Apesar de a Conitec (Comissão de Incorporação de Tecnologias ao Sistema Único de Saúde) rejeitar o uso do "kit Covid" para pacientes com suspeita ou diagnóstico de Covid o Ministério da Saúde tem prolongado o debate e deu espaço para defensores de medicamentos sem eficácia em audiência pública.
Foram ouvidos nesta terça-feira (28) especialistas, profissionais de saúde, pacientes e políticos a favor e contra medicamentos como a hidroxicloroquina e a ivermectina para tratamento contra a Covid-19.
A Conitec tomou a decisão de rejeitar o "kit Covid" por sete votos a seis. O texto pode ser acatado ou não pelo Ministério da Saúde. A primeira decisão sobre o tema é do secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, Helio Angotti. Se houver contestação, caberá ao ministro Marcelo Queiroga definir a posição do ministério.
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Segundo Angotti, o pedido para a realização da audiência pública partiu do ministro da Saúde. A ideia é colher mais elementos antes da tomada de decisão.
Ele defendeu a medicina baseada em evidências e que valoriza a experiência do profissional.
"Todas as colaborações são vozes da sociedade que se manifestam e deveriam ser escutadas. Gostaria de escutar muito mais pessoas, mas há limitações logísticas claras", ressaltou Angotti.
Os médicos Carlos Carvalho e Maicon Falavigna, que foram responsáveis pela parecer contra o uso de remédios como cloroquina para uso ambulatorial de pacientes leves, explicaram a metodologia usada na realização do documento.
Falavigna esclareceu que durante epidemias, quando não há tratamentos clínicos efetivamente consolidados, há tendência ao uso de medicamentos baseado em resultados de estudos pré-clínicos, ou tendo por base estudos observacionais com limitações importantes.
"Apenas os anticorpos monoclonais se mostraram efetivos no tratamento contra a Covid, contudo não estão disponíveis no SUS", explicou.
No entanto, outros profissionais negacionistas contestaram o estudo. Entre eles, o epidemiologista e professor do Departamento de Saúde Comunitária da Universidade do Estado do Pará, Regis Bruni Andriolo.
O profissional chegou a treinar a secretária da Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, para falar a favor do tratamento precoce na CPI da Covid. No vídeo que a Folha teve acesso, participava também Angotti.
"Os estudos atuais, que são os melhores, ainda têm problemas. Todos eles desfavorecem a hidroxicloroquina", disse.
Francisco Eduardo Cardoso Alves, médico infectologista da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, disse que foi convidado por Angotti para falar. Ele defendeu o tratamento precoce.
'Só no mundo de Nárnia a gente pode acreditar que não existe tratamento para Covid. A gente pode discutir
os graus de evidência e eficácia das diversas intervenções propostas até o momento, seja terapêutica como profilática. Dizer que algo é ineficaz é cientificamente inviável, principalmente quando se fala de uma droga como a hidroxicloroquina", disse.
Como revelou o jornal Folha de S.Paulo, um grupo pró-cloroquina, que inclui Angotti, tentou implodir a discussão da Conitec antes da votação final no início de dezembro.
Apesar de não ter poder decisório, a posição da Conitec representa um golpe às bandeiras negacionistas de Bolsonaro.
Isso porque o próprio Queiroga acionou a comissão para discutir sobre as diretrizes de tratamento da Covid no SUS. A ideia, disse o ministro ao entrar no governo, era pacificar o tema.
Bolsonaro é defensor de medicamentos como a cloroquina e a ivermectina. Ele faz campanha contrária à vacinação, às máscaras e ao distanciamento social.