A professora de Londrina Débora Rodrigues, 31, e a aluna Lívia Schineither, 7, emocionaram a internet, neste domingo de Dia dos Pais, após a docente permitir por meio de uma dinâmica o "envio de uma carta para o céu", destinada ao pai de Lívia, falecido há cerca de um ano.
O vídeo da ação viralizou rapidamente na internet, sendo replicado por perfis de alcance nacional. O Portal Bonde esteve, na manhã desta segunda-feira (11), na Escola Municipal Professor José Gasparini, localizada no Conjunto Farid Libos (Zona Norte), para conhecê-las.
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Natural de Ibiporã (Região Metropolitana de Londrina), Débora é professora há nove anos e, há cerca de dois, atua em Londrina. Com experiência maior em ministrar aulas em CEIs (Centros de Educação Infantil), o 2º C - turma de Lívia - se tornou o primeiro contato da profissional da educação com o ensino fundamental.
Com a semana do Dia dos Pais se aproximando, Débora e outras professoras pensaram em dinâmicas sobre o assunto. "Nós sempre fazemos algumas lembrancinhas para as famílias em datas comemorativas. Fui aplicar essa atividade do Dia dos Pais, que era ideia de outra professora. Só que a Lívia sente muito a ausência do pai dela e nós temos esse acompanhamento especial", disse.
A atividade proposta era escrever cartas para os pais, mas, com a perda recente, Lívia ficou triste por não ter a quem enviar. Foi nesse momento que Débora pensou em uma maneira de fazê-la integrar-se à turma.
"Nesta última semana, ela estava bem sensível, eu notei. Quando estávamos fazendo o cartão para os pais, pensei: 'Temos que encontrar alguma maneira de enviar para o papai da Lívia'. Aí veio a ideia de mandar para o céu, amarrando a cartinha em um balão."
Enquanto os alunos desenvolviam as cartas com declarações para os pais, Lívia começou a chorar, mas a proposta da professora logo a animou. "Ela começou a chorar bastante e a levei para conversar. Eu atuo desta maneira, gosto de pedir para eles dizerem o que estão sentindo, de pôr para fora o sentimento. Quando dei a ideia do balão, ela ficou muito animada", lembrou a docente, ressaltando que a coordenadora da escola abraçou a ideia.
A professora contou que se surpreendeu com a reação dos colegas de classe de Lívia. A cena registrada no vídeo, segundo ela, foi totalmente espontânea. "Quando descemos para o estacionamento, fiquei com medo do balão enroscar na árvore, por isso eles começaram a gritar 'vai subir, vai subir'. Todas as crianças ficaram envolvidas e animadas, muitas, inclusive, se emocionaram."
'Fiquei muito feliz'
Tímida e de poucas palavras, Lívia descreveu à reportagem o sentimento de poder enviar a carta de maneira simbólica ao seu pai. "Eu fiquei muito feliz. A minha mãe falou que ficou muito legal. [Depois da ação], os meus amiguinhos vieram me abraçar e fiquei alegre. Na cartinha, disse que amava o meu pai e que ele era o melhor pai do mundo", declarou, emocionada.
Segundo Débora, a atitude mudou completamente o comportamento da aluna no restante do dia dentro e fora de sala de aula. "Depois disso, ela ficou muito bem. Antes, eu comuniquei a mãe dela sobre o que íamos fazer. Ela gostou da ideia e depois me contou que ela chegou toda alegre em casa. Ressignificou para ela esse momento que era para ser de dor. Transformou-se em amor e carinho."
A mãe de Lívia, Diane Cardoso, 33, destacou que a atitude promovida pela escola ajudou a menina a enfrentar o luto, mas sem esquecer da importância que o pai teve em sua vida.
"Foi muito emocionante. Mexeu muito comigo também, até por ser muito recente e a gente estar passando por esse sofrimento, passando por psicólogo... Não tenho nem palavras para agradecer o gesto de carinho que tiveram com ela", disse.
Além de provocar uma cena de união e empatia entre amigos, o envio da carta também emocionou os familiares de Diane. Inicialmente, ela temeu a reação da filha com a proposta da professora, mas foi convencida. "No começo, fiquei preocupada, mas a professora falou comigo antes de qualquer coisa. A Lívia estava empolgada com a ideia e pensei que seria importante para ela se sentir melhor. Até para a família, pois não teve um que não se emocionou."
Reflexos do passado
Para Débora, o acolhimento dado à sua aluna reflete uma parte de sua infância, também marcada pela ausência paterna. "Essas memórias a gente leva para a vida toda. Eu sei porque sofri muito também. Tenho um pai ausente e recordo o quanto eu sofria nessas datas por não ter para quem entregar a minha carta."
A ibiporaense recebeu milhares de mensagens de apoio no Instagram. De acordo com ela, o vídeo se tornou um sucesso porque tocou em partes sensíveis das pessoas. "Li pessoas escrevendo que queriam ter recebido esse acolhimento na infância. Escola não é só para ler e escrever. Ensinamos amor, empatia, respeito, preparamos os alunos para a vida", salientou.
'Que vejam o nosso trabalho'
Além da situação pontual, a "entrega da carta" ao pai de Lívia serviu, segundo Débora, para mostrar à sociedade o trabalho árduo e, muitas vezes, desvalorizado do professor.
"Esse gesto é pequeno perto de tantos outros que as professoras fazem dentro da sala de aula e que passam despercebidos. Todo mundo tem uma história de um professor que salvou a infância."
A docente ressaltou que luta por uma educação mais acessível e pela valorização da classe. Para ela, o trabalho do professor vai além da sala de aula e tem impactos significativos na formação do ser humano.
"Eu luto pela educação, luto para ser valorizada, gosto de mostrar para os pais o que fazemos dentro da escola. O nosso trabalho vai além da escola, pois lidamos com seres humanos. Que isso ajude a mudar os olhos das pessoas. Fiquei muito feliz por levar o nome da nossa escola para o Brasil todo também."
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