Arte e resistência
A 41ª edição do Troféu Gralha Azul consagrou, nesta segunda-feira (1º), dois artistas de Londrina entre os grandes nomes do teatro paranaense. A cerimônia, que ocorreu no Auditório Salvador de Ferrante (Guairinha) em Curitiba, celebrou 50 anos da principal premiação teatral do Paraná, marcada nesta edição pela descentralização e presença de produções de diversas regiões do estado.
Entre os destaques, o ator e dramaturgo londrinense Adriano Gouvella, integrante e fundador do grupo Os Palhaços de Rua, conquistou dois troféus pelo espetáculo "Réquiem para um Barbeiro", nas categorias de melhor ator e dramaturgia. Com um trabalho solo, mas "construído coletivamente", Gouvella se tornou um dos principais vencedores da noite.
Formado na Funcart (Fundação Cultura Artística de Londrina) e em Artes Cênicas na UEL (Universidade Estadual de Londrina), o londrinense iniciou a sua jornada artística na sua própria companhia de palhaços. Em 12 anos, viajou por vários estados em quase 400 apresentações feitas. O espetáculo premiado nesta segunda, porém, apresenta uma versão diferente de Gouvella, que aposta e explora o drama com influências de grandes autores, como Franz Kafka, Paulo Freire e Jessé Souza.
"Resolvi fazer esse espetáculo, que é um drama. Ele conta a história do José, um barbeiro que, após passar por algumas situações de injustiça e processos judiciais, rebela-se e transforma-se em um ser primata para se vingar de tudo e todos", explica. Segundo ele, "Réquiem" é baseado em uma história real que viveu, mas com o realismo mágico como fundamento. Na peça, ele interpreta outros personagens, com figurinos diferentes, mas totalmente sozinho no palco.
Apesar do solo, Gouvella enaltece outros profissionais que possibilitaram o sucesso do trabalho, como Daniele Pezenti, diretora do espetáculo, Alex Lima, figurinista, e o cantor Fabrício Fonseca, responsável pela preparação vocal.
Londrina em destaque
Para Gouvella, a premiação nas categorias de melhor ator e dramaturgia - duas das principais da noite - eleva os artistas de Londrina ao patamar de destaque que sempre mereceram estar.
"Estou muito feliz e orgulhoso, não só do trabalho da minha equipe, mas de todos os artistas londrinenses. Esse prêmio não é só meu, mas sim dos artistas da cidade, do interior. É um reconhecimento muito importante, porque reforça a nossa luta por melhores políticas culturais", diz.
A novidade anunciada pelo prêmio em 2025, que possibilita os jurados irem às cidades do interior para julgar os trabalhos, é mais um passo na descentralização da cultura do estado, garante ele.
"Esse novo formato vai beneficiar muitas companhias que não podem ir [a Curitiba], porque essa sempre foi a maior dificuldade, por causa dos custos. Esse prêmio é do Paraná, não só de Curitiba."
A mulher das luzes
Natural de Araraquara (SP) e em Londrina desde 2016, Carol Vaccari, técnica de iluminação, recebeu o Prêmio Especial de Técnico do Ano, categoria dedicada a trajetórias de grande relevância para o teatro paranaense. Ela destacou o impacto de sua conquista para outras mulheres que atuam em áreas técnicas, segundo ela "majoritariamente masculinas", e lembrou a importância de representar o interior do Paraná na premiação.
“É significativo estar aqui representando outras mulheres. Ser uma mulher técnica, no Interior do estado, estar aqui recebendo esse prêmio e essa homenagem, é uma honra e uma alegria muito grande”, declarou, no discurso da premiação.
Em entrevista ao Portal Bonde, ela contou que foi premiada no ano do falecimento do "Borracha", que lhe deu a primeira oportunidade para trabalhar na área dentro do Filo (Festival Internacional de Londrina), em 2017.
"Foi um ano muito difícil, com muitos projetos. Foram muitas coordenações, pois eu trabalho com diversos grupos. Esse prêmio não é de um espetáculo só, é o reconhecimento da minha trajetória e isso, para mim, é muito gratificante. Tenho muito orgulho de ser uma mulher técnica, do interior e receber esse prêmio", salientou.
Troféu Gralha Azul
O Troféu Gralha Azul recebeu a inscrição de 63 espetáculos e 34 deles foram avaliados pela comissão julgadora. Foram 17 categorias em disputa, além de indicações especiais feitas pelo Centro Cultural Teatro Guaíra, Sated-PR (Sindicato dos Trabalhadores das Cênicas e do Audiovisual no Paraná) e Seped-PR (Sindicato dos Empresários e Produtores em Espetáculos de Diversões do Paraná). A edição de 2025 homenageou ainda Gabriela Grigolom pelo trabalho pioneiro no teatro surdo.
Entre os principais vencedores, "O Medo da Morte das Coisas", da Companhia Súbita, levou o troféu de melhor espetáculo. Maíra Lour também foi premiada por melhor direção, com Deriva, e Cleo Cavalcante conquistou três estatuetas com o espetáculo Historieta.
Veja abaixo a lista completa de vencedores:
Ator: Adriano Gouvella - Réquiem para um Barbeiro
Ator coadjuvante: Isac Kempe - Cidade dos Jornais
Ator em espetáculo para crianças: Alexandre Faria - A Vaca Lelé
Atriz: Isabel Caldas - Memórias de um Baobá; Renata Ortiz Bruel - Cabaré Hai Kai
Atriz coadjuvante: Jordana Dalla Vechia - Ela Não Pode Gritar
Atriz em espetáculo para crianças: Cleo Cavalcante - Historieta
Caracterização: André Daniel - Memórias de um Baobá
Cenário: Guenia Lemos - Cabaré Hai Kai
Direção: Maíra Lour - Deriva
Direção de espetáculo para crianças: Cadu Cinelli - Plumaje
Dramaturgia: Adriano Gouvella - Réquiem para um Barbeiro
Espetáculo: O Medo da Morte das Coisas - Súbita Companhia de Teatro
Espetáculo para crianças: Historieta - Tato Criação Cênica
Figurino: Danilo Furlan - Historieta
Iluminação: Nathan Balaguer e Lucri Reggiani - Pianinho
Revelação: Juliana Rosa - Maria Navalha Vem Aí
Sonoplastia: Arthur Jaime - Sozinho com Romeu e Julieta
Prêmio Especial: Gabriela Grigolom
Técnico do Ano: Carol Vaccari