Ovos que podem ser consumidos por quem é alérgico a esse alimento acabam de se tornar realidade em laboratório, afirmam pesquisadores japoneses. Usando um método preciso de edição do DNA, a equipe de cientistas da Universidade de Hiroshima criou galinhas cujos ovos não produzem a proteína da clara responsável pela maioria dos casos de alergia.
Análises detalhadas sobre o ovo não alergênico acabam de sair no periódico especializado Food and Chemical Toxicology. No estudo, liderado por Ryo Ezaki, o grupo de cientistas mostrou que é possível "desligar" a produção da proteína ovomucoide, que corresponde a pouco mais de um décimo do conteúdo proteico das claras dos ovos.
Leia mais:
Brasil recupera certificado de eliminação do sarampo após cinco anos
Campanha médica promove evento focado na prevenção de arritmias em Londrina
Infestação de dengue atinge 3,3% e coloca Londrina em estado de alerta
Brasil tem 66,5 mil pessoas à espera de transplantes de órgãos, diz relatório
Pessoas alérgicas que consomem a proteína ovomucoide podem ter episódios de vômito, problemas respiratórios e inchaço no corpo, entre outros sintomas. A molécula está presente ainda nas vacinas contra a gripe produzidas a partir de ovos de galinha, o que faz com que, muitas vezes, as pessoas com alergia acabem não recebendo essa imunização.
Ezaki e seus colegas iniciaram o processo de produção dos ovos modificando o DNA dos embriões de galinha, por meio de moléculas designadas pela sigla Talens. Grosso modo, elas podem ser comparadas a tesouras moleculares, sendo capazes de reconhecer sequências específicas de "letras" de DNA e cortá-las de modo relativamente preciso.
No caso do trecho de DNA que contém a receita para a produção da proteína ovomucoide, o uso das Talens produziu uma mutação que bagunçou completamente a leitura da receita molecular pelo organismo.
Imagine, por exemplo, um livro de receitas no qual a frase "Acrescente leite" fosse lida a partir da terceira letra da primeira palavra, virando "rescente leite". A frase deixaria de fazer sentido --e, no caso do DNA, isso significa que a proteína ovomucoide deixa de ser produzida pelo organismo das galinhas geneticamente modificadas.
"Para poder usar os ovos dessas galinhas na alimentação é preciso avaliar a segurança deles primeiro", destacou Ezaki em comunicado oficial sobre o estudo. Por isso, a equipe japonesa usou uma série de técnicas de biologia molecular para entender como a modificação genética afetou as características dos ovos.
Eles empregaram, por exemplo, anticorpos projetados para aderir à proteína ovomucoide, e nenhum deles conseguiu "pescar" qualquer pedaço dessa molécula quando foram aplicados à clara dos ovos das galinhas cujo DNA foi alterado.
Além disso, os pesquisadores conduziram uma análise completa do DNA dos galináceos, verificando que as técnicas de edição genética não parecem ter modificado regiões funcionais além da que está ligada à proteína ovomucoide.
"Os ovos postos pelas galinhas não mostraram nenhuma anormalidade evidente", destacou Ezaki.
Segundo o pesquisador, os dados atuais já permitem concluir que os ovos geneticamente modificados podem ser consumidos por pessoas alérgicas quando usados como ingredientes em alimentos cozidos.
No entanto, como até quantidades muito pequenas da proteína ovomucoide são capazes de provocar reações em algumas pessoas, a equipe japonesa planeja fazer mais testes de segurança antes de considerar que os ovos podem ser consumidos in natura sem sustos.
AINDA SOBRE ALERGIAS
Reações alérgicas merecem atenção desde os primeiros sintomas e podem levar pode levar à anafilaxia, quadro caracterizado pela presença de sintomas em mais de um órgão. Em alguns casos, há comprometimento das vias aéreas e sintomas cardiovasculares, eventualmente resultando no choque anafilático --queda brusca da pressão arterial, que pode ser fatal.