Agosto de 1929. Quando uma caravana de algumas dezenas de homens, chefiada por uma quase garoto de 20 anos, o paulistano de origem britânica, George Craig Smith, aportou exausta após 22 quilômetros de caminhada desde a barranca do Rio Tibagi, Londrina não era ainda nem mesmo uma clareira suficiente para abrigar um pequeno acampamento.
Machados e foices calejaram muitas mãos até que a selva desse lugar a um assentamento com casas rústicas onde hoje é a mata que ladeia o Boulevard Shopping, o embrião de uma das mais bem sucedidas cidades brasileiras criadas no século XX.
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O Patrimônio Três Bocas claudicou nos primeiros tempos, sob más energias que vinham de longe. Primeiro, o chamado crash da Bolsa de Nova Iorque, o estopim da primeira grande crise econômica global, e depois a turbulência política que obliterou a República Velha, com o golpe de 1930 e as incertezas de uma nova forma de autoritarismo que marcaram a ascensão de Getúlio Vargas como principal líder nacional.
Como conta o jornalista e pesquisador Wilhan Santin, foi num jantar em Ourinhos que o nome Londrina surgiu. Era 1932 e a sugestão feita por um dos diretores da Companhia de Terras, o paulista de Rio Claro, João Domingues Sampaio, agradou e prevaleceu. A Filha de Londres entraria no mapa do Paraná oficialmente em 10 de dezembro de 1934. Cinco anos depois, a antiga clareia disputada por corpos cansados já se orgulhava de ser uma comunidade com autonomia política.
Que Londrina superou as desconfianças, ganhou fama e virou a Capital Mundial do Café, todo mundo já sabe. Mas afinal como foram os passos decisivos desta jornada vertiginosa de quase um século? Como foi montado este gigantesco tabuleiro de ruas, avenidas, áreas verdes, casas, prédios e grandes estruturas que ocupam cerca de 20 mil hectares em 2025?
A seguir, os principais marcos desta ocupação.
PLANTA REDUZIDA DE RASGULAEFF (1932)
O agrimensor geodesista russo Alexandre Rasgulaeff foi um dos integrantes da Caravana de 1929. Funcionário da Companhia de Terras incumbido de chefiar os estudos para a formação das cidades no projeto de colonização, ele desenhou o traçado de ruas que iriam guiar a ocupação da urbe madrinha da colonização. Em depoimento ao Museu Histórico, lamentou que a primeira tentativa foi reprovada pela companhia por ser muito ambiciosa. O projeto mais modesto foi implementado e influenciou as linhas da área central até hoje. No formato de um tabuleiro de xadrez, com dois quilômetros de extensão nos dois sentidos - norte ao sul e leste a oeste - e uma elipse central em torno da Catedral. A ideia era abrigar cerca de 30 mil habitantes nas ruas localizadas em um quase quadrado, hoje delimitado pela Rua Benjamin Constant, pela Avenida Leste-Oeste, pela Avenida Jorge Casoni, pela Rua Goiás, pela Rua Uruguai, pela Rua Alagoas e pela Avenida Higienópolis.
LEI DE PROTEÇÃO AOS FUNDOS DE VALE (1951)
O urbanista paulista Francisco Prestes Maia ganhou fama por ser um dos autores do Plano de Avenidas de São Paulo (1930), considerado um marco do planejamento urbano do País. Entre seus dois mandatos como prefeito da capital paulista (1938-1945) e (1961-1965), ele percorreu o Brasil assessorando projetos de modernização urbana. Em Londrina, ele elaborou um estudo completo para garantir um crescimento ordenado da sede do município a pedido do prefeito Hugo Cabral. O estudo foi base para a primeira Lei de Zoneamento, chamada de Lei 133. A nova legislação foi então defendida com veemência pelo prefeito seguinte, Milton Menezes, e também pelo seu autor como passo importante na modernização de Londrina. O documento técnico e a defesa da sua essência pelos gestores públicos são considerados legados para o bem estar da população e pela beleza da paisagem. O principal destaque é a firme proteção dos fundos de vale contida na lei e nas suas sucessoras. Os cinturões verdes que se espalham pelos vales em torno dos seus muitos cursos de água se tornaram um exemplo de planejamento contra enchentes e símbolo de qualidade de vida urbana.
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