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Entrevista exclusiva

Conheça Bruce Richman, idealizador da campanha I = I no mundo

Thiago Ramari/Redação Bonde
29 nov 2017 às 19:20

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O norte-americano Bruce Richman recebeu o diagnóstico de HIV em 2003. Desde então e durante os 9 anos seguintes, sofreu com o medo do julgamento público e com as limitações impostas à vida social. No entanto, em 2012, esse cenário começou a mudar completamente: ele descobriu com o próprio médico que era incapaz de transmitir o vírus aos parceiros sexuais, porque tinha carga viral indetectável. Nessa época, os resultados preliminares de algumas pesquisas científicas a respeito desse assunto estavam sendo divulgados. "Fui libertado do medo e da vergonha da transmissão", revelou, em entrevista exclusiva, realizada por e-mail, ao Portal Bonde.

Foi a partir disso que ele decidiu, com a ajuda de outros ativistas e pesquisadores, lançar a campanha Undetectable = Untransmittable (Indetectável = Intransmissível), que hoje é endossada por mais de 500 comunidades parceiras em 68 países. O objetivo é espalhar pelo mundo a informação que mudou a vida dele e que já contribui fortemente para combater o estigma social contra pessoas que vivem com HIV. "Conheci pessoas que viviam isoladas da comunidade, temiam encontros amorosos, não faziam sexo e eram receosas de conceber filhos, porque acreditavam que seriam sempre infecciosas", contou. "Essa informação deu a elas um novo contrato de vida."

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Na entrevista, Bruce também falou sobre os próximos desafios da campanha, sobre a melhor estratégia para acabar com a epidemia de HIV no mundo e sobre a resistência de alguns governos em assumir publicamente a premissa do I = I. Confira abaixo o bate-papo na íntegra.


Portal Bonde: Bruce, você poderia nos contar como a campanha I = I nasceu em 2016?
Bruce Richman: Em 2012, descobri que não podia passar o HIV a parceiros sexuais porque era indetectável. Isso é o que chamamos Indetectável = Intransmissível ou I = I. Minha vida mudou porque fui libertado do medo e da vergonha da transmissão. Mas percebi também que essa informação, capaz de mudar vidas, não estava sendo dita a milhões de pessoas. Então, eu me uni a outros ativistas e pesquisadores dos principais estudos dos Estados Unidos, Austrália, Suíça e Dinamarca para criar uma declaração de consenso que confirmasse o I = I como verdadeiro. Nós usamos essa declaração para convencer pesquisadores influentes e agentes da saúde pública a encampar a mensagem. [Com isso] mais e mais pessoas assinaram [a declaração] para confirmá-la como verdadeira. A parte mais difícil no início foi o grupo de pessoas que lutou agressivamente contra nós e tentou descredibilizar a ciência. Eu mesmo fui insultado, chamado de mentiroso, ameaça à saúde pública, falso profeta e predador sexual! E as fundações não nos deram suporte porque éramos muito controversos. Agora que está confirmado que estávamos certos desde o início, as pessoas estão começando a se aproximar.

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Um dos alvos do I = I é acabar com o estigma contra pessoas que vivem com o HIV. Na sua opinião, porque esse estigma ainda sobrevive, apesar de todas as evidências científicas sobre a eficácia do tratamento?
O estigma contra HIV está muito profundamente arraigado em nós. Fomos ensinados a ter medo do HIV e das pessoas com HIV por décadas. Desaprender esses hábitos de pensamento vai levar tempo. Além disso, o estigma não está baseado apenas no fato de que temos HIV. É algo que tem muitas camadas e que vai levar tempo até desaparecer. Nos Estados Unidos, as pessoas têm ansiedade e julgamentos sobre sexualidade e sexo, e é esse julgamento que diz que, se você pegou uma doença através do sexo, então é uma pessoa suja. E ainda há muito racismo, preconceito de classe, homofobia e transfobia, que estão envolvidos com o HIV.


No Brasil, muitas pessoas têm medo de fazer o teste de HIV, devido à possibilidade de um resultado positivo. No entanto, sem os testes, parece impossível acabar com a epidemia de HIV. Para você, qual é o melhor método ou estratégia para pôr fim à epidemia no mundo?
Testar e tratar. Garantir que todos aqueles que têm HIV saibam que têm HIV, para que possam realizar o tratamento e cuidar para que fiquem indetectáveis, permanecendo saudáveis e impedindo novas transmissões. Quanto mais pessoas forem indetectáveis, mais saudáveis nós seremos e mais próximos estaremos de acabar com a epidemia.

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Com um tratamento bem-sucedido, preservativos não são mais necessários no caso do HIV, sobretudo para casais heterossexuais sorodiferentes que querem ter filhos de maneira natural. No entanto, o governo brasileiro não assume essa informação em campanhas públicas (e eu imagino que o mesmo acontece em outros países). Com base no seu conhecimento, por que os governos não encampam essa informação e quais são as consequências disso?
Os governos são os últimos a se aproximarem. Nós temos a sorte de que, nos Estados Unidos, os CDC [Centros para Controle e Prevenção de Doenças] e os NIH [Institutos Nacionais de Saúde] já confirmaram o I = I – que "efetivamente não há risco" de transmissão sexual do HIV quando [o soropositivo é] indetectável. Alguns governos são lentas burocracias e não estão em dia com a ciência. Outros estão acostumados a controlar pessoas com HIV como se fossemos vetores de doenças. Isso vai acabar, porque, se as agências governamentais não têm essa informação [I = I], as pessoas vão descobri-la de algum jeito. Isso vai corroer a confiança [da população nos governos]. As pessoas estão se levantando com essa informação e exigindo a verdade. E reter essa informação gasta oportunidades para melhorar a vida das pessoas vivendo com HIV, aprimorar os resultados da saúde [pública] e acabar com a epidemia.


Desde 2016, mais de 500 comunidades parceiras de 68 países endossaram oficialmente o I = I. Quais são os desafios a partir de agora, com todo esse suporte internacional? 
Os maiores desafios são as atitudes paternalistas na medicina e na saúde pública, além do racismo, colonialismo, preconceito e classismo institucionais, que vemos em todo o mundo. Temos de parar de filtrar e decidir sobre quais informações as pessoas com HIV podem ou não podem ter sobre seus próprios corpos. Esses campos [medicina e saúde pública] estão muito acostumados a fazer decisões por nós em vez de nos confiar informações e de nos empoderar para que façamos escolhas por nós mesmos.


Desde que você começou a campanha do I = I, o que mais te emocionou?
Os melhores momentos foram encontrar pessoas de várias partes do mundo cujas vidas mudaram para sempre porque aprenderam o I = I. Conheci pessoas que viviam isoladas da comunidade, temiam encontros amorosos, não faziam sexo e eram receosas de conceber filhos, porque acreditavam que seriam sempre infecciosas. Essa informação [I = I] deu a elas um novo contrato de vida. Muitas pessoas descrevem isso com a frase: "o I = I me libertou".

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Você poderia deixar uma mensagem para os brasileiros sobre o HIV? 
Pessoas vivendo com HIV podem ter vidas saudáveis. Ninguém vivendo com HIV é perigoso. Nós todos temos meios de proteger nossos parceiros do HIV. Estar indetectável é uma maneira de proteger nossos companheiros. Todos aqueles vivendo com HIV precisam ter acesso a tratamento e cuidados médicos, de modo que permaneçam saudáveis e mantenham seus parceiros saudáveis.


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