Pesquisar

Canais

Serviços

Publicidade
Publicidade
Publicidade
Movimentação

Brasileiros abandonam quarentena antes da Covid-19 diminuir no país

Folhapress
27 jul 2020 às 09:04
- Rovena Rosa/Agência Brasil
siga o Bonde no Google News!
Publicidade
Publicidade

Apesar do crescimento acelerado de casos de Covid-19 e com cerca de mil novas mortes registradas diariamente, os brasileiros estão deixando a quarentena de lado. Em todos os estados houve aumento de ao menos 30% na circulação de pessoas entre março e julho, segundo dados apurados pelo Google.

No Amazonas, a movimentação chegou a subir 93% em quatro meses: foi de uma queda de 45% da movimentação em locais de trabalho em março para uma redução de apenas 3% na semana passada - ou seja, agora está praticamente igual ao período anterior à pandemia.

Cadastre-se em nossa newsletter

Publicidade
Publicidade


O aumento de circulação ocorre num momento em que o Amapá é o único estado com ritmo desacelerado de contágio, indicava na sexta-feira (24) o Monitor de Aceleração da Covid-19 no Brasil, do jornal Folha de S.Paulo.

Leia mais:

Imagem de destaque
Vivência do mountain bike

Alvo Bike terá palestra sobre alinhamento do corpo e da mente no ciclismo

Imagem de destaque
Comportamento de apatia

Síndrome do Tédio também afeta saúde mental no ambiente de trabalho

Imagem de destaque
Mulheres são mais afetadas

Câmara aprova inclusão de políticas públicas para Burnout no SUS; especialistas comentam

Imagem de destaque
Caso Iza

Entenda os impactos emocionais e a importância do suporte psicológico para gestantes


Especialistas ouvidos pela reportagem afirmam que o retorno de movimentação pode fazer com que os estados e o país permaneçam por mais tempo com números elevados de novos casos e de óbitos.

Publicidade


Além do Amazonas, Maranhão, Pará, Tocantins e Mato Grosso do Sul também estão agora com o movimento em locais de trabalho próximos aos patamares registrados antes da pandemia.


Tocantins e Mato Grosso do Sul estavam com crescimento acelerado de casos do novo coronavírus, aponta o monitor da Covid-19. Amazonas, Pará e Maranhão estão estáveis (ou seja, ainda não começou a cair o ritmo).

Publicidade


A análise sobre mobilidade leva em conta dados anônimos de localização divulgados pelo Google, obtidos a partir de aparelhos dos usuários, que são comparados com os meses de janeiro e fevereiro (pré-pandemia).


A reportagem analisou a variação do movimento entre março e julho em duas categorias: locais de trabalho e de lazer (shoppings, cinemas, bares e restaurantes).

Publicidade


Foi comparado o dia com o distanciamento social mais forte (sempre em março) em relação ao último dia 19 (nos dois casos, usando a média móvel de 7 dias). A reportagem fez uma segunda análise, comparando a média do mês de março inteiro com a média de julho, e o crescimento foi semelhante à comparação entre os dois dias.


Estados do Norte e Nordeste, onde o distanciamento social (e o número de casos) foi maior no início da pandemia, agora têm aumento mais acelerado do movimento. Isso é mais expressivo em locais que adotaram lockdown nas capitais, como Maranhão, Pará e Pernambuco.

Publicidade


As regiões Sul e Centro-Oeste, por sua vez, reabriram mais cedo que outras localidades, em meados de abril e maio, quando outras áreas do país ainda estavam com forte queda de movimentação.


Mato Grosso e Paraná, por exemplo, têm movimento um pouco menor agora do que o registrado no fim de maio. Os estados iniciaram um processo rápido de relaxamento da quarentena e tiveram de recuar, após aumento de casos.

Publicidade


Em Cuiabá, a Justiça determinou o fechamento, no fim de junho, de serviços não essenciais. Medida similar foi tomada por Ratinho Júnior (PSD), governador do Paraná.


Em São Paulo, o movimento em locais de lazer vem crescendo desde o fim de junho, após a permissão para que shoppings voltassem a funcionar. Restaurantes e bares puderam reabrir em 6 de julho.

Publicidade


A clientela, contudo, ainda não voltou de vez. Atualmente, o movimento na categoria é cerca de 40% menor que a média de janeiro e fevereiro. No fim de março, auge da quarentena, o fluxo de clientes era aproximadamente 70% menor que o normal.


Governadores e prefeitos têm defendido ser preciso balancear a tentativa de conter a pandemia de Covid-19 com a necessidade de retomada econômica. O desemprego no Brasil vem crescendo e chegou a 13,1% neste mês.


Já pesquisadores ouvidos pela reportagem afirmam que a quarentena no Brasil em nenhum momento foi aplicada na medida certa.


Segundo esses especialistas, um dos problemas do país, além das grandes desigualdades regionais e locais, foi a falta de uma liderança central para passar uma mensagem única de como lidar com a pandemia do novo coronavírus.


O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) minimizou o perigo do vírus desde março. Ele afirmou que a atividade econômica deve ser prioritária.


A saída da quarentena em momento ainda de expansão da Covid-19 é um movimento diferente do que foi feito nos países da Europa mais afetados, como Itália e Espanha.


"Tivemos a lição da Europa sobre o que dava certo e o que dava errado, mas fomos péssimos alunos", diz Raquel Stucchi, pesquisadora da Unicamp e membro da Sociedade Brasileira de Infectologia.


Nesses países europeus, a queda na mobilidade foi acentuada e se manteve até que começasse a haver diminuição consistente de novos casos e de mortes de infectados. O retorno, então, foi rápido. Agora, eles já estão próximos de estarem com atividades próximas ao pré-pandemia.


No Brasil, a doença ainda está em aceleração em boa parte das regiões. Por isso, a quarentena, que perdeu força nas últimas semanas no país, ainda é necessária para conter a pandemia.


Faz quatro meses que o Brasil atingiu o ponto mais baixo de mobilidade e ainda segue com movimentação inferior ao pré-pandemia. Nas atividades de lazer, por exemplo, está 47% abaixo do normal, na média nacional.


Na Itália e na Espanha, três meses e meio após o ponto mais baixo de mobilidade, a movimentação já estava próxima ao normal nas atividades de lazer.


Conforme a Folha de S.Paulo mostrou em junho, quando começou a se delinear o enfraquecimento do distanciamento social no Brasil, entre os dez países com mais óbitos no mundo naquele momento, somente brasileiros e mexicanos estavam saindo da quarentena ainda com aumento do número de óbitos diários.


No momento atual, a flexibilização também pode dar à população a impressão de que a estabilização dos casos em alguns estados signifique que tudo já passou e a crise está sob controle.


"Muita dessa confusão pode também estar relacionada com promessas de tratamentos milagrosos e as pessoas achando que a vacina já vai estar disponível no mês que vem", diz Stucchi.


Além de questionar as medidas de isolamento, Bolsonaro, apesar das evidências científicas que apontam o contrário, é um ferrenho defensor do uso da cloroquina contra a Covid-19.


"Para todo mundo que é da área da saúde, a abertura não é adequada enquanto tem transmissão importante. A circulação deveria ser evitada ao máximo neste momento", diz Marcos Boulos, professor de medicina da USP e integrante do comitê de contingenciamento do coronavírus de São Paulo.​


Boulos afirma que com o aumento da circulação tem como consequência o prolongamento da duração da pandemia. "A doença já poderia ter acabado se tivesse tido uma restrição importante", diz.


O especialista diz que no estado de São Paulo a crise poderia ter acabado já em junho caso tivesse sido adotado um lockdown, o mais restritivo nível de distanciamento social, mas que isso não foi avaliado como uma opção viável na situação atual do país.


Christovam Barcellos, sanitarista da Fiocruz e membro do Monitora-Covid-19, afirma que o Brasil corre o risco de repetir o que acontece nos EUA, que, após um pico de casos e mortes, entrou em estabilização e já enfrenta uma nova ascensão do Sars-CoV-2.


"É esse formato que infelizmente pode acontecer no Brasil, uma subida sobre outra subida", diz Barcellos.


"Na Europa e na Ásia, houve um pico claro e uma descida sustentada. Foram tomadas medidas para uma volta com menor risco de transmissão. No Brasil essas medidas não foram tomadas."


Segundo o pesquisador da Fiocruz, só haverá segurança se houver uma cadeia de responsabilidade e coerência, partindo do governo federal até chegar às empresas e às pessoas.

Stucchi, da Unicamp, também cita a necessidade de políticas estruturadas de testagem e isolamento.


Publicidade

Últimas notícias

Publicidade