2025-2029
É provável que, pela curiosidade inerente deste encontro, você salte as primeiras faixas de "Dawn of Chromatica", o álbum de remixes de Lady Gaga, para desbravar logo o resultado do encontro entre o pop 100% made in Brazil de Pabllo Vittar com a estética gringa -e tantas vezes revolucionária- da Mother Monster em "Fun Tonight".
E, se você começar a ouvir o novo trabalho da Stefani Joanne Angelina Germanotta desta maneira, a experiência tende a ser decepcionante.
Não por culpa da "Fun Tonight" de Pabllo, cuja versão transforma a então balada de house music num forrozão dos bons, com direito a sanfona, um saxofone esperto acompanhando os vocais e aquela inquietante bateria eletrônica da pisadinha.
E sim porque, com 14 faixas no total, são poucas as vezes em que "Dawn of Chromatica" supera ou dá novo sentido às versões originais como ocorre em "Fun Tonight". Da abertura frustrante com "Alice", no remix de LSDXOXO, ao pesado encerramento com a versão de "Babylon", por Haus Labs, o álbum soa mais como um quebra-cabeça de produtor do que como um disco.
E, nesse caso, para o bem e para o mal, as atenções recaem sobre BloodPop, nome artístico de Michael Tucker, parte importante na construção estética de "Chromatica" e colaborador de outros nomes do pop como Justin Bieber e Madonna. Ele foi o primeiro a jogar informações sobre o trabalho no Twitter e a marcar artistas que poderiam participar do disco, antes mesmo de Gaga se manifestar a respeito.
Afinal, a multifacetada cantora passou 2021 colada em Tony Bennett, que anseia pela aposentadoria já anunciada, em um projeto musical oposto a este álbum, como se pode ouvir em "I Get a Kick Out of You", música do duo adoravelmente empoeirada, mesmo lançada neste ano.
"Dawn of Chromatica" é o inverso de qualquer olhar para o passado. O que quer BloodPop, reunindo um time de artistas para assinarem os remixes, é tentar encostar no futuro. Tudo tem cor néon, veste látex e parece pós-apocalíptico. Se soa pretensioso para você é porque é mesmo. Parece que a intenção é não estarmos diante do "alvorecer" -tradução de "dawn"- só de "Chromatica", mas sim de toda uma nova era da música pop.
Em poucos momentos, contudo, a ideia condiz com o resultado nos fones de ouvido. Se "911" -remixada por Charlie XCX e A. G. Cook- e a roqueira de "Replay" -por Dorian Electra-, são estonteantes, a "Sine from Above" de "Dawn of Chromatica" soa como uma enorme "falha na Matrix", de modo que até a participação de Elton John soa desconjuntada.
Existem dois momentos realmente encantadores, justamente porque conectam universos estranhos ao de Lady Gaga, mas sem comprometer a existência de um ou de outro. "Rain on Me", originalmente um hit com a colaboração de Ariana Grande, entra no surrealismo pop da venezuelana Arca sem nunca perder a inerente pulsação dançante.
Já "Fun Tonight", com Pabllo Vittar, poderia perigosamente se aproximar dos incontáveis remixes ilegais encontrados no YouTube de hits da música pop americana em versões de pisadinha, forró ou o estilo que for. Longe de serem gambiarras de estúdio, os adornos de forró implementados ali dão profundidade à letra criada por Gaga -quem imaginaria?
Se a versão original já refletia sobre a incapacidade da artista de sorrir, ser leve e feliz, mesmo rodeada por uma atmosfera alegre na estética poperô, a "Fun Tonight" de Pabllo Vittar traz ares de sofrência para o jogo do pop internacional.
Na falta de uma continuidade música a música e com estéticas tão distintas entre cada faixa, "Dawn of Chromatica" está mais para uma playlist do que para um álbum. Salta de uma boa versão para outra durante a qual o dedo se apressa para pular antes mesmo da chegada do refrão.
Ainda assim, o trabalho é gentil em aproximar tantos artistas do universo encantadoramente estranho de Lady Gaga, em que as leis da física parecem operar em outra frequência. Mesmo que poucos tenham sido capazes de criar dentro dele. E Pabllo Vittar é uma das que foram.
DAWN OF CHROMATICA
Onde: Nas plataformas digitais
Autor: Lady Gaga
Gravadora: Universal Music
Avaliação: Regular