Há 16 anos sem publicar livros na área da educação, Mario Sergio Cortella retorna ao tema com Educação, Escola e Docência: novos tempos, novas atitudes, nas livrarias pela Cortez Editora. Escrito de professor para professor, o livro dialoga com questões fundamentais à práxis educativa e, na boa companhia de mestres como Paulo Freire, mostra que a escola é parte de uma totalidade social. Neste sentido, não é – nem pode ser - a única responsável pela formação de novos indivíduos. A família tem papel fundamental neste processo e precisa retomar seu espaço.
Os tempos estão mudando e a escola não tem conseguido acompanhar tais mudanças. Boa parte dos alunos é do século XXI, os professores do século XX e os métodos do século XIX. São três séculos em colisão. Porém, a mudança é própria do tempo e a questão levantada por Cortella incide na velocidade com que ela tem ocorrido.
O autor conduz os docentes para o contexto da reconfiguração das convivências cotidianas. Hoje tudo é fast, veloz. A forma de se alimentar, por exemplo, que muitas vezes requer apenas que a comida seja aquecida rapidamente no forno microondas faz com que cada membro da família se alimente em uma hora, sem partilhar de uma convivência. Também é comum celulares e tablets assumirem a centralidade em momentos de lazer. A presença física é superada pela evasão da mente, que parece migrar para os mais distantes lugares.
É proibido resmungar
Tendo claro esse novo cenário, surge a questão: na era do imediatismo, da rapidez e do fugaz, como entreter o aluno? Os professores reclamam que "os alunos não são mais os mesmos", mas insistem em manter modelos superados. Um exemplo: por que uma aula dura 50 minutos? Porque é a capacidade de concentração da criança - mas isso, de acordo com estudos formulados no começo do século XX. A pesquisa foi refeita nesta década e o tempo médio foi reduzido a seis minutos. Isso quer dizer que uma aula deva durar seis minutos? Não, mas ilustra a necessidade de mudança de paradigma na prática pedagógica.
Despertar o interesse do aluno pelo conteúdo abordado em sala de aula é um dos maiores desafios do professor. Cortella lembra que conhecimento pressupõe interesse e é tarefa do educador encontrar o foco de interesse dos alunos e, ao criá-lo, partir para o conceito, que é mais abstrato.
O foco pode partir de uma cena da novela, de uma letra de música ou mesmo de um evento recente, mas precisa estar ligado ao cotidiano do discente. A partir deste foco, os conceitos parecem mais atraentes. Questões como liberdade e sua leitura pelas mais diversas escolas filosóficas podem ser tratadas, por exemplo, partindo-se de curiosidades sobre o personagem humorístico Chaves -uma vez que ele é inspirado nos cínicos, filósofos gregos que pregavam que não precisavam de nada além do próprio corpo para viverem bem. O corpo era sua liberdade.
Cortella compreende a educação em um campo que não se limita aos muros da escola, talvez porque muros possam ser pulados. Para ele, o projeto pedagógico não é apenas de um professor. É preciso discutir um novo formato com a coordenação, com a direção, seus pares e os pais dos alunos. A escola cuida da escolarização, que é uma parte dentro da educação. Os pais não podem terceirizar suas competências.
Sobre o autor
Graduado pela Faculdade de Filosofia Nossa Senhora Medianeira, Mestrado em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo sob a orientação do Prof. Dr. Moacir Gadotti e Doutorado em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo sob a orientação do Prof. Dr. Paulo Freire. Professor-titular do Departamento de Fundamentos da Educação e da Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, na qual atuou por 35 anos, sendo que em 30 deles também no Departamento de Teologia e Ciências da religião; foi Secretário Municipal de Educação de São Paulo (1991/1992) e Membro-conselheiro do Conselho Técnico Científico Educação Básica da CAPES/MEC (2008/2010). É autor de mais de 20 livros, entre eles, A Escola e o Conhecimento: fundamentos epistemológicos e políticos (Cortez Editora) e O que é a Pergunta?, com Silmara Casadei (Cortez Editora), Qual é a tua obra? (Vozes), Não espere pelo epitáfio! (Vozes); e Não nascemos prontos! (Vozes).