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"Resistência Sagaz"

Teatro-reportagem: como a arte pode ser usada para resgatar a humanidade em conflitos

Lucas Giroto - Estagiário*
16 jul 2025 às 23:51

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A dramaturga Annet Henneman apresenta nesta quinta sua pesquisa teatral no Café com Quê do SESC Cadeião
Foto: Sergio Bernini
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Peças teatrais  encenadas em cenários extremos - como é o caso de guerras. Essa foi a forma que a artista Annet Henneman encontrou de levar e desenvolver sua arte, promovendo um resgate humano de histórias que vivenciaram os piores lados da vida. Esse é o tema de discussão do próximo programa "Café com Quê", que será nesta quinta-feira (17), às 19h, no Sesc Cadeião Cultural (Rua Sergipe, 52 - Centro).


O evento será apresentado pelo premiado ator londrinense, Guilherme Kirchheim, que conheceu o trabalho de Annet e sua companhia, O Teatro di Nascosto (Teatro Escondido, em português), há três anos em um festival na Itália. Desde então, Kirchheim se aprofundou no modelo de "Teatro-reportagem", promovido pelos espetáculos de Annet, reunindo os materiais que serão apresentados e utilizados como base para a discussão da próxima quinta. Em entrevista ao Portal Bonde, Guilherme contou como as obras de Annet magnetizam sua atenção, levantando temas como: união da arte e jornalismo, terapia das comunidades afetadas, resgate de histórias e teatro como forma de resistência.

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Primeiro contato


Vivendo na Itália há 11 anos, o primeiro contato de Kirchheim com Annet ocorreu em 2022, durante um "Festival do Pensamento Popular", evento desenvolvido pela companhia Tra i Binari do qual Guilherme faz parte. Como participação especial, Annet apresentou um laboratório sobre sua linha de pesquisa, o Teatro-reportagem em países do Oriente Médio. Foi nesse momento que o londrinense entendeu a proposta e a importância desse formato elaborado por Annet. 

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"Consegui conhecê-la pessoalmente através da comunidade [Tra i Binari], pois o grupo tinha uma relação de muitos anos com ela [Annet]. Pela primeira vez, consegui ver como contava histórias, de um lugar específico, sempre trazendo o contexto desses locais, dessas histórias. Com informações jornalísticas relacionadas aos conflitos daquela região", relatou o ator.

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Origem de Annet

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Segundo Kirchhein,  ao  trabalhar com pessoas em situações extremas logo após sua formação, Annet Henneman iniciou suas companhias teatrais dedicada a este compromisso, tomando como "inquietação pessoal" a luta para trazer à luz  essas histórias.  "Quando ela começou sua pesquisa do Teatro Di Nascosto, [na época] começaram a chegar à Itália embarcações de fugitivos da Guerra Civil do Curdistão. Annet se comoveu profundamente - de maneira pessoal - com o que estava acontecendo e decidiu que essa seria o foco  do trabalho da sua nova companhia. O Teatro Escondido seria relacionado a descobrir e ir até esses refugiados, buscando entender o porquê de estarem ali e, depois, ir até o local de onde vieram, e entender suas realidades", relembrou.


Baseando-se no livro "Nonostante: diari dalle terre di conflitto in Medio Oriente" (Apesar de: Diários das Terras Conflituosas do Oriente Médio, tradução literal), publicado por Annet em 2023, o artista londrinense resgata trechos em que Annet afirma não ter "receita" ou "método", nessa primeira oportunidade abraçada. Enxergando que havia, naquele formato, uma possibilidade de escuta e empatia, que poderiam - e foram - capazes de criar monólogos profundos e apurados.

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"Nesse livro ela conta como apenas foi e simplesmente abordou essas pessoas. Nisso começou a entender que existia essa possibilidade, de entrar em contato com contextos e realidades capazes de permitir a criação de treinamentos e trabalhos teatrais, como o monólogo, utilizando dados jornalísticos precisos",  explicou.


Para Kirchheim, este último ponto é uma "parte fundamental" do trabalho que ela desenvolve. Há, no Teatro Escondido, uma "preocupação extrema" com a exatidão das informações relatadas, garantindo com que as histórias sejam "confiáveis", principalmente quando "se trata de números". Seja das "coisas que ela viveu" ou "algo contado", os depoimentos envolvem mais a "vida pessoal, íntima e humana destes conflitos de guerra".

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"Por exemplo, há sempre uma preocupação de trazer detalhes que fazem as pessoas se relacionarem. Então, ela muito frequentemente fala de casamentos, detalhando cores, aromas e costumes dessas culturas. Depois, informando como isso foi interrompido pelos conflitos, pela opressão ou ocupações. Isso faz com que nós, espectadores, tenhamos um relacionamento íntimo de como é ter a própria vida interrompida por questões como guerra, poder, colonização ou genocidio", descreveu.


Unir jornalismo com a arte é extremamente benéfico para ambos, já que promove a humanização de histórias que poderiam ser tratadas apenas como mais uma, em um turbilhão de caos gerado pelas guerras. Isso só é possível utilizando "ferramentas jornalísticas, como a pesquisa aprofundada e articulação dos fatos" e dos artifícios teatrais, "através da dramaturgia e poesia", analisa o artista.

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"A preocupação dela [Annet] não é política, de passar uma mensagem - como se houvesse uma solução para isso. O que ela quer é trazer a vida humana desses conflitos, pois são pessoas que ela conviveu, que a acolheram como membro da família. Expondo isso com toda beleza, toda feiura, toda dureza e poesia desse paradoxal contexto dos territórios de conflito", ponderou. 


Arte como resistência


Em um cenário onde a rotina é infectada pelo ruído dos combates, detalhes simples como a organização de espetáculos, acaba sendo fortemente afetada nas zonas de guerra. Em uma conversa com Kirchheim, a dramaturga desabafou ao londrinense, como são feitas essas decisões e os impactos que atores e atrizes sofrem ao dividir o mundo da ficção e realidade em cima dos palcos e fora deles.


"Existem territórios nos quais não é possível fazer as apresentações, mas é possível trabalhar com atores e atrizes daquela comunidade. Muitas das vezes, o trabalho e a resistência proposta por esses artistas está na articulação das próprias memórias. Por exemplo, alguns não eram mais capazes de chorar a própria situação, esse trabalho era quase como uma terapia, permitindo que aquele sentimento seja assimilado, metabolizado. Nesse sentido, é uma forma de resistência muito sagaz", contou Kirchheim.


Em um contexto onde "não é possível abstrair o modo de sobrevivência", ritmo de ensaios e decisões artísticas são só alguns dos pontos em que é preciso se preocupar para levar ao público uma obra, acrescenta Kirchheim. Somando-se preocupações de necessidades básicas, como: "se alimentar, cuidar da própria família, ter acesso à gasolina e outros tipos". Um chocante exemplo desta cruel realidade é o exemplo compartilhado por Kirchheim, de um ator que chegou antes de um ensaio e contou à Annet que havia perdido "25 membros da sua família, assassinados pela ocupação no território em que vivia", declarou.


Trabalho escondido


No programa desenvolvido por Kirchheim com parceria do Sesc Cadeião Cultural, a proposta está em apresentar um "panorama biográfico", contextualizando a vida pessoal de Annet com o trabalho desenvolvido por ela no Teatro Di Nascosto. Dividindo com as pessoas presentes, informações que não podem ser divulgadas publicamente, pelo risco envolvido na linha artística da dramaturga. Já que o trabalho de Annet "depende da aprovação de embaixadas, por exemplo" concluiu o londrinense.


* Sob supervisão de Guto Rocha


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