O número de confirmações de infecção pela covid-19 disparou no último mês em Londrina. De acordo com o levantamento feito pela Secretaria Municipal de Saúde, enquanto que no mês de agosto foram 75 casos confirmados da doença, em setembro o número de positivados saltou para 635.
A principal explicação para o cenário é o afrouxamento dos cuidados básicos, como a higienização das mãos. Apesar do aumento, a maioria não apresenta complicações.
Danielle Ruiz Niyazawa Ferreira, médica do Núcleo de Epidemiologia do HU (Hospital Universitário) de Londrina, explica que há cerca de 45 dias o número de casos positivos da infecção viral vêm aumentando.
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Segundo ela, as positivações nunca zeraram, mas as confirmações estavam em baixos níveis se comparadas a dos períodos mais críticos da pandemia. Entretanto, os casos positivos apresentaram um aumento a partir de setembro no HU, que é o hospital de referência para a Covid-19 para toda a 17ª Regional de Saúde.
Na cidade de Londrina, nos meses de junho e julho, o número médio de confirmações ficou na casa dos 140; já em agosto caiu para 75. Por outro lado, o mês de setembro apresentou um cenário diferente, com 635 confirmações, o que representa um aumento de 846% em relação ao mês anterior.
Entre junho e setembro, foram registrados 10 óbitos de pessoas com idades, na maioria das vezes, superiores a 50 anos.
PACIENTES COM COMORBIDADES
A médica ressalta que o cenário visto dentro do hospital é de pacientes mais velhos e com comorbidades, como hipertensão, diabetes ou câncer, que já era o perfil mais afetado no auge da pandemia. Na semana passa, quando foi feita a entrevista, o 13 pacientes estão internados no hospital com a doença.
“Esses pacientes não estão aqui pela Covid-19, mas sim com Covid-19 porque são pacientes que já tinham comorbidades e então confirmaram para a infecção, mas que estão com outras complicações”, explica.
Ferreira detalha que o quadro de contaminação atual não é o mesmo do auge da pandemia, em que o acometimento do pulmão pela doença era maior, levando a grande maioria para a intubação.
“Tanto que destes 13 pacientes que estão internados hoje, apenas dois estão na UTI [Unidade de Terapia Intensiva] e o restante está na enfermaria”, ressalta, acrescentando que a maioria dos internados tem acima de 60 anos.
ABANDONO DO ESQUEMA VACINAL
Em relação ao quadro vacinal desses pacientes, a médica ressalta que alguns concluíram o esquema vacinal, mas que outros interromperam a imunização na segunda ou terceira dose. “Mas em relação à gravidade, não está mais como no início da pandemia”, afirma, ressaltando que a vacina pode estar protegendo contra novos sorotipos da doença e evitando que o cenário visto entre 2020 e 2021 se repita.
A médica pontua que a vacina foi desenvolvida para evitar formas graves e não evitar a contaminação, assim como funcionam os imunizantes contra outras doenças, como a BCG e Influenza.
“Então não é porque estão sendo confirmados casos que a gente pode falar que a vacina não está dando certo, muito pelo contrário, a gente fala que a vacina está dando certo porque as formas de internação que estamos vendo aqui [no HU] não são graves pela Covid-19, mas por outros motivos [comorbidades]”, ressalta.
DISSEMINAÇÃO DO VÍRUS
A principal justificativa para o aumento do número de confirmações, de acordo com a médica, está no afrouxamento das orientações.
Segundo ela, a vacina veio para aliviar a rigidez das medidas de segurança, como uso de máscara e aglomerações, e que cumpriu o seu objetivo de fazer com que as pessoas voltassem para uma rotina normal. Entretanto, Ferreira ressalta que orientações como a higienização das mãos com álcool, por exemplo, não são mais adotadas por muitas pessoas, o que auxilia na disseminação do vírus.
Ela ressalta que por ser um hospital, o HU permanece com todas as medidas de segurança, o que fez com que o cenário de contaminações mudasse. Antes, um dos principais - se não o principal - locais de contaminações eram os hospitais; agora, as pessoas se contaminam fora e levam a doença para dentro da instituição.
“[O aumento de casos positivos] foi por conta de um afrouxamento das medidas. Isso quer dizer que a gente tem que voltar como era antes? Não, eu não acho, já que isso seria um retrocesso, mas o que a gente não pode deixar de fazer é a higienização das mãos e a vacinação”, opina, destacando que houve uma queda brusca nos índices de vacinação após a segunda dose.
CENÁRIO NÃO É PONTO FORA DA CURVA, DIZ SECRETÁRIO
Para o secretário de Saúde de Londrina, apesar da crescente de casos da doença na cidade, o quadro atual não representa um ponto fora da curva.
“Isso é muito sazonal, o processo é muito dinâmico. É um vírus que não deixou de circular. É natural que, pelo momento que estamos vivendo, sem nenhuma restrição, isso possa favorecer a circulação um pouco maior em determinados momentos. Em um cenário em que os casos são baixos, qualquer aumento, em percentual ou números absolutos, vai ser representativo”, declarou Felippe Machado.
Ainda assim, o secretário voltou a lembrar que adesão dos moradores de Londrina à doses como a vacina bivalente contra a covid-19 segue em patamares muito baixos.
“Essa é a melhor ferramenta para enfrentar qualquer eventual aumento de casos [...] Se não tivéssemos vacina, tenho certeza que até hoje estaríamos em isolamento social, em uso de máscara, em períodos intermitentes de restringe e libera”, destacou.
De acordo com o cenário visto nos meses de setembro e outubro, a médica Danielle Ruiz Niyazawa Ferreira, do Hospital Universitário, não descarta a possibilidade de que os casos positivos aumentem ainda mais em dezembro por conta das festas de fim de ano.
“Se a gente for considerar as causas de disseminação da Covid-19, que seriam as aglomerações, pode ser que aumente mais por conta das confraternizações e viagens”, explica.
'DOENÇA NÃO ACABOU'
Entretanto, Danielle Ruiz Niyazawa Ferreira diz que, apesar das positivações, o que ninguém quer é que os casos sejam graves, o que vem sendo possível graças à vacina.
“A doença não acabou e a gente vai ter que continuar tomando algumas medidas que nunca deveriam ter sido deixadas de lado, como a higienização das mãos, o álcool e evitar de entrar em contato com alguém esteja positivado ou, se precisar, usar a máscara”, explica. Por fim, a médica também frisa que a vacinação é o ponto-chave para evitar os casos graves e, consequentemente, as mortes.
PROCURA POR TESTES EM FARMÁCIAS TAMBÉM AUMENTA
A gerente de serviços clínicos da rede de farmácias Vale Verde, Jéssica Bazana, diz ter constatado aumento tanto nas procuras por testes quanto nos casos positivos de coronavírus em Londrina.
De acordo com ela, a procura por testes e autotestes cresceu 50% em outubro quando comparado a agosto. No caso de reagentes positivos, houve crescimento de 10% em outubro em relação a setembro, mas, também, aumento de 16% em setembro quando comparado com agosto.
“As pessoas começaram a se preocupar [com a possibilidade de Covid-19] porque há outras síndromes respiratórias, como a influenza, resfriado ou mesmo pneumonia”, avalia a gerente, relatando outros problemas que têm sintomas parecidos com o do coronavírus.
A rede de farmácias trabalha com os testes no local em nove unidades, executado por farmacêuticos, e vende autotestes nas 31 unidades físicas. Quando há sorologia positiva, nos testes presenciais, a própria farmácia notifica o caso à Secretaria Municipal de Saúde. Porém, não é possível saber se há notificação pelas pessoas que optam por fazer o autoteste em casa.
“Nós damos orientação antes da venda e, também, no pós-venda, se for necessário, mas não nos procuram. Nossa orientação principal é que a pessoa procure uma unidade de saúde”, diz.
(Colaboraram Luis Fernando Wiltemburg e Lucas Marcondes).