Quem passa pela rua Mário Bonalume, no Jardim do Leste, nem imagina que as duas casas construídas na esquina com a rua Nello Thomaz Lainetti têm uma história de quase sete décadas. São um símbolo das propriedades cafeeiras da zona leste de Londrina e um recorte importante da imigração japonesa. Mas tudo isso está esquecido em meio ao lixo e ao mato que cresce no terreno, abandonado há mais de dez anos e sem nenhuma perspectiva de uso pelo poder público.
Essas residências não são casos isolados do abandono. Há outros imóveis que hoje pertencem ao município e estão completamente esquecidos, como o antigo Centro de Ginástica Artística Alceu Malucelli, na região central. Por um lado, há desinteresse das pastas municipais em desenvolver políticas públicas nesses locais; por outro, faltam recursos para revitalizá-los. Um levantamento feito pela Prefeitura de Londrina identificou pelo menos 134 imóveis públicos e privados em estado de abandono e que oferecem riscos à segurança da população.
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Com uma área de mais de 5,8 mil metros quadrados, o imóvel da rua Mário Bonalume abrigou a Casa da Mulher, onde a Prefeitura de Londrina oferecia apoio e capacitação profissional às londrinenses. Foi nesse período, há quase 15 anos, que o local fechou as portas e deixou de ser utilizado. O portão foi furtado e o mato e o lixo se espalharam. As casas estão lacradas, depredadas e cheias de entulho. Segundo moradores ouvidos pela FOLHA, o imóvel tem sido utilizado por pessoas em situação de rua e usuários de drogas.
Quem enfrenta diariamente as dificuldades de morar ao lado de um imóvel abandonado é o servidor aposentado José Aparecido Martins Sola, 68, que se mudou para a região em 2000.
“Era um ambiente gostoso, o pessoal frequentava, eram feitos cursos. Era bem legal, mas agora está tudo abandonado. Aqui vem morador de rua dormir todos os dias, usuários de drogas… eles queimam fios para depois vender. E isso assusta, porque temos um colégio do lado, uma praça do outro, as crianças vêm brincar”, conta o morador, que questiona o fato de a Prefeitura não ter nem reposto o portão furtado. “Pelo menos, fica mais difícil para as pessoas entrarem.”
Ele lembra que o espaço já foi utilizado para o plantio de ervas medicinais e pertenceu a uma família de imigrantes japoneses. E isso se confirma em documentos obtidos pela reportagem.
Em 2016, o Ippul (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina) vistoriou as casas a pedido da Secretaria da Mulher, que tinha interesse em sua reforma. Segundo o Ippul, uma casa foi construída em 1956 e outra na década de 1960. O Instituto fez visitas e as estruturas não foram consideradas condenadas. O que se reforçou à época foi a importância histórica das construções e possibilidade de reforma.
Cinco anos depois, o Instituto voltou a frisar que as casas representam as antigas sedes das propriedades cafeeiras da zona leste de Londrina. Apesar disso, o local não está incluído no inventário nem protegido por tombamento.
“Inclusive, vemos importância no conjunto das duas casas (não apenas da mais antiga), que representam a sede da propriedade rural e a casa do primeiro filho após o casamento, construída na mesma propriedade, representativa de costume da época”, afirma o Ippul em um documento de 2021, que defende que cabe ao município preservar "bens que contribuam para a memória da cidade".
De lá para cá, pouca coisa mudou. Em 2023, a Secretaria Municipal de Educação manifestou interesse no espaço, pretendendo instalar uma creche na rua Mário Bonalume - desejo que durou pouco tempo. No ano seguinte, as casas voltaram para a DGBM (Diretoria de Gestão de Bens Municipais) e, atualmente, não há nenhuma destinação definida.
“Ninguém quer assumir isso aqui. Olha o espaço que tem. Quer manter as casas? Mantenha. Mas dá para construir outras casas enormes, talvez até um prédio, uma creche, qualquer coisa. Hoje, vemos que, por parte da Prefeitura, não há um interesse”, reforçou Sola, que entende que há risco para a segurança da vizinhança. “Ficamos frustrados com o descaso.”
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