A Prep (Profilaxia Pré-Exposição) e a PEP (Profilaxia Pós-Exposição) são dois métodos parecidos: baseadas em antirretrovirais, elas são duas estratégias disponibilizadas gratuitamente pelo SUS (Sistema Único de Saúde) para evitar novos casos de HIV.
Leia mais:
Hospital Zona Sul de Londrina vai ter primeiro programa de residência médica
Assembleia Legislativa do Paraná aprova distribuição de medidor digital de glicose
75% dos fumantes de cigarro eletrônico sofrem de ansiedade, diz estudo
Crise climática afeta de forma desproporcional saúde de pessoas negras e indígenas no Brasil, aponta análise
No entanto, as situações em que um ou outro método é recomendado são diferentes, podendo gerar dúvidas.
Alexandre Grangeiro, ex-diretor do programa nacional de HIV/Aids e pesquisador científico da FMUSP (Faculdade de Medicina da USP), afirma que a PEP é utilizada "para complementar o uso de um outro método quando ele falha".
A mesma recomendação é feita pelo Ministério da Saúde, que informou à reportagem que a PEP "é uma medida de prevenção de urgência".
O método deve ser iniciado em até 72 horas após uma exposição de risco -por exemplo, a camisinha romper durante o sexo- e quando o usuário tem resultado negativo para teste de HIV. Por 28 dias, a pessoa fará um tratamento com antirretrovirais, sendo que deve ocorrer acompanhamento pelos agentes de saúde durante esse período.
Já a Prep é um método que evita a infecção por HIV antes do contato com o vírus. Também baseada em antirretrovirais, ela é disponibilizada em duas formas: diária, em que o usuário toma o medicamento todos os dias, e sob demanda, que consiste em tomar dois comprimidos no mínimo duas horas antes da relação sexual e outras duas pílulas dividida entre as próximas 24 e 48 horas depois da primeira ingestão.
Escolher entre um ou outro método é algo que depende principalmente da pessoa e de qual dos dois melhor se insere na sua vida, afirma Rico Vasconcelos, médico infectologista e pesquisador da FMUSP. A percepção também é válida para outras formas de prevenir a infecção, como a camisinha.
"Não importa quais são os métodos de prevenção que a pessoa vai escolher, eles só vão funcionar se ela usar direito."
No entanto, o médico afirma que também é necessário entender detalhes que indicam as probabilidades de alguém vir a se infectar pelo HIV. Por exemplo, o uso constante de preservativo e o número de parceiros sexuais são dois desses fatores.
Se uma pessoa usa a camisinha rotineiramente e tem poucos parceiros, o risco de infecção é mais baixo. Além disso, qualquer pessoa pode viver com o HIV, mas alguns grupos ainda concentram um número maior de casos, como homens que fazem sexo com outros homens e pessoas transsexuais.
A decisão de qual método adotar leva em consideração esses fatores. "De forma bem simplificada, uma pessoa que tem vida sexual ativa e que não consegue usar a camisinha em todas as suas relações do começo ao fim, é uma pessoa que minimamente tem que saber que existe PrEP e PEP", diz Vasconcelos.
Mas existem casos em que o uso da PrEP pode ser mais indicado. Um deles é quando a pessoa utiliza a PEP de forma recorrente.
"Se a pessoa estiver fazendo o uso da PEP com uma certa regularidade pode, então, com aconselhamento de saúde, considerar a possibilidade de usar a PrEP", diz Claudia Velasquez, diretora e representante do Unaids (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids) no Brasil.
Embora com uma alta taxa de eficácia quando utilizada corretamente, a PEP não tem grande predominância no Brasil, é o que avaliam os especialistas ouvidos pela pela reportagem. Segundo Vasconcelos, existe uma brincadeira de dizer que a PEP é o "patinho feio" frente a outros métodos de prevenir o HIV, como camisinha, tratamento de pessoas que vivem com o vírus e a PrEP.
Granjeiro aponta algumas razões que explicam tal cenário. Uma delas é a burocracia: para utilizar somente uma vez, é necessário ir a um serviço de saúde que conte com o medicamento, fazer um teste de HIV, esperar o resultado e, em caso negativo, só então pegar o medicamento. Ao fim dos 28 dias, o usuário ainda precisa retornar para fazer um novo exame. Se precisar utilizar novamente a PEP, todo o ritual se repete.
Toda essa dificuldade de acessar o método desestimula possíveis usuários que precisariam tomar a PEP após uma exposição de risco. "O método é altamente eficaz, mas como o uso dele é menos conveniente, as pessoas não usam, e ele tem um menor impacto do ponto de vista populacional", explica Grangeiro.
Além da burocracia, outro problema é que a dificuldade do acesso começa com a baixa disponibilidade de centros que distribuem a PEP. Em alguns estados, o cenário é mais crítico: em Alagoas, por exemplo, só existem três locais que distribuem o método, de acordo com dados do Painel PEP, do Ministério da Saúde.
Mas esse imbróglio não é restrito à PEP, já que a PrEP também ainda tem baixa disponibilização em muitas regiões do país. Para Vasconcelos, isso é um problema, já que "usar verba para educação sexual, com informação e acesso à PrEP é muito mais interessante do que garantir PEP para todo mundo".
O médico faz um paralelo com métodos contraceptivos: é muito melhor disponibilizar anticoncepcionais, DIU (dispositivo intrauterino) e estratégias de planejamento familiar do que dar prioridade à pílula do dia seguinte, por exemplo.
Em resposta à reportagem, o Ministério da Saúde cita uma nota técnica direcionada a municípios e estados a fim de cadastrar novas unidades que possam disponibilizar a PrEP e a PEP para a população. Tais locais não precisam ser serviços especializados nos atendimentos relacionados com ISTs (infecções sexualmente transmissíveis), o que pode aumentar o "número de pessoas que possam se beneficiar das profilaxias".
A pasta também diz que a prevenção combinada, que envolve diferentes métodos adotados em conjunto, é a principal estratégia recomendada para evitar novos casos de HIV, sendo a PrEP e PEP dois desses mecanismos.