Há um ano, não era difícil encontrar no paddock da Fórmula 1 quem apostasse que os dias de Carlos Sainz na Ferrari estavam começando já contados. O espanhol tinha sido contratado para o lugar de Sebastian Vettel e chegava em um time no qual Charles Leclerc parecia ser o líder natural e inquestionável.
Além disso, a Scuderia já tinha engatilhado seu plano de médio prazo, colocando Mick Schumacher na Haas para ganhar experiência e provar que, em um futuro próximo, o alemão poderia dar o salto e correr no time pelo qual seu pai fez história.
Se esse realmente era o plano, faltou combinar com Sainz. Entre todos os pilotos que mudaram de equipe em 2021, e não foram poucos -Perez, Vettel, Ricciardo, todos eles mais rodados que Sainz, além de Fernando Alonso, que retornava à F1 após dois anos-, o espanhol foi quem se adaptou mais rapidamente. E não parou por aí: ele terminou o campeonato em quinto lugar, 5.5 pontos à frente de Leclerc.
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Sainz é um caso raro no paddock. Como todo piloto, ele busca extrair o máximo de tudo o que faz, mas demonstra entender que é vantajoso, em igual medida, manter uma boa relação com o companheiro de equipe. Foi assim na McLaren, onde ele sempre buscou a harmonia com Lando Norris -outra cria da casa, como Leclerc-, e é assim agora.
Paralelamente, contudo, desde que assinou com a Ferrari, antes mesmo de a temporada de 2020 começar, ele se aplicou nas aulas de italiano, idioma que hoje fala fluentemente, e contou com o bom trânsito no paddock de sua "tropa de choque" -o empresário e primo, Carlos Oñoro, o treinador, Rupert Manwaring, e, é claro, o grande mentor disso tudo, seu pai, o campeão de Rali Carlos Sainz Sr.- para obter informações sobre as peculiaridades da Scuderia.
Ele chegou a Maranello preparado e afiado, e foi ao longo da temporada ocupando um espaço que Leclerc, que sempre foi um piloto marcado pelo talento natural, não tinha tanta segurança para fazer: discípulo do pai, Sainz é um grande estudioso da parte técnica e passou a ser muito bem quisto pelos engenheiros.
Na pista, ele não fez uma temporada perfeita: passou por uma sequência de acidentes no meio do ano, ora surpreendido pelo comportamento do carro, ora reconhecendo que estava forçando demais, especialmente nas classificações, para tentar superar Leclerc, que ele descreveu como o "melhor piloto do grid em uma volta lançada".
O espanhol, contudo, conseguiu superar essa fase e fez uma segunda metade da temporada forte, superando Leclerc no final. Isso, embora o monegasco tenha tido azar em duas provas: ao não poder largar tendo feito a pole em Mônaco -mesmo que isso tenha sido em decorrência de um erro seu na classificação- e ao ser atingido em um acidente na largada do GP da Hungria.
O fato é que os dois se encontraram bastante na pista ao longo do ano, e as disputas foram esquentando na segunda metade, dando uma dica do que está por vir em 2022. Talvez já prevendo que Sainz e Leclerc vão, eventualmente, entrar em rota de colisão na disputa interna, o chefe da Ferrari, Mattia Binotto, não cansa de elogiar a ética de trabalho e a habilidade de ambos os pilotos, dizendo que eles têm "a melhor dupla do grid".
O suíço também destacou a postura de Sainz. "Tudo foi feito para ajudá-lo na sua integração. E certamente ele fez muito bem a parte dele. Ele foi bem porque aprende rápido. Ele está estudando, tentando entender, e acho que a integração e desenvolvimento dele em termos de performance ao longo da temporada foram consistentes."
Em 2021, com a dupla de pilotos correspondendo, um carro com a traseira mais estável que em 2020 e um motor que recuperou boa parte da potência perdida após as investigações do final de 2019, a Ferrari pulou de sexto para terceiro no mundial de construtores e tem a chance de voltar a lutar por vitórias com o novo regulamento.
Embora, em teoria, as novas regras coloquem todos em pé de igualdade, os times que possuem maior estrutura costumam ter vantagem. Resta saber se o último passo em termos de atualização do motor antes do congelamento, que ocorre neste ano, será bom o suficiente e se a evolução constante de Sainz não acabará virando um problema interno em Maranello.
A Ferrari é uma das cinco equipes que já anunciaram quando vão lançar seus carros. O time italiano fará seu evento dia 17 de fevereiro. Já os testes da pré-temporada serão realizados em duas baterias, de 23 a 25 de fevereiro, e de 10 a 12 de março. A temporada começa logo em seguida, com o GP do Bahrein abrindo o campeonato em 20 de março.