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Alarmante

Qualidade do café é ameaçada com seca que já chega a 150 dias em regiões produtoras

Marcelo Toledo - Folhapress
17 set 2024 às 14:00

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- José Fernando Ogura/AEN
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A forte escassez hídrica vivida neste ano em regiões produtoras de café causou a perda de folhas, que murcharam, e ameaça até provocar a morte de plantas em lavouras de Minas Gerais e São Paulo, que concentram 67% da produção brasileira. A aridez pode diminuir a safra e a qualidade dos grãos

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Principal produtor do mundo, o Brasil sofre com a seca em suas áreas de produção, que chega a 150 dias em algumas regiões, e vê concorrentes também sofrerem, como o Vietnã, que poderá ter sua safra reduzida em 10% devido ao calor.

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Os incêndios registrados em áreas de produção desde a segunda quinzena de agosto, embora sejam apontados como localizados, também contribuem para pressionar os preços.

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Coordenador do departamento de geoprocessamento da Cooxupé (Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé), Guilherme Vinícius Teixeira disse que a crise hídrica tem feito com que as lavouras sejam submetidas, além da seca, ao estresse térmico -devido às altas temperaturas e à grande amplitude térmica (diferença, em graus, entre as temperaturas mínima e máxima em um dia).


"Praticamente estamos com 150 dias somados a partir de março sem registro significativo de volumes de chuva. As plantas estão ativando sistemas de defesa fisiológica, perdendo folhas e murchando. Em casos mais severos e lavouras depauperadas, está ocorrendo a redução do metabolismo das plantas, paralisando os processos fisiológicos importantes, podendo até chegar à morte", disse.

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Em agosto, conforme o coordenador, foi registrada queda de temperatura, causando geadas de média a alta intensidade, de forma pontual, e rajadas de vento, que acarretam necrose de tecidos vegetais. A cooperativa, a maior do país, reúne mais de 20 mil cooperados, 97% deles pequenos produtores.


"A continuidade das condições climáticas desfavoráveis poderá acarretar perdas consideráveis na safra 2025. É necessário o retorno das condições hídricas e térmicas favoráveis para a retomada do metabolismo das plantas que, por consequência, originará a florada, permitindo melhor acompanhamento da safra", disse.

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Segundo ele, as áreas usadas para a cultura na região de atuação da cooperativa -sul de Minas, cerrado mineiro, matas de Minas e Vale do Rio Pardo (SP)-, por serem de maiores altitudes e distantes de rodovias, têm menor risco de sofrerem com incêndios, diferente de culturas como a cana, que geram muito volume como palha.


Assim como na área de atuação da cooperativa, uma análise do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, mostra que os incêndios registrados na Mogiana paulista causaram perdas pontuais, sem prejuízo significativo ao setor como um todo. Mas provocaram danos como o sofrido pelo cafeicultor José de Alencar Junior, que perdeu três hectares de produção em Pedregulho (SP), o equivalente a cerca de R$ 360 mil.

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"O maior problema continua sendo a falta de umidade, o que tem preocupado produtores quanto à oferta para a próxima safra. O clima adverso vem se arrastando desde os efeitos do El Niño, no segundo semestre do ano passado, afetando a produção nacional de café, que está abaixo do esperado", diz a análise do centro.


Os problemas climáticos fizeram com que a SIC (Semana Internacional do Café), feira referência no setor e que acontecerá em novembro, em Belo Horizonte, adotasse como tema "Como o clima, a ciência e os novos consumidores estão moldando o futuro do café".

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"A gente sempre busca escolher um tema que ajude a canalizar a informação e levar uma mensagem forte para os atores da cadeia. O clima e a sustentabilidade, de uma forma transversal, já estiveram presentes nos últimos três, quatro anos, mas neste ano colocamos a palavra no tema principal, pela urgência", disse Caio Alonso Fontes, diretor da Espresso&CO e um dos realizadores da SIC.


Segundo ele, o clima será protagonista em discussões, por exemplo, que envolvam qualidade do café, abastecimento e produtividade. "Ele está presente em todas as questões e é preciso discutir essa urgência e técnicas. O mercado precisa de organizar para atacar essa frente, já que não há muito como arrumar da noite para o dia o clima. Ele está aí e teremos de saber surfar isso."


Na edição do ano passado da SIC, o empresário Pedro Lima, presidente do grupo Três Corações, maior indústria de café do país, disse à reportagem que o calor é uma preocupação de toda a cafeicultura e poderá fazer com que a atividade sofra nova migração no país no futuro -em busca de áreas mais propícias.


A SIC recebeu mais de 20 mil visitantes de 30 países em 2023 e movimentou R$ 55 milhões em negócios na capital mineira.


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