Depois de consolidar a sua volta aos pódios e até conquistar uma dobradinha na temporada do ano passado, a McLaren lança o carro de 2022 buscando dar mais um passo rumo à disputa do título da Fórmula 1, algo que não acontece há dez anos.
Pela segunda temporada seguida, o time tem Daniel Ricciardo e Lando Norris, que anunciou a renovação de seu contrato até 2025 nesta semana, e aposta na continuidade de uma gestão que vem reconstruindo a equipe.
O time já avisou que este carro do lançamento ocorrido nesta sexta-feira (11) não será o mesmo que irá para a pista na primeira corrida do ano, o GP do Bahrein, dia 20 de março. Isso porque a opção foi por um programa de desenvolvimento agressivo, com várias modificações programadas, ainda que isso signifique que Norris e Ricciardo terão menos peças de reposição à disposição.
"Acho que a maneira como nós trabalhamos com os engenheiros vai ser muito mais importante porque será uma corrida de desenvolvimento também", afirmou Norris, que fará sua quarta temporada na McLaren e na F1.
O carro tem algumas soluções interessantes. O que mais chama a atenção é a mudança dupla na suspensão: era esperado que a McLaren voltasse a usar a suspensão pull rod na dianteira buscando limpar o fluxo de ar. Mas o MCL36 inverteu, também, a traseira, que era uma pull rod e agora é uma push rod.
A diferença é o posicionamento de um dos braços da suspensão, e a opção é basicamente aerodinâmica. Na parte mecânica do funcionamento da suspensão, não há grandes diferenças. Mas o diretor técnico da McLaren, James Key, disse ter certeza de que a mudança é a melhor solução para casar com as novas regras da F1.
"Isso vai ficar bem óbvio quando os carros forem para a pista. E não é algo que dá para copiar facilmente. Será interessante ver quem mais vai fazer isso. Vi que o carro da Aston Martin é o inverso [pull rod na traseira e push rod na dianteira, como todos usavam até o ano passado]."
Key citou a Aston Martin porque é o único carro real que foi visto até o momento. A Haas apresentou imagens computadorizadas que refletiam um nível anterior de desenvolvimento, e a Red Bull apresentou sua pintura em um carro de demonstração. Semana que vem, devem ser lançados os carros de AlphaTauri, Williams, Mercedes e Ferrari -outra que deve adotar a pull rod na dianteira.
Também foi possível ver no lançamento um recorte nos sidepods menos extremo que o da Aston Martin, mas a interpretação da asa dianteira é parecida, com a primeira lâmina presa na segunda, e não no bico em si, embora com um desenho diferente.
O que estava bem encoberto não apenas nas fotos de divulgação, mas também na apresentação ao vivo era a traseira. Essa carenagem mais aberta visível no ângulo de cima parece direcionar o ar à beam wing, e é algo que a Red Bull usou no passado. Mas faltaram detalhes do difusor e do assoalho, muito importantes nas regras de 2022, e que todas as equipes devem tentar esconder ao máximo.
Embora o regulamento de 2022 seja completamente novo, a missão dos engenheiros foi descomplicar o carro do ano passado, cujo rendimento oscilava muito dependendo do tipo de pista. Ele foi também se tornando um carro complicado de acertar, o que ficou claro pela dificuldade que Ricciardo, que chegou na equipe no começo do ano passado, teve para se adaptar.
Não por acaso, no lançamento do novo carro, Ricciardo destacou a necessidade de ouvir mais o carro para poder se aproveitar de uma vantagem que ele tem em relação a Norris, a experiência de ter passado por uma grande mudança de regulamento, em 2014, quando a F1 passou a usar os V6 turbo híbridos. Na época, ele era companheiro de Sebastian Vettel, que tinha acabado de vencer quatro campeonatos seguidos, e superou o alemão.
"Tenho certeza que alguns comportamentos do carro serão esperados, e outros não. Então é uma questão de entender como fazer o carro funcionar bem. Então eu vou pilotar, especialmente nos testes, com a mente aberta. Fazer o que você sabe, mas ser experimental também para ver do que o carro gosta. E, durante a temporada, tenho que ser consistente em um nível mais alto do que ano passado."
O time vem de um quarto lugar, tendo sido superado pela Ferrari na última parte do campeonato, muito em função de uma atualização no motor que também deve ajudar o rendimento da Scuderia em 2022.
Outro ponto negativo para a McLaren é o fato de este carro de 2022 ter sido desenvolvido com o túnel de vento antigo, já que o novo equipamento não ficou pronto a tempo. E, se eles sentem a necessidade de atualizar algo que pesa tanto no orçamento, é porque entendem que o atual já não é tão preciso quanto eles gostariam -o mesmo vale para o simulador, que também está sendo trocado.
Por outro lado, as bases para a recuperação do time que não vence um campeonato desde o título de pilotos de Lewis Hamilton em 2008 estão bem formadas. Quando o norte-americano Zak Brown assumiu como CEO da McLaren, o time vinha de um penúltimo lugar no campeonato de 2017 e parecia perdido.
Ele foi o responsável por mudar a mentalidade da empresa, o que ajudou a equipe a resolver seus problemas em vez de acreditar que tinha um grande carro e que só não vencia campeonatos por fatores externos -o mais famoso deles, o motor Honda, com o qual a Red Bull foi campeã de pilotos ano passado.
Além disso, Brown acertou nos profissionais que contratou para papéis-chave na área técnica. O grande acerto foi a contratação de Andreas Seidl para a chefia da McLaren. O alemão construiu uma estrutura com James Key liderando as decisões técnicas, Piers Thynne chefiando a produção e parte operacional na fábrica, e Andrea Stella operando o time nas corridas, todos reportando a ele.
É provável que esta mudança de regulamento de 2022 ainda não seja aquela que vai levar a McLaren de volta aos dias de glória dos anos 1980 e do final dos 1990 e dos 2000, devido à atualização que ainda não foi feita na fábrica. Mas é inegável que o time não terminou os últimos três campeonatos no top 4 por acaso.
Em relação a seus rivais diretos, inclusive, o time tem duas vantagens em potencial: pode usar mais tempo de túnel de vento e simulações computadorizadas para desenvolver o carro pelo menos na primeira metade do ano, devido à sua posição no campeonato de 2022, que define a cota de cada time.
Além disso, entre os quatro grandes, a McLaren é quem trabalhava mais próxima do teto orçamentário, que foi adotado ano passado e que é de US$ 140 milhões (cerca de R$ 440 mi na cotação atual) em 2022.