Primeiro mesatenista brasileiro a chegar nas quartas de final das Olimpíadas, o carioca Hugo Calderano, 25, não resistiu ao alemão Dimitrij Ovtcharov, 32, e foi eliminado na manhã desta quarta-feira (28).
Calderano perdeu, de virada, por 4 sets a 2 (11/7, 11/5, 8/11, 7/11, 8/11 e 2/11), no Ginásio Metropolitano de Tóquio.
A partida começou bem equilibrada, com o alemão vencendo os dois primeiros pontos e, em momento tenso do jogo, Calderano tirou uma chiquita da cartola para passar à frente, 5 a 4. Na segunda parcial, o brasileiro emplacou dois pontos no saque e liderou a contagem desde o início.
Com jogo bem agressivo, o carioca chegou a fazer 8 a 4 na terceira parcial, mas tomou uma dolorida virada: 11 a 8 para Ovtcharov. Calderano sentiu o golpe.
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Na terceira parcial, ficou três vezes na rede e viu o alemão empatar a partida. No quarto set, o brasileiro chegou a fazer 7 a 1 e sofreu novamente com a reação do alemão, que fechou por 11 a 8.
"Não consegui manter a regularidade, o mesmo nível que comecei. Ele se adaptou ao meu jogo, e eu não consegui achar o nível mais alto. Depois do terceiro set, meu nível baixou. Dói, sim, a derrota dessa forma [de virada]", lamentou Calderano, que voltará a jogar em Tóquio na competição por equipes, no próximo domingo (1º).
Hugo deixou o ginásio visivelmente chateado. Atual número sete do mundo, ele superou a sua própria campanha nas Olimpíadas do Rio-2016 e a de Hugo Hoyama em Atlanta-1996 -ambos caíram nas oitavas de final.
O tênis de mesa entrou para a programação das Olimpíadas desde Seul-1988.
Cabeça de chave número quatro em Tóquio, Hugo Calderano estreou já na terceira rodada, e com vitória de 4 a 1 sobre Bojan Tokic, da Eslovênia, com parciais de 13/11, 11/7, 7/11, 11/9 e 12/10.
Nas oitavas de final, o brasileiro despachou Jang Woo-jin, da Coreia do Sul, por 4 sets a 3, parciais de (11/7, 9/11, 6/11, 11/9, 4/11, 11/5 e 11/6).
A classificação às quartas já havia sido enaltecida como um feito inédito para a modalidade no Brasil. Mas havia grande expectativa sobre o brasileiro contra o alemão, que já chegou ao topo do ranking mundial e, atualmente, é o número 12.
O carioca vive ótima fase e, em entrevista após a partida, afirmou que o sonho pela medalha ainda está vivo.
"Tenho certeza que vou continuar evoluindo e voltar aos Jogos ainda melhor", falou Calderano. "Eu tenho muitos anos pela frente, outras Olimpíadas também, e vou dar o meu máximo sempre."
Antes de pegar gosto pela raquete, Calderano chegou a jogar vôlei, chegou até a seleção carioca de base e também mirou o atletismo -chegou a correr ao lado de Vitor Hugo dos Santos, velocista que representou o Brasil na Rio-2016.
O mesatenista tem a vocação pelo esporte no DNA. É filho de Elisa e Marinho, que se conheceram na faculdade de educação física e se casaram. O avô materno, Antônio, também foi professor da mesma disciplina.
Aliás, seu Antônio, na época com 71 anos, foi um dos voluntários em evento-teste do tênis de mesa para os Jogos do Rio-2016. Quando Hugo, aos 14 anos, recebeu convite do São Caetano e deixou o Rio de Janeiro, Antônio acompanhou o mesatenista em seu processo de adaptação na cidade do ABC.
Apesar da carreira consolidada no tênis de mesa, Calderano entende que navegar por outras modalidades, como o basquete -algo que tem praticado com frequência- o ajuda no seu desempenho.
Faz parte desse processo de evolução exercitar também a mente. Um dos exercícios que faz frequentemente é tirar um dos seus mais de 70 cubos mágicos de diferentes cores e tamanhos da estante para praticar.
"Eu preciso disso, é da minha personalidade. Se eu não jogar o meu basquete, a rotina diária de treinos vai me cansar física e mentalmente", falou Calderano.
Calderano está desde 2004 na Alemanha, onde defendia o Ochsenhause. Depois das Olimpíadas em Tóquio, ele irá se apresentar ao time russo Fakel Gazprom Orenburg, cinco vezes campeão europeu.
Ao longo do último ciclo olímpico, apesar de todos os problemas por conta da pandemia de Covid-19, o atleta pôde entregar bons resultados, entre eles a segunda medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos, em Lima, e um título da Liga Alemã.