Nutrição

Nutricionista quer divulgar dieta polêmica no Brasil

28 mar 2012 às 12:58

O nutricionista francês Pierre Dukan, autor de bestsellers sobre dietas, disse estar surpreso com o problema de excesso de peso no Brasil, sobretudo entre os jovens, e sugere moderação no consumo de feijão com arroz.

"O feijão com arroz faz bem para a saúde quando se tem uma atividade física importante. Mas mesmo quem não tem problema de peso deve reduzir um pouco o consumo", disse Dukan, autor do bestseller Eu Não Consigo Emagrecer, traduzido em 14 línguas, em entrevista à BBC Brasil.


"Já para as pessoas sedentárias, esses alimentos resultam em acúmulo de calorias", afirma o nutricionista, que visitou São Paulo no início deste mês.


Ele sugere que as pessoas com problemas de peso deveriam evitar essa combinação básica da alimentação brasileira.


Dukan - que desenvolveu, em 2002, a famosa dieta baseada apenas no consumo de proteínas na fase inicial - já escreveu cerca de 20 livros e afirma ter vendido 9,5 milhões de exemplares em dezenas de países, sendo quase a metade na França.


Presença no Brasil


Após ter conquistado o mercado editorial francês em 2010, ocupando os dois primeiros lugares da lista de livros mais vendidos do país (todas as categorias literárias reunidas), Dukan se prepara para reforçar sua presença no Brasil.


Em maio, diz ele, será lançado no Brasil um livro ilustrado de receitas que acaba de sair na França, e também um site com "treinador de emagrecimento online", que prevê uma dieta personalizada e acompanhamento diário (o site já existe no Brasil, mas esse serviço ainda não está disponível).


A partir de junho chegará ao mercado brasileiro sua linha de produtos alimentícios, como biscoitos, barras de cereais e farelo de aveia, já vendidos na França.


Críticas


O problema da obesidade de jovens vem aumentando na França e preocupa as autoridades, mas ele diz achar que no Brasil o fenômeno seria mais grave.


"Fiquei com a impressão que os jovens brasileiros comem bastante feijão, arroz e feculentos (como a batata) e também consomem mais açúcar do que os adolescentes na França", diz ele.


Dukan afirma também ter ficado "surpreso" com o excesso de peso dos jovens no Brasil, "que parecem mais gordos do que seus pais".


A "dieta Dukan" seria seguida por celebridades como a duquesa de Cambridge, Kate Middleton, da Grã-Bretanha, a cantora Jennifer Lopez ou ainda o candidato socialista às eleições presidenciais francesas, François Hollande, cuja nova silhueta foi amplamente comentada no país.


Mas o regime - que começa com uma "fase de ataque" para perder alguns quilos rapidamente com o consumo apenas de proteínas durante um período - também é alvo de inúmeras críticas.


Especialistas franceses têm afirmado que a dieta pode causar sérios riscos à saúde, como aumento do colesterol e problemas cardiovasculares.


A dieta não é baseada na tradicional contagem de calorias e defende a ideia de que as pessoas podem comer o quanto quiserem, embora devam consumir apenas os alimentos definidos para cada etapa.


Na segunda fase da dieta, as pessoas podem passar a comer também legumes e, na terceira, são incluídas frutas e pequenas porções de pães e massas integrais.


Um estudo da agência francesa para a Segurança Alimentar afirma que quem faz a dieta de Dukan consome mais do que o dobro da quantidade diária de sal recomendada pela Organização Mundial da Saúde.


Segundo o estudo, esse regime também resulta na carência de vitamina C e de fibras.


‘Dogma’ e popularidade


Dukan rebate as críticas afirmando que as dietas baseadas na ingestão de menos calorias do que a média diária se tornaram "um dogma" e que ele é contestado por não seguir essa receita.


"Meu método recomenda o consumo apenas de proteínas e legumes por um período curto. Eles são o fundamento da natureza humana. No início, o homem só se alimentava basicamente dessa forma".


O nutricionista diz ainda que é preferível sofrer o "inconveniente" de uma deficiência temporária, de vitaminas, por exemplo, do que ter doenças bem mais graves ligadas à obesidade.


Após as críticas, Dukan fez adaptações à dieta, que foi reforçada em relação aos legumes. Ele argumenta que o método "está em constante evolução há anos".


Acusações


No início do ano, ele foi alvo de outra grande polêmica na França. Em seu livro "Carta Aberta ao Presidente", publicado em janeiro, Dukan defende a ideia de que os estudantes que tenham mantido seu peso em uma determinada faixa entre os 15 e 18 anos de idade ganhem pontos na prova chamada "Bac", uma espécie de vestibular na França.


A sugestão foi interpretada como uma forma de discriminação contra as pessoas com excesso de peso, suscitando inúmeras críticas.


"Minha proposta foi deformada. Mas atingi meu objetivo de chamar a atenção para o problema da obesidade dos jovens na França", disse à BBC Brasil.


Nesta semana, o nutricionista foi alvo de duas queixas prestadas pela Ordem dos Médicos da França e pela ordem parisiense da categoria, que alegam que Dukan não respeitaria os códigos éticos da profissão.


A organização afirma que "um médico deve pensar na repercussão de seus comentários" e diz que a proposta feita no livro não leva em conta os problemas de jovens obesos ou anoréxicos.


A Ordem dos Médicos também acusa Dukan de fazer promoção pessoal e utilizar a medicina com fins "comerciais".


Na quarta-feira, ele afirmou ser "perseguido" e disse também já ter enviado à Ordem dos Médicos, há três meses, sua decisão de encerrar o atendimento em seu consultório parisiense para se dedicar às suas outras atividades.


"Agora sou um médico aposentado. Estou livre", declarou.

O nutricionista que diz comer principalmente salmão, tomate, chicória, erva-doce, nozes e iogurte, continuará fazendo palestras pelo mundo e reforçando suas atividades em inúmeros países, como o Brasil.


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