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Mulheres são mais afetadas

Câmara aprova inclusão de políticas públicas para Burnout no SUS; especialistas comentam

Eduarda Ventura - Estagiária* do Portal Bonde
12 jul 2024 às 16:36

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- Energepic.com/Pexels
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A Câmara dos Deputados aprovou em 5 de julho deste ano o projeto de lei que institui a Política Nacional de Atenção Integral à SEP (Síndrome de Esgotamento Profissional), a famosa Síndrome de Burnout, no SUS (Sistema Único de Saúde). 


Com o novo projeto, de autoria do deputado Glaustin da Fokus (Pode-GO), a síndrome passa a ser definida como um resultado do “estresse crônico no local de trabalho que não foi gerenciado com sucesso” e fica caracterizada por três dimensões. 

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A primeira é o sentimento de exaustão ou esgotamento de energia, em seguida vem o aumento do distanciamento mental do próprio trabalho e sentimentos de negativismo ou cinismo relacionados ao trabalho e, por fim, a redução da eficácia profissional. 

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A psicóloga Fabiola Luciano, especialista em TCC (Terapia Cognitivo Comportamental), explica que o burnout é caracterizado por “um nível de esgotamento físico, mental e emocional, que é proveniente, especificamente, da relação com o trabalho.”. Assim, ela relata que, mesmo com sintomas parecidos com a depressão, a causa é o que diferencia as duas coisas.

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O Burnout já está presente, desde 2022, na décima primeira revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-11), utilizada para padronizar e catalogar as doenças e problemas de saúde pela OMS (Organização Mundial de Saúde), entretanto, com o projeto aprovado, a síndrome passa a ser tratada com mais atenção. 


Assim, o texto indica novas medidas conjuntas, com campanhas de divulgação sobre a síndrome e suas apresentações; elaboração de materiais didáticos para ampla distribuição sobre a síndrome e, por fim, treinamentos de profissionais de saúde do SUS para prevenção, identificação, diagnóstico e tratamento. 

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Mulheres são as mais afetadas

Para analisar os casos de adoecimento por exaustão no Brasil, é importante fazer um recorte de gênero, já que, conforme números do Ministério da Saúde, dos 3.567 procedimentos ambulatoriais referentes a transtornos mentais relacionados ao trabalho em 2023, 2.579 eram mulheres e 988 eram homens. Já os atendimentos relacionados somente ao burnout, dos 393 casos registrados em 2023, 282 foram de mulheres e 111 para homens. 

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A explicação para uma maior incidência da síndrome em mulheres é cultural, segundo Luciano, já que elas costumam levar uma jornada dupla e até mesmo tripla de trabalho, sendo as responsáveis pelo cuidado com a casa e filhos. Além disso, a psicóloga reforça que a própria relação dentro do trabalho é feita de maneira diferente, exigindo mais das mulheres. 


“Muitas vezes, para se destacar no trabalho, ela tem que fazer uma corrida muito maior que um homem. Homens e mulheres podem chegar em um cargo de liderança. No entanto, para ela a entrega vai precisar ser bem maior, ela vai precisar se autoafirmar bem mais, o que pode causar uma sobrecarga”, ressalta.

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A professora Ariane Zambon Miranda, 36, foi uma das pessoas afetadas pela síndrome. Na teoria, Miranda deveria trabalhar 8 horas por dia em dois turnos variados, entretanto, com o tempo, ela passou a se dedicar cada vez mais, fazendo hora extra e levando trabalho para casa. 


Seguindo essa rotina, com o passar do tempo, a professora passou a apresentar sintomas, como cometer erros incomuns, perder palavras, linhas de raciocínio e não conseguir dormir. Além dos sintomas, as reuniões passaram a ser motivo de crises de ansiedade. 

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A decisão de buscar ajuda veio depois de cinco noites sem dormir, quando percebeu que havia algo errado. “Eu sabia que algo estava errado, mas sentia que o problema era em mim, que eu precisava fazer mais e melhor pra me sentir bem", aponta.


O trabalho era uma questão que não saía de sua cabeça, mesmo nos finais de semana e nas saídas com os amigos. Somente a partir do diagnóstico de burnout é que a profissional conseguiu enxergar uma melhora, já que parou de trabalhar e iniciou o uso de quatro medicamentos.  

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A especialista em TCC argumenta que nem todo mundo consegue sair do trabalho como parte do tratamento, mas que é importante estabelecer limites. “Por isso, essa linha entre trabalho e vida pessoal é muito importante e algumas mudanças vão precisar ser feitas para que a pessoa se mantenha em um nível que não leve ao adoecimento.” 


Assim, além de sair do emprego, a professora precisou passar por um tratamento multifatorial, envolvendo remédios, terapia e uma mudança no estilo de vida. 


“Hoje, tomo remédios, vou frequentemente ao psiquiatra e faço terapia com psicólogo semanalmente. Além disso, faço sessões de osteopatia, acupuntura e shiatsu, que me auxiliam muito no equilíbrio do sistema nervoso. Acrescentei na minha rotina também meditação e exercícios físicos. Tudo isso somado, me traz algum equilíbrio e alívio”, explica. 


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A combinação de tratamento não é algo que seja barato e acessível, por isso, a psicóloga destaca a importância de uma adoção de políticas públicas voltadas para a síndrome. “Muitas pessoas não têm acesso ao tratamento e quando você coloca uma política pública para isso, você garante muito mais esse acesso.” 


Outra questão importante é a educação, considerada essencial pela a especialista para que as pessoas saibam com o que estão lidando e aprendam a identificar melhor o que estão sentindo, para assim buscar o tratamento. 


Outro caso é o da psicóloga Camila Fernanda Francisco, 27. Para ela, é importante dar visibilidade para o fato de que os profissionais da saúde e, principalmente, da psicoterapia, também estão suscetíveis a terem transtornos e problemas com a saúde mental. 


“Eu me culpei muito por estar me sentindo daquele jeito mesmo sendo uma psicóloga, porque é isso, a sociedade tem essa visão de que a gente precisa estar sempre produzindo e se a gente não tá, a gente não é útil”, comenta. 


Francisco ainda conta que passou a entender melhor seus pacientes que passavam pela mesma coisa a partir dos sintomas que sentiu. Para ela, o pior foi o sentimento de impotência causado pelo cansaço. “Não era só emocionalmente impotente, mas também fisiologicamente, porque eu não conseguia fazer as coisas.” 


Ela pontua que todas as áreas de sua vida foram afetadas pela síndrome e que o acompanhamento com a psicóloga e psiquiatra, juntamente com o afastamento do local de trabalho, foi muito importante para ter uma melhora. 


Por fim, ela observa que os psicólogos podem ter uma maior ocorrência de burnout por estarem presentes em situações muito pesadas emocionalmente na profissão. “Então, se a gente não descansa, é muito provável que a gente não fique bem.” 


A afirmação é corroborada por outra psicóloga, Lívia Fortes, que afirma que as profissões consideradas femininas pela sociedade, como de enfermeira, professora e psicóloga, acabam exigindo uma posição maior de acolhimento, o que torna a mulher mais suscetível ao esgotamento. 


“Então, as profissões ‘femininas’, que exigem o acolhimento do outro, além das jornadas duplas já feitas, realmente acabam sobrecarregando muito mais as mulheres”, reforça.


Prevenção

A prevenção da síndrome inclui a necessidade de mudança, tanto dos empregadores quanto dos empregados, a avaliação da relação com o trabalho e mudanças em todos os aspectos da vida, como expõe a especialista em TCC. 


"Um olhar dos empregadores para isso é muito importante, porque a cultura organizacional muitas vezes favorece esse quadro a partir de práticas de cargas horárias excessivas, de demandas e metas irrealistas. Então, as práticas precisam ser repensadas para manter o funcionário bem", destaca.


Assim, manter uma rotina de autocuidado é essencial. "Se você está conectado com você e mantendo seu autocuidado, você vai perceber quando alguma coisa começar a ficar desagradável e, a partir disso, você consegue pensar em medidas que não deixem chegar ao nível de burnout", ensina a psicóloga Fabiola Luciano.


*Sob supervisão de Fernanda Circhia


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