Em um discurso de aproximadamente dez minutos no plenário da Câmara dos Deputados, o vice-presidente da Casa, André Vargas (PT-PR), admitiu que cometeu um "equívoco" ao utilizar uma aeronave emprestada pelo doleiro Alberto Yousseff, alvo da Operação Lava Jato, da Polícia Federal.
Alegando que homem público tem obrigação de "dar justificativa" à sociedade e que a melhor estratégia não é o ataque, mas sim a defesa, o petista disse que foi "imprudente". "Em relação ao avião, eu reconheço: fui imprudente, foi um equívoco. Deveria ter exigido contrato, deveria ter quitado, não deveria ter exposto minha família. É o que me machuca nessa hora", declarou.
O deputado disse que conheceu Yousseff há 20 anos em Londrina e que o doleiro é proprietário do maior hotel de sua cidade. "Não conhecia até duas semanas o motivo pelo qual ele estava sendo investigado", afirmou. Vargas disse que só procurou Yousseff porque ele também era dono de um hangar na cidade e que poderia ajudá-lo a encontrar um avião para sua viagem de fim de ano.
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O petista negou que tenha ido ao Ministério da Saúde para discutir interesses do empresário de sua cidade, apesar de recebê-lo em seu gabinete e de apenas dar orientações. O deputado reclamou sofrer "interpretações errôneas" por suas relações pessoais. "Tenho orgulho de fazer política no Brasil, apesar das mazelas, do nível de exposição, de interpretações errôneas que somos submetidos muitas vezes por aspectos que não estão regulamentados das nossas relações, seja com prefeitos, empresários, sindicatos, ou demandas que acontecem e movimentam a nossa nação", disse.
Reportagem do jornal Folha de S. Paulo revelou que no início do ano André Vargas pegou emprestado o avião de Yousseff para viajar de Londrina a João Pessoa (PB) em suas férias. O doleiro está preso por envolvimento em um esquema de lavagem de dinheiro que teria movimentado R$ 10 bilhões.
"Se equívoco cometi, foi por iniciar uma relação de 20 anos de uma pessoa na minha cidade, que trabalhava até então com tranquilidade na minha cidade, e que fui surpreendido com as notícias e investigações", finalizou.
Ao final do discurso, o deputado paranaense foi ironizado pelo colega de Casa Jair Bolsonaro (PP-RJ). O parlamentar estendeu o punho ao alto, em referência ao gesto feito por Vargas para protestar contra a prisão dos condenados no Mensalão. O ato do petista foi em uma visita do ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa à Câmara.