Curitiba - O anúncio da pré-candidatura presidencial do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), na semana passada, mostrou que o ex-presidente Jair Bolsonaro, mesmo preso, terá papel fundamental na definição do tabuleiro eleitoral em 2026. Por mais que o anúncio tenha sido visto como uma tentativa de pautar no Congresso Nacional o debate sobre a anistia aos condenados por tentativa de golpe de Estado, a palavra do ex-presidente deverá pesar na definição do candidato da direita no próximo ano.
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Flávio Bolsonaro tem garantido que concorrerá à Presidência, mas o próprio senador chegou a declarar que a possível candidatura tinha um “preço” – que poderia ser a aprovação da anistia pelo Congresso. A anistia não veio, mas a aprovação do projeto da dosimetria, na semana passada, foi vista como uma resposta do centrão, que estaria pronto para apostar suas fichas na candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Para o cientista político Rafael Perich, a pauta pela anistia tende a engessar a definição do candidato da direita – e a pré-candidatura de Flávio Bolsonaro seria mais um movimento nesse jogo. “Foi justamente para forçar essa negociação que Bolsonaro colocou Flávio como candidato, uma forma de pressionar o centrão a entregar a anistia. Enquanto isso, ele evita indicar um nome fora da família, porque isso seria admitir que ele perdeu. Nem Michelle Bolsonaro nem Tarcísio terão a bênção direta agora, pois a luta ainda é sobre anistia e não sobre eleição. O futuro do país pouco importa para o clã bolsonarista se o pai estiver preso.”
O peso de Bolsonaro na definição do candidato da direita tem levado não só Tarcísio, mas também os governadores Ratinho Junior (PSD-PR), Romeu Zema (Novo-MG) e Ronaldo Caiado (União-GO) a apoiarem incondicionalmente o ex-presidente. “Essas candidaturas possíveis da direita terão que conquistar o bolsonarismo, se alinhando ao programa defendido pelo Bolsonaro”, diz o cientista político e professor universitário Doacir Quatros. “A prisão de Bolsonaro sela aquilo que já estava previsto, a necessidade da reorganização da direita. Agora, é esperar para ver como que se dará essa articulação dos candidatos na tentativa de conquistar o eleitor bolsonarista.
FATOR CIRO GOMES
A exemplo de 2018, a possível presença de Ciro Gomes (PSDB-CE) poderá ajudar a levar a disputa presidencial de 2026 para o segundo turno. Apesar da queda registrada de 2018 para 2022 (quando terminou o primeiro turno com 3%, depois de ter atingido a marca de 12,4% quatro anos antes), o ex-governador do Ceará e ex-ministro é visto como um adversário de peso. De volta ao PSDB e aliado a setores do bolsonarismo no Ceará, voltará com mais força para tirar votos da direita, avaliam os analistas.
“Ciro Gomes não representa um perigo real para Lula, pois nem quando ele estava no PDT e na esquerda ele representou um grande problema. Agora, mais ligado ao PL e ao bolsonarismo, contendo a ala do PDT no Ceará e o próprio PDT nacional, faz com que a entrada dele na esquerda seja ainda menor”, afirma Rafael Perich.
A queda de percentual entre as votações de 2018 e 2022 seriam uma mostra de que o eleitor de Ciro Gomes não é estável – em 2018, muitos eleitores anti-bolsonaristas votaram em Ciro, então no PDT, por acharem que ele teria mais chances de derrotar Jair Bolsonaro no segundo turno do que Fernando Haddad (PT). “O eleitorado do Ciro Gomes é de centro-direita, não tiraria votos necessariamente do Lula. As intenções de voto que as pesquisas mostram hoje indicam um percentual em torno de 10%, mas não me parece ser um eleitor estável”, diz Doacir Quadros.
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