O publicitário William Amador Bueno de Moraes estava cansado da vida em São Paulo e decidiu mudar para Londrina, que na época só tinha um bar noturno, o Cantinho, na esquina da avenida Souza Naves com a avenida Bandeirantes, e que estava para fechar. A notícia veio de sua cunhada, que morava na cidade. Não foi preciso pensar duas vezes. Hoje, com 24 anos, o Vilão é o bar noturno com maior estilo e também o mais tradicional da cidade. "A idéia foi fazer uma espécie de ‘pub’, como os que existem em Londres", conta William, que se orgulha de nunca ter presenciado uma briga sequer, desde a inauguração, em janeiro de 1978. Simpático e extrovertido, busca manter uma certa pose. "É preciso manter as rédeas e garantir o respeito", sorri.
A escolha do local foi como paixão à primeira vista. A localização na rua Sergipe o fez lembrar São Paulo. "Aqui lembra a região dos Jardins, rua Augusta, alameda Santos, que ficam perto da avenida Paulista, que lembra a avenida Higianópolis", conta William, que também se encantou com o corredor de entrada da casa e a construção ao fundo. Com o tempo foi deixando tudo como queria. Hoje, o mesmo corredor é cercado por vegetação, e esconde atrás das plantas algumas mesas mais reservadas e, ao mesmo tempo, ao ar livre.
O que mais chama atenção é a decoração, que traz um emaranhado de objetos espalhados pelas paredes, pelo balcão, por todo o ambiente. Logo na entrada, uma manequim dá as boas vindas ao clima do Vilão. Nas paredes estão relógios antigos, réplicas de barquinhos de madeira, pratos de porcelana, uma coleção de espingardas antigas e muitos quadros, alguns feitos pelo próprio William - que às vezes tira uma onda como artista plástico, outros ganhados, como a última aquisição. "Tinha uma janela de vidro na parede e um antigo cliente olhou para o espaço, para mim, e disse que ia me dar um quadro. Em seguida ligou para esposa e ela trouxe. Ficou muito bom", conta animado.
Até mesmo o banheiro dos homens tem uma decoração especial. Na porta, um quadro gigante da cena mais famosa da atriz Marilyn Monroe. Nas paredes, quadros de uma antiga apresentação teatral e de livros de histórias de magia, além de um quadro com o mapa das américas de ponta cabeça. Pergunto se o banheiro das mulheres também traz decoração. "Não. Elas ficam morrendo de inveja do banheiro masculino. Eu adoro isso" (risos), brinca.
No balcão do Vilão, o que mais chama atenção é caixa registradora, uma relíquia de 1919, e que continua funcionando a todo vapor. Outra peça de museu em pleno uso é um telefone de 1950, que fica ao lado de um outro aparelho de 1935, do tempo que a manivela fazia parte da ligação, mas este já não funciona mais. Sentado em uma antiga cadeira de barbeiro, William cuida da caixa registradora e do som. No repertório do "DJ" prevalecem o rock, o jazz, o blues e a MPB. "Só toco música de bom gosto", conta. Muitas bandas já passaram por ali, mas a briga dos prédios por causa do barulho fez a casa evitar problemas, e cortar a música ao vivo.
A iluminação do bar é quase uma penumbra, apenas alguns lustres com luz amarela e duas velas. A pouca iluminação agrada aos muitos casais que frequentam o Vilão, e também aqueles que vão "chorar as mágoas" sozinhos. Além das mesas no corredor e na parte externa da casa, o bar traz mais três ambientes internos. São quartos com mesinhas espalhadas e sofás confortáveis em volta. "Muitos casais se conheceram aqui no bar, e hoje seus filhos também frequentam", se orgulha William, que também mantém o mesmo quadro de garçons há mais de 15 anos. Apesar de abrigar tanta tradição e "velharias", William também pensa no futuro e pretende instalar alguns computadores com acesso a Internet.
Serviço:
Vilão
Endereço: R. Sergipe, 1461
Telefone: 322-0854
Informações: Nas quartas-feiras a casa serve Chillie, e nas quintas macarronada com opção de três molhos diferentes: bolonhesa, frango e molho branco.