com IMC entre 30 e 35 nos casos que os pacientes não tiveram respostas com o tratamento medicamentoso.
A entidade reconhece a associação entre o diabetes e a obesidade como o maior problema de saúde pública da atualidade. Atualmente 300 milhões de pessoas sofrem com o diabetes tipo 2 no mundo e a previsão é de que esse número salte para 450 milhões até 2030. "Esse é um grande avanço para controlar o número alarmante de pacientes obesos com diabetes. Diversos estudos já tinham comprovado que a cirurgia bariátrica não proporciona apenas a redução do peso, mas consegue controlar o diabetes tipo 2, devido a mudança metabólica", destaca Dr. Rizzi
O documento foi assinado por 20 especialistas em cirurgia bariátrica e salienta que pacientes obesos com diabetes tipo 2 conseguem ter melhoras substanciais nos níveis de glicose e em outras doenças, como hipertensão arterial. A nova diretriz também inclui adolescentes com 15 anos, indicando a cirurgia para pacientes com IMC entre 35 e 40 associado a outras doenças. Anteriormente a cirurgia, mesmo em caso de obesidade mórbida, só era liberada para pacientes com no mínimo 16 anos.