O papa Francisco está com pneumonia bilateral (infecção que atinge os dois pulmões), de acordo com o Vaticano em boletim divulgado nesta terça-feira (18), o quinto dia de internação do argentino. Apesar de sua infecção respiratória "continuar a apresentar um quadro complexo", a Santa Sé diz que o pontífice está bem disposto.
Mais cedo o Vaticano havia afirmado que o papa não participará dos eventos da Igreja Católica no fim de semana. "Devido ao estado de saúde do Santo Padre, a audiência jubilar de sábado, 22 de fevereiro, está cancelada", anunciou a Santa Sé em um comunicado. Uma missa papal agendada para domingo (23) ainda ocorrerá, diz a nota, mas será liderada por um alto funcionário do Vaticano.
Segundo Evaldo Stanislau de Araújo, infectologista do Hospital das Clínicas de São Paulo, a pneumonia bilateral, ou broncopneumonia, é um quadro inflamatório dos pulmões que pode ter como causa um agente infeccioso ou não. A doença desenvolvida pelo papa é comum e ocorre principalmente em pacientes com menos defesas, como aqueles na faixa etária do pontífice.
"É um quadro de gravidade. Dependendo do patógeno, do microorganismo que causa e da reserva corpórea do paciente, é sempre mais grave", afirmou Araújo. "Pelo histórico e pelo que tem sido homeopaticamente informado, me parece um quadro que vem evoluindo de uma maneira não satisfatória."
Apesar disso, o papa trabalhou nesta terça, quando aceitou a renúncia do bispo canadense Jean-Pierre Blais, 75, da diocese do Québec, nomeando o reverendo Pierre Charland como substituto. Segundo a diocese, a desistência não está ligada a acusações de agressão sexual contra o religioso canadense, que as nega. O direito canônico determina que os bispos devem obrigatoriamente apresentar sua renúncia aos 75 anos. A saída do cargo só se dá com o aval do papa, que pode optar por manter o bispo na posição.
Anteriormente, o Vaticano já havia cancelado a presença do pontífice na audiência semanal na praça São Pedro, marcada para esta quarta-feira (19), e uma visita aos famosos estúdios de cinema de Cinecittà, em Roma, que estava agendada para a segunda-feira (17).
O pontífice de 88 anos sofre de bronquite há mais de uma semana e foi internado na última sexta-feira (14) no hospital Policlínico Agostino Gemelli, em Roma. Na ocasião, os médicos recomendaram repouso absoluto, o que impediu Francisco de realizar sua oração dominical para os peregrinos na praça São Pedro e de liderar uma missa especial para marcar o Jubileu da Igreja Católica, comemorado a cada 25 anos.
Na segunda, o Vaticano afirmou que o quadro clínico de Francisco era complexo e envolvia uma infecção polimicrobiana -ou seja, por mais de um microrganismo, como bactérias, vírus ou fungos- das vias respiratórias, o que exigiu mudança no tratamento e "hospitalização adequada".
Horas depois, a Santa Sé informou que o papa estava estável. "O Santo Padre continua apirético [sem febre] e prossegue com a terapia prescrita. Sua condição clínica é estável. Nesta manhã, ele recebeu a Eucaristia [hóstia consagrada] e depois se dedicou a algumas atividades de trabalho e à leitura de textos", dizia a nota da noite desta segunda.
"O papa Francisco está comovido com as numerosas mensagens de afeto e proximidade que continua recebendo; em particular, deseja agradecer àqueles que estão atualmente hospitalizados, pelo carinho e amor que expressam", afirma nota divulgada pelo Vatican News, serviço prestado pelo Dicastério para a Comunicação da Santa Sé.
De acordo com a agência de notícias italiana Ansa, o pontífice passou uma noite tranquila e manteve seus hábitos. Durante a noite, por exemplo, ele teria ligado para uma paróquia católica na Faixa de Gaza, algo que vem fazendo diariamente nos últimos meses devido à guerra entre Israel e Hamas no território palestino.
Antes de ser internado, o líder religioso pediu ajuda para ler discursos duas vezes em uma semana. Na primeira ocasião, na missa de domingo do dia 9, o pontífice não conseguiu ler sua homilia devido a "dificuldades para respirar".
Três dias depois, ele voltou a fazer o pedido durante sua audiência semanal no Vaticano. "Deixe-me pedir ao padre que continue lendo porque ainda não posso com minha bronquite. Espero que da próxima vez eu possa", disse ele, que teve uma parte de um dos pulmões removida quando era jovem.
O jesuíta, eleito papa em 2013, sofreu com vários problemas de saúde nos últimos anos, incluindo dores nos joelhos e quadris, inflamação do cólon e uma operação de hérnia. Apesar disso, o argentino manteve um ritmo acelerado no Vaticano.
A atual hospitalização do papa é a quarta em menos de quatro anos e reacendeu o debate sobre sua saúde. Francisco foi hospitalizado durante três dias em 2023 devido a uma bronquite, tratada com antibióticos. Ele ainda sofreu duas quedas recentemente, machucando o queixo em dezembro e o braço em janeiro.
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Entenda o que é uma infecção polimicrobiana, condição que afeta o papa Francisco
Internado há quatro dias em um hospital em Roma, o papa Francisco, 88, trata uma infecção polimicrobiana nas vias respiratórias, segundo afirmou o Vaticano nesta segunda-feira (17).