Nem só fatores biológicos devem ser considerados quando se trata de entender o aumento de diagnósticos de Alzheimer ao redor do mundo e do combate a essa doença. Isso é o que defende um novo estudo que elencou desigualdades socio-econômicas como um aspecto envolvido para compreender a distribuição dos casos da condição em diferentes regiões do mundo. Países de média e baixa renda, por exemplo, concentram cerca de 2/3 dos casos mundiais de todo o planeta.
A pesquisa recém-publicada na revista científica American Journal of Preventive Medicine analisou dados sobre o Alzheimer em 204 países entre 1990 e 2021. Durante esse período, os diagnósticos da doença e de outros tipos de demências aumentaram em todo o globo, e a tendência é que isso continue. Projeções indicam que, em 2050, 152 milhões de pessoas irão viver com demência -em 2019, essa cifra foi 57 milhões.
Com dados como esses, os autores traçaram relações entre essas tendências nos casos de Alzheimer e questões de desigualdades demográficas ao redor do globo. O objetivo era entender se havia alguma associação entre esses diferentes fatores.
Para isso, o estudo também envolveu dados socioeconômicos de diferentes regiões. Renda média populacional, nível de escolaridade e gastos públicos com saúde são alguns exemplos de fatores econômicos considerados pelos especialistas.
Os autores concluíram que tais aspectos influenciam fatores demográficos que, consequentemente, podem representar maior risco para o desenvolvimento ou agravamento da condição cognitiva. Esse é o caso dos gastos públicos com saúde, que influenciam diretamente o acesso a serviços de cuidados ou de prevenção do Alzheimer.
Adalberto Studart Neto, vice-coordenador do Departamento Científico de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), afirma que a conclusão do novo estudo vai ao encontro de evidências já consolidadas acerca de fatores de risco para demências. Baixa escolaridade, perda auditiva, colesterol ruim, depressão, sedentarismo, diabetes, tabagismo, hipertensão, obesidade e abuso do álcool são alguns exemplos.
"Alguns desses fatores de risco são associados com o desenvolvimento socioeconômico, como a baixa escolaridade, enquanto outros são muito associados aos cuidados de saúde de modo geral", afirma Neto, que não participou do artigo recém-publicado.
Por conta dessas variáveis que envolvem questões econômicas e demográficas, países de baixa renda podem ser mais afetados quando se trata de demências. Neto ilustra essa situação em relação ao acesso à saúde.
"Nos países de baixa renda, as populações têm menor acesso aos cuidados de saúde para tratar doenças crônicas [que são fatores de risco para o Alzheimer]. Esse menor acesso leva a maior incidência dessas doenças e, portanto, a maior incidência de demência", exemplifica.
Ponto parecido foi observado na nova pesquisa. O estudo defende que, embora o mundo inteiro veja aumento nos casos de Alzheimer, países de média e de baixa renda concentram uma grande quantidade de diagnósticos da demência. Dados ilustram essa situação. O principal deles é o fato de que 2/3 dos diagnósticos da demência estão em regiões pobres do globo.
Os pesquisadores do estudo apontam que a conclusão do artigo repercute a necessidade de prestar atenção em países ainda em desenvolvimento. Ao fazer isso, seria possível desenhar melhores estratégias para barrar o avanço do Alzheimer ao redor do mundo, como por meio de colaborações internacionais.
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