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'Fazem para viralizar'

Artesã de Londrina critica sensacionalismo em cima de bebês reborn

Bruno Souza e Lucas Giroto* - Redação Bonde
17 mai 2025 às 16:40

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Fotos: João Guilherme França
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A arquiteta e artesã de Londrina Evelise Pinheiro, de 37 anos, criticou o sensacionalismo que as redes sociais estão promovendo quando o assunto é bebê reborn. Segundo ela, que produz e comercializa os bonecos hiper-realistas há 15 anos, muitos casos estão sendo extremados para chamar atenção e viralizar nas redes sociais. O Portal Bonde esteve no ateliê da artesã, nesta sexta-feira (16), para conhecer mais sobre a arte, que surgiu nos Estados Unidos na década de 1990.


Diversas reportagens sobre o assunto estão sendo veiculadas na imprensa, além de posts em formato de "meme" de grandes páginas virtuais. No Paraná, o governo do Estado fez um post ironizando a inexistência de atendimento para bebês reborn nas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento). A Prefeitura de Curitiba fez uma publicação do mesmo gênero. Tais ações, segundo Pinheiro, podem levar a uma estigmatização da arte que existe há mais de 30 anos, tudo em troca de "likes" e engajamento.

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Nas redes sociais, conteúdos que mostram adultos tratando bonecos como filhos também geraram repercussão e críticas. A artesã de Londrina, no entanto, acredita que muitos desses vídeos têm apelo meramente sensacionalista.

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“Quanto mais absurdo parecer, mais chance tem de viralizar. Estão colocando a arte reborn como se fosse voltada para pessoas com problemas psicológicos. Não é isso”, diz. Ela admite que há casos de humanização excessiva, mas ressalta que isso não é exclusivo dos reborns. “Pessoas com distúrbios podem humanizar pets, coleções, qualquer coisa. E se há um problema, ele deve ser tratado, não é a arte que está errada."

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Além disso, ela ressalta que os próprios profissionais reborn têm "surfado na onda" para viralizar e lucrar com mais vendas". "Pessoas que trabalham com a arte fazem isso até para efeito de marketing. Eu sou mais discreta no meu trabalho, mas há pessoas que dançam com o bebê no colo, que trocam fralda, gravam a rotina. Isso não quer dizer que é algo fora do normal, é algo lúdico de brincar com boneca.


Pinheiro também chama a atenção para o uso terapêutico dos bonecos em outros países. Pacientes com Alzheimer, por exemplo, utilizam reborns como recurso emocional em tratamentos na Europa. “As pessoas precisam entender que brincar com bonecas, colecionar, emocionar-se com uma memória, nada disso é anormal. Há homens idosos que colecionam carrinhos, por exemplo. Nós precisamos respeitar cada um com o seu gosto."

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Obra de arte


No ateliê "discreto" montado dentro da casa dos pais, na Gleba Palhano (Zona Sul), Pinheiro transforma moldes importados em bonecos realistas que têm conquistado clientes em diversos municípios do país. O trabalho, que parece simples à primeira vista, exige habilidade, paciência e materiais específicos. São usados dois tipos de tinta, aplicadas com esponjas, pincéis e até lápis. “É preciso selar, preparar, cuidar para não queimar... Cada detalhe interfere no resultado”, explica.

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O processo de criação é minucioso. Em uma tarde, ela consegue pintar todo o bebê ou fazer metade do implante capilar, que utiliza pelos de ovelha. A finalização depende do volume de encomendas e por isso ela pede até 30 dias para entregar cada peça. Um reborn feito pela artesã é vendido por no mínimo R$ 1.700, mas esse valor varia conforme o tipo de molde e a personalização solicitada. Só o molde, esculpido por artistas estrangeiros, pode chegar a R$ 1.390. Para evitar toxicidade no processo, ela utiliza um solvente importado e natural, que custa cerca de R$ 300 o frasco.


Embora a arte tenha sido criada inicialmente para fins expositivos, Pinheiro afirma que o perfil do público mudou. Hoje, a maior parte dos pedidos vem de crianças que conhecem os bebês pela internet. “Elas veem, encantam-se, e os pais vêm até mim para realizar o sonho delas”, conta. As características do boneco, como cor de pele, olhos e tipo de cabelo, são todas ajustadas conforme o desejo do solicitante.

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Apesar do aumento no interesse por parte do público infantil, a londrinense também atende adultos, sejam colecionadores ou pessoas com histórias marcantes. Um dos casos que mais a marcou foi o de uma senhora que perdeu o primeiro filho logo após o parto. A família inteira participou da escolha do molde, e a artesã produziu um boneco com base nas lembranças que a mãe tinha do bebê. “Ela se emocionou ao pegá-lo nos braços, mas era uma mulher lúcida, saudável, apenas quis eternizar uma memória”, ressalta.


Pinheiro, que sempre teve afinidade com trabalhos manuais, começou na área após sua mãe buscar alternativas para destacar a vitrine da loja infantil da família. “Fiz o curso, criamos o primeiro bebê, colocamos na vitrine e o movimento aumentou. Foi assim que começou”, lembra. 

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Com o fechamento da loja da família durante a pandemia, ela migrou para o Instagram, que hoje funciona como sua vitrine virtual. Em datas como Natal ou Dia das Crianças, a produção chega a 15 bebês por mês. A artesã não pretende expandir a atual demanda, prefere manter o ateliê discreto e equilibrar a rotina com o cuidado dos dois filhos, que, assim como toda a família, a apoiam na arte reborn. "Para os meus filhos, é tão natural isso. Eles entendem que é a minha arte. Eles gostam e comentam qual gostaram mais."



Olhar psicológico


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Partindo de uma análise estrutural da sociedade para entender esse 'boom' de bebês reborn, a professora universitária de Psicologia e mestre em promoção da saúde Bruna Milhorini explica como a brincadeira pode ser um momento de relaxamento e benéfica para a saúde mental na rotina da vida adulta, promovendo um momento de desconexão com um dia de trabalho estressante e pesado, por exemplo.


"Temos que entender o que esse 'boom' está representando para a nossa sociedade neste momento. Podemos pensar que o brincar na vida adulta é muito negligenciado e o ser humano precisa ter espaços [como este], mesmo na vida adulta. São momentos que podem contribuir para o relaxamento, bem-estar e saúde mental", explica a psicóloga.


Outro ponto levantado por Milhorini é a diferença no tratamento e julgamento entre os gêneros em relação ao momento de lazer. Na figura masculina, continuar com as brincadeiras de infância na vida adulta - como jogar bola e videogame -, é visto como algo 'normal' e aceito socialmente. Porém, por outro lado, quando uma mulher faz o mesmo, há um olhar de preconceito, pois culturalmente "a mulher é vista para ter um filho verdadeiro" e quando esse "estereótipo" é quebrado, isso pode causar um grande "choque” cultural.


"Acho importante também relacionar que, ao ver mulheres, principalmente adultas, brincando com essas bonecas, pode estar causando espanto porque é uma figura feminina que está encontrando nesta brincadeira uma forma de relaxamento. Sendo que, por exemplo, é comum que homens adultos tenham seu momento de lazer jogando futebol ou videogame - passando horas em um quarto -, e isso não gera tanto espanto na sociedade."


Na contramão dessa visão benéfica, há limites que, se ultrapassados, podem indicar um comportamento "fora do padrão" e "excessivo", quando a devoção àquele boneco se estende ao ponto de causar "prejuízos na vida social" daquela pessoa. Provocando um rompimento do simples ato de brincar por relaxamento, a ação se torna uma espécie de "fuga da realidade", alerta Milhorini.


"É nocivo quando começa a deixar de sair com amigos, ir ao trabalho, perder a hora dos compromissos, por exemplo. Aí pode ser um indício de que há algo que não está dentro do normal. Nesse caso, podemos considerar uma fuga da realidade, que enfrentar o trabalho e a vida adulta pode estar sendo muito sofrido", pontua.


Para além do uso lúdico ou excessivo, a utilização de bebês reborn se estende até o tratamento de pacientes com algum grau de comprometimento neurológico - Alzheimer e demência -, explicou Milhorini. Por conta do realismo, o tratamento com o auxílio de bonecas pode ajudar a acalmar e diminuir a agitação desses pacientes, oferecendo a simulação de ter um bebê em seus braços ou a lembrança de um filho.


Quando inserida em um contexto de luto - como aconteceu na experiência citada pela artesã londrinense - a compra do bebê reborn, na tentativa de "eternizar" um filho perdido, pode ser benéfica para enfrentar o processo ou uma forma de "fugir dele", diz a psicóloga.


"Existem casos de mães e pais recorrerem ao bebê reborn como uma maneira de eternizar filhos perdidos. Mas é importante entendermos que, para a elaboração de um luto, não é necessariamente preciso que um bebê seja eternizado [dessa forma], simbolizado em uma boneca. É importante questionar se essa eternização em uma boneca, de acreditar que esse bebê está vivo, de que pode pegá-lo, é um auxílio para o luto ou uma forma de fugir dele."


*Lucas Giroto, estagiário, sob supervisão de Bruno Souza


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