Para alegria de uns e tristeza de outros, a hora de tirar o casaco e a touca do armário chegou. Com 4,6°, Londrina registrou nesta quinta-feira (29) o dia mais frio do ano até agora. De acordo com o IDR-PR (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná), a temperatura foi registrada pouco antes das 7h da manhã, quando a sensação térmica chegou a ficar próxima dos 3°.
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Agrometeorologista do IDR-PR, Heverly Moraes explica que a temperatura vai caindo durante a noite e a madrugada, sendo que as mínimas sempre costumam ser registradas pouco antes do nascer do sol. Acompanhando as mínimas, a sensação térmica também foi lá para baixo nesta quinta-feira, com Londrina marcando 3°.
A especialista detalha que a sensação térmica representa a temperatura que as pessoas sentem ‘na pele’, o que envolve, além do frio, a velocidade do vento. “É o vento gelado que dá essa sensação na gente de que está mais frio do que realmente está”, explica.
Apesar da friaca pela manhã, ela garante que a temperatura vai subir ao longo dia, mas que não deve passar de 15° durante a tarde. Com o pôr do sol, que deve acontecer perto das 17h50, as temperaturas voltam a despencar. Com isso, a sexta-feira (30) também vai amanhecer gelada e com mínimas entre 4° e 5°.
A partir de sábado, as mínimas já começam a subir nos termômetros, com previsão de 8° no início da manhã, cenário que se repete nos dias seguintes, com aumento gradual das temperaturas.
Essa é a primeira onda de frio do ano, que começou com a chegada de uma massa de ar frio na quarta-feira (28), que trouxe chuva, e que deu lugar a uma intensa massa de ar polar em toda a região sul do Brasil.
Com a chegada do mês de junho, a agrometeorologista adianta que outras ondas de frio devem chegar em Londrina, fazendo com que as temperaturas caiam novamente. Apesar de costumeiro nessa época do ano, muita gente ainda é pega de surpresa com o frio. “Como é o primeiro frio do ano, ainda é novidade”, comenta. Ela também alerta que o frio intenso costuma aparecer, historicamente, entre 15 de junho e 15 de julho.
Em 2024, Moraes explica que o inverno foi anormal, já que as temperaturas não caíram muito, com poucos dias mais gelados. Para este ano, segundo ela, a expectativa é de uma estação dentro do habitual, com as tradicionais ondas de frio, com manhãs bem geladas e tardes mais amenas.
Apesar disso, ela também pontua que são comuns os chamados ‘veranicos’, que são ondas de calor durante o inverno, seguidas de quedas nas temperaturas.
A principal recomendação, segundo a especialista, é beber bastante água para manter o corpo hidratado, além de evitar, quando possível, as aglomerações, já que as doenças respiratórias ganham força na estação mais fria.
Na beira do lago
No Lago Igapó, o frio não impediu que Paulo Yamagute, 52, consultor de uma empresa de tecnologia, corresse os costumeiros 10 quilômetros de toda a manhã. Ele garante que só não vai para a beira do lago quando a chuva dá as caras, mas que nem a garoa atrapalha. “Não tem tempo ruim”, afirma.
Para ele, as temperaturas mais elevadas desgastam mais o corpo do que os dias mais frios, em que um bom agasalho ajuda a manter o corpo aquecido. “Eu estou bem agasalho e protegido, então depois de umas voltas aqui no lago a gente já consegue retirar”, aponta. Ao retornar para casa, ele diz se sentir muito melhor e mais disposto para as atividades do dia a dia.
Para ele, uma das motivações para levantar da cama e praticar alguma atividade física é o amor pela fotografia. Jornalista de formação, ele conta que todos os dias faz um registro do Lago Igapó para postar nas redes sociais como a ‘foto do dia’. No fone, uma música boa ou um audiolivro também ajudam a manter o foco.
Para a shitzu Lola, o frio também não impediu que ela saísse para o passeio matinal de todos os dias. Marlene Assis, 65, conta que a cadelinha gosta de correr no entorno do lago, atividade que não dá para deixar de lado. “Deu o horário, ela tem que sair para passear”, admite.
Para ela, uma temperatura moderada é a pedida certa, já que o frio e calor em excesso acabam atrapalhando. A solução é procurar pelos trechos de sol e fugir da sombra das árvores.
Os amigos Edmilson Santos Assunção, 69, e Helemilton Oliveira, 68, se encontram todos os dias, às 8h, para caminhar no Lago Igapó II. Oliveira afirma que ter um amigo para compartilhar a caminhada ajuda a motivar, já que eles têm uma espécie de ‘compromisso informal’ que fazem questão de cumprir todos os dias.
Assunção, como um bom baiano, admite que não gosta do frio, mas que tem o hábito de caminhar por conta da saúde, já que manter o corpo em movimento é fundamental para uma vida longa. “Então mesmo com o frio a gente vem, ontem só não viemos por conta da chuva, mas chegamos a ameaçar vir”, conta. Por dia, a dupla caminha cerca de 10 quilômetros, de segunda a sexta-feira, o que, em um ano, daria para ir até Brasília e voltar.
Por conta do frio, o aposentado disse que o movimento de pessoas pelo lago está muito menor do que nos dias mais quentes: “mas a gente mantém a palavra, a vontade e a disciplina”.
Na feira da região central
O vento frio na manhã desta quinta-feira fez com que o movimento na feira da Avenida São Paulo, entre as ruas Goiás e Alagoas, ficasse muito abaixo do comum. Angélica Utiyama, 35, é feirante e chegou por volta das 4h para montar a barraca de frutas e legumes. Ela contou que muitos colegas não apareceram por conta do frio, assim como os fregueses. “Está bem fraco. Pelo menos umas 10 vezes mais fraco que na semana passada”, lamenta. Em dias de clima ameno, o movimento forte começa já às 6h da manhã; nesta quinta, poucos clientes tinham aparecido até às 9h.
O tradicional vai e vem das feiras, com fregueses carregados de sacolas com as mais variadas frutas, verduras e legumes, passou bem longe da Avenida São Paulo. Entre os corajosos que enfrentaram o frio, o assunto era o mesmo. “No frio você fica encolhida, não tem disposição para sair de casa. Eu gosto é do calor”, afirma a aposentada Dalva Galdino Freires, 72.
De touca e com duas blusas, a feirante Marilda Ortega, 59, estava encolhida atrás de sua barraca de cafés. Ela admite gostar do clima mais frio, mas lamentou o movimento fraco de clientes no início da manhã: “a nossa expectativa é que eles venham um pouquinho mais tarde”.
No Calçadão
Na manhã desta quinta, o movimento no Calçadão de Londrina era tímido. Quem passava por ali, escondia a mão nos bolsos e fazia uma careta quando o vento batia. Para quem aguardava parado, a solução era buscar por um cantinho no sol, o que ajudava a aquecer. Uma aposentada, que pediu para não ser identificada, avaliava as calças de moletom de uma loja. Segundo ela, é só quando o frio chega que as pessoas lembram de comprar roupas mais quentes.
“Ontem eu tomei banho e fui procurar uma calça de moletom, mas não achei. Então hoje vim comprar. Tem que ser algo assim para esquentar o corpo”, alerta.
Encolhida em um dos bancos do Calçadão, a professora Maraisis Aparecida Mulero, 44, reclamava do frio. Após perder alguns quilos, ela explica que começou a sentir ainda mais frio. A repulsa pelos dias de temperatura mais baixa também vem por conta das doenças respiratórias que costumam aparecer com mais intensidade. Para ela, uma temperatura acima dos 18° é o ideal: “nem tão quente, mas também nem tão frio”.