Nem todo mundo sabe, mas o corpo humano precisa de muito pouco sal para manter seu funcionamento normal. A quantidade contida nos alimentos in natura seria o suficiente. Ainda assim, é comum no prato de quase a totalidade das pessoas a utilização desse mineral para salgar ainda mais os alimentos. Esse hábito que vem desde o século passado, quando o sal era um importante conservante alimentar, traz hoje algumas sérias consequências. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia, atualmente 30% da população é hipertensa, dado esse que poderia ser menor se o consumo de sal não fosse tão elevado.
Pesquisas revelam que uma quantia entre 2,5 a 6 gramas de sal por dia (menos do que uma colher de café cheia) é o suficiente para uma dieta normal. Apesar disso, é comum nos consultórios médicos, pacientes apresentarem um consumo médio entre 10 a 15 gramas.
Diversos estudos demonstram que a ingestão excessiva de sal aumenta a pressão arterial e, portanto, o risco cardiovascular. O cardiologista Ricardo José Rodrigues explica que quem ingere mais sal tem maior chance de infarto, derrame, doenças renais e insuficiência do coração. ''Sabemos que alguns indivíduos têm dificuldade de eliminar sobrecarga de sal. A resultante é um aumento da pressão arterial quando estes indivíduos ditos como ''sensíveis'' são expostos a sobrecarga de sal. Desta maneira, em pessoas com pressão normal e em indivíduos que já são hipertensos, dieta com alto teor de sal é maléfica, pois além de dificultar o controle da pressão, também causa hipertensão em quem já é susceptível'', diz.
O sal (cloreto de sódio) é essencial para a vida animal e está diretamente ligado na regulação da quantidade de água do organismo. A grande questão é que boa parte dos alimentos que ingerimos já conta com quantidades significativas de sódio, principalmente os industrializados.
Em todas as classes - Pesquisa recente feita pela Universidade Federal do Espírito Santo, em Vitória (ES), com o objetivo de avaliar o consumo de sal da população urbana conseguiu detectar uma média de 6,7 gramas de sal consumidos diariamente entre os 2.268 entrevistados. A pesquisa concluiu também que a ingestão de sal é fortemente influenciada pelo nível sócioeconômico e pode, parcialmente, explicar a alta prevalência de hipertensão arterial nas classes socioeconômicas mais baixas.
''Isso nos deixa claro que a hipertensão arterial não é uma 'doença do executivo', como muito se fala. Ela envolve sim, o sedentarismo, o estresse mas também atinge outras classes que têm consumido alimentos com mais sal'', comenta Rodrigues.
O nefrologista Anuar Michel Matni lembra que há muito tempo o sal é considerado um ''assassino invisível'' mas as pessoas ainda resistem em evitar seu consumo. ''Existem relatos clássicos da medicina que nos mostram índios Ianomâmis, na década de 1970, que não adicionavam sal na comida e não havia registro algum de hipertenso. Já em algumas ilhas do Japão onde o consumo de sal diário chegou a atingir 35 gramas, o índice de mortes por doenças como derrames e problemas cardíacos era muito grande'', relata.
Segundo o médico, o sal é também um forte vilão para os rins, desencadeando a formação de cálculos urinários. ''Só o leite de vaca contem quinze vezes mais sal que o leite materno. A retirada do sal da alimentação deve ser feita desde o início dos hábitos alimentares. Quem tem um componente genético para a hipertensão e não evita o sal terá problemas. Assim como o renal crônico que precisa tirar totalmente o sal de sua dieta. O sal definitivamente é um vilão para a saúde humana'', finaliza Matni.