Falando de Literatura

Dia da Consciência Negra - Crônica de Flavio Madalosso Vieira Neto

20 nov 2024 às 11:06

Bom-dia, amigos!

Hoje, o Sol surgiu por detrás dos eucaliptos de Uvaranas, com tênue neblina a cobrir a cidade, que depois se revelará sobre o lindo céu azul e do quase verão princesino. São 20 de novembro, “Dia da Consciência Negra”, feriado nacional, justamente pela necessidade que todos temos em reconhecer o valor humano acima das diferenças físicas, e retrocedemos a lembrança ao ato histórico praticado pela Princesa Isabel em 1888.

Já mudamos de século duas vezes e uma vez de milênio depois que a Lei Áurea foi assinada, mas parece que este andar do tempo não surtiu muito efeito no que se refere ao trato e respeito para com as pessoas de pele diferenciada pela cor.

Nós sabemos, e ninguém é ingênuo de pensar que não existem aqueles que fazem e praticam a discriminação racial e social, muito embora a legislação imponha que, perante ela, todos os homens são iguais, apesar de que, infelizmente e burlando a lei, há quem pratique, mesmo que veladamente, a segregação racial. Contudo, a origem étnica e a cor da pele não diminuem ou privilegiam ninguém.

Cada ser humano vale pelo que é interiormente e pela forma de condução da sua vida, e se ao negro fosse dada, desde a abolição da escravatura, as mesmas condições dos homens brancos, com certeza haveria hoje perfeita igualdade nos campos cultural, social e profissional. E mesmo com esta falta de oportunidade, que lhes foi injustamente negada, o homem de cor de pele diferente da nossa sempre contribuiu de forma expressiva para o progresso e civilização, não apenas com seu labor braçal desde que foi trazido ao Brasil, mas também com suas culturas e tradições, inteligência e capacidade.

Assim, ao lembrarmos o 13 de maio de 1888, que reflete seus efeitos benéficos no 20 de novembro, externamos o nosso sentimento fraterno e respeitoso a toda a raça negra, relembrando o gesto corajoso da Princesa Isabel ao abolir a escravatura no Brasil, que o fez ciente de que estaria colaborando de forma decisiva para a derrocada do Império, mergulhando-o no caos político e econômico que favoreceu a proclamação da República um ano mais tarde.

Assim, registramos nossa homenagem e gratidão aos descendentes dos escravos e nossa conivência a todos que têm apoiado a redenção total da raça negra no Brasil, o que permite um avanço rumo à plenitude do senso de igualdade e fraternidade que a liberdade outorga a todas as criaturas, independentemente da cor da pele.

Todos somos irmãos perante Deus e iguais perante a lei. Todos somos brasileiros e nutrimos igual amor e respeito por nossa pátria e, havendo justiça plena e liberdade honesta, haveremos de trilhar, irmanados e em paz, com pujança, o nosso caminho evolutivo.

E lembramos: hoje não é simplesmente um feriado no meio da semana! É um marco na história do Brasil, é um dia para ser vivido com a prática do respeito, da consideração e do amor ao próximo, com sinceridade e profundidade de sentimento, para que surta o efeito tão desejado e importante na nossa consciência, fazendo-nos irmãos independente de qualquer aparente e insignificante diferença.

Infelizmente, temos que ter um dia especial para lembrarmos que somos iguais, fazendo-nos diferentes, uns dos outros, pelo caráter, educação e conduta.

Publicado no PERFIS  DA   CIDADE

Ano XXXII nº 6.273

Crônica de Flávio Madalosso Vieira (Vieira Neto) - Cronista e professor universitário

QUARTA-FEIRA, 20 DE NOVEMBRO DE 2024

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