Em 1974, o escritor londrinense Mário Bortolotto vagava pelas ruas do Jardim do Sol folheando gibis e entrando em brigas na saída da escola. As brigas eram quase diárias. Nos finais de semana sempre estava na igreja, atuando como coroinha.
Em 1975, com 12 anos de idade, desejando sair de casa e mudar de vida, Bortolotto ingressa no Seminário de Ourinhos. Sob regime de internato, começa a viver ao lado de 55 garotos aspirantes a padre.
Essa experiencia está presente em seu mais recente livro, “Nem o Céu, Nem o Inferno”. Na obra, Mário Bortolotto revisita seu passado em um relato memorialístico em formato de romance. Traz o relato da transição da infância para a juventude nos corredores de um seminário.
Reunidos no internato, os garotos não eram propriamente anjos rezando pelo Senhor: “Não se pode juntar 55 moleques vindos dos quatro cantos do país e não esperar que essa m... não vire um barril de pólvora. Esses moleques querem sangue. Os moleques sempre querem sangue. São lobos. Dê um pouco de sangue pra eles e logo eles ficam mansinhos, pelo menos até a sede voltar.”
Muitos garotos, entre orações e castigos, não sabiam o que faziam no local: “A verdade é que a maioria não sabia muito bem o motivo de estar no seminário. Alguns estavam lá porque os pais não sabiam mais o que fazer com eles. Eram desajustados natos e os pais simplesmente desistiram. Achavam que só Deus pra dar um jeito nos garotos perdidos. Então, mandavam os pivetes pra lá como se manda qualquer moleque incorrigível prum colégio interno. Outros eram filhos de pais muito pobres que queriam que o filho tivesse algum futuro, mesmo que esse futuro fosse uma m... de uma casa paroquial e um Fusca.”
Bortolotto viveu em dois seminários diferentes entre 1974 a 1979. Foi no Seminário de Apucarana que conheceu o teatro e começou a desenvolver as atividades de dramaturgo, diretor e ator.
Com 18 livros publicados e 35 textos teatrais encenados, atualmente reside em São Paulo. A seguir Mário Bortolotto fala de “Nem o Céu, Nem o Inferno” publicado pela editora Realejo.
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