Os Estados Unidos já impõem tarifas comerciais sobre a maioria dos principais itens brasileiros exportados ao país. O Brasil, por sua vez, adota certa reciprocidade e cobra impostos bastante semelhantes sobre os bens americanos.
Levantamento feito pela Folha de S.Paulo mostra que, na lista dos dez produtos mais vendidos pelo Brasil para os EUA, seis têm tarifas comerciais em vigor. Elas variam de 3,6% em ferro fundido bruto não ligado até 11% para carnes desossadas de bovinos.
O café, terceiro entre os produtos mais exportados para os americanos, tem uma tarifa de 9%. No caso de petróleo, de aviões e combustível, não há tarifa para as vendas brasileiras.
Nesta segunda-feira (17) o presidente dos EUA, Donald Trump, voltou a falar sobre as tarifas impostas pelo país. Em sua conta no X (ex-Twitter), o chefe do Executivo americano disse que os EUA foram tratados de maneira injusta por países amigos e inimigos.
Trump afirmou que o governo americano tomará providências para lidar com tarifas e barreiras comerciais impostas por outros países. "Se um país achar que os EUA estariam cobrando uma tarifa muito alta, tudo o que precisam fazer é reduzir ou extinguir a tarifa contra nós. Não há tarifas se você fabricar ou construir seu produto nos Estados Unidos", disse.
O presidente americano anunciou na quinta-feira (13) medidas para implementar tarifas retaliatórias, equiparando taxas praticadas por outras ações. A análise, segundo autoridades americanas, será feita "país por país".
Trump afirma que o objetivo é combater barreiras comerciais que dificultam a entrada de produtos americanos em outros países, para tentar reduzir o déficit comercial de bens dos EUA, que ultrapassou US$ 1,2 trilhão no ano passado.
O republicano ordenou que o Departamento de Comércio e o Escritório do Representante de Comércio dos EUA, em consulta com o Departamento do Tesouro e o Departamento de Segurança Interna, recalculassem as tarifas de importação dos EUA para cada país, produto por produto.
No caso brasileiro, em 2023, a balança comercial foi favorável aos Estados Unidos. As exportações do Brasil ao mercado americano somaram US$ 36,9 bilhões (R$ 213,4 bilhões), e as importações, US$ 38 bilhões (R$ 219,8 bilhões).
Entre os dez principais produtos que o Brasil importa dos EUA, há tarifa de importação de 20% em dois insumos plásticos produzidos pela indústria química. A tarifa americana nesses casos é de 6,5%, mas praticamente não há exportação brasileira para o país.
Nos outros oito casos, a tarifa brasileira é zero, enquanto nos EUA elas vão de 3,8% a valores fixos por barril de petróleo.
"No fundo, os EUA quer jogar para a opinião pública, dizendo que o produto deles é muito tributado. O objetivo é mais político do que econômico ou comercial", avaliou o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil, José Augusto de Castro.
"Os EUA fazem isso porque têm déficit comercial, mas isso é compensado em parte por superávit na balança de serviços. Déficit comercial de bens significa que você está importando desemprego e é esse tipo de questão que o Trump quer solucionar", acrescentou.
Segundo dados da Amcham (Câmara Americana de Comércio para o Brasil) mais de 48% das exportações americanas para o Brasil entram sem tarifas, e outros 15% estão sujeitos a alíquotas de no máximo 2%. De acordo com a entidade, embora a tarifa média nominal brasileira para o mundo seja de 12,4%, a tarifa média efetiva ponderada sobre as importações dos EUA é de 2,7%.
"Essa diferença ocorre devido à alta participação de produtos americanos com alíquota zero nas importações brasileiras, como aeronaves e suas partes, petróleo bruto e gás natural, além do uso de regimes aduaneiros especiais -como drawback, ex-tarifário e Recof- que reduzem ou eliminam impostos sobre importações dos Estados Unidos", diz a entidade.
Segundo a Amcham, a partir de estatísticas americanas, entre 2014 e 2023, os EUA acumularam um superávit de US$ 263,1 bilhões no comércio de bens e serviços com o Brasil. Apenas em 2024, o saldo positivo em bens para os americanos foi de US$ 7,3 bilhões, o sétimo maior entre seus parceiros comerciais.
O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) disse na quinta que, no comércio exterior, "a reciprocidade não é alíquota igual". "Onde é mais competitivo vende mais, onde não é, compra mais", afirmou.
O café é um exemplo. O Brasil exportou US$ 1,9 bilhão para os Estados Unidos em 2024. A importação foi zero. Nesse caso, elevar a tarifa teria um efeito inócuo (na prática, já há equiparação dos impostos cobrados, ambos em 9%)
"Estamos falando tem 48 horas, são temas que surgiram [nesse período]. Estamos levantando todos os dados para iniciar o diálogo [com os EUA]", acrescentou Alckmin.
Também na quinta, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defendeu o princípio da reciprocidade na relação comercial entre os dois países.
Para o chefe da equipe econômica, o país não tem o que temer porque a balança é superavitária para os Estados Unidos. Ele disse também que prefere aguardar o desenrolar dos acontecimentos antes de reagir aos anúncios, mas vê espaço para negociação.
"Vamos com cautela avaliar o conjunto das medidas que vão ser anunciadas. Enquanto isso, a área econômica, sobretudo o Ministério do Desenvolvimento, capitaneado pelo vice-presidente [Geraldo Alckmin], está fazendo um balanço das nossas relações comerciais para que a reciprocidade seja um princípio a ser observado pelos dois países", disse Haddad.
"Não vamos a qualquer sinalização nos manifestar, até porque temos que ver como é que termina essa história. A partir do momento em que nós tivermos um balanço do que eles pretendem, aí sim nós vamos estar com a radiografia feita e vamos considerar."
Além da reciprocidade, outro ponto de preocupação é a tarifa de 25% sobre o aço e alumínio. Nesse caso, a possibilidade é a adoção de cotas de importação, como foi feito no primeiro mandato do presidente do americano.

Polícia Federal autoriza concurso com mil vagas para carreira policial
A PF (Polícia Federal) autorizou a realização de concurso público para mil novas vagas na área policial. A medida está publicada no DOU (Diário Oficial da União) desta sexta-feira (14).