Existem pessoas que já nascem com samba no pé. Outras vão descobrindo, ao longo dos anos, que possuem jeito e molejo para a dança. E há aquelas que precisam mesmo de uma ajudinha para riscarem a avenida com muito ziriguidum.
Se o seu é esse último caso, saiba que existem profissionais cada vez mais requisitados nas escolas de samba e também na vida: os professores de samba. Alguns são passistas desde a infância. Nasceram em famílias enraizadas no samba e, para eles, a coordenação de braços, quadril, cabeça, pés e cintura (tudo ao mesmo tempo) não é tão complicada.
E eles garantem: dá para aprender mesmo do zero. "Como qualquer coisa na vida que a gente quer aprender, é preciso gostar, ter disposição e dedicação. Sambar não é um bicho de sete cabeças", diz Gabriel Castro. Diretor da ala de passistas da Vila Isabel no Carnaval 2025, ele já deu aulas para Aline Campos, Yasmin Brunet, Gabriela Versiani, Tati Minerato, Gabi Martins, entre outras famosas.
Castro afirma que a predisposição para a dança ajuda, mas o que mais valoriza é a disciplina. "Sou um pouquinho chato (risos) e pego no pé mesmo. A minha sorte é que os alunos embarcam comigo e se entregam. É bom demais ver um aluno sambando bem em pouco tempo", observa ele, que volta e meia ministra cursos na Europa.
A paulista Mayara Santos começou na escola Morro da Casa Verde com 3 anos de idade. São 33 anos de avenida, mas, há 10 anos, deixou de ser passista para se dedicar exclusivamente a dar aulas de samba pelo Brasil afora. Entre suas alunas atuais estão Patrícia Poeta, Luciana Gimenez e a ex-bailarina do Faustão Nathalia Zannin, além de várias musas e destaques.
"Sambar contagia, e é isso que me move", comenta Santos. "Ver as pessoas, independentemente do sexo e dos corpos, se entregando à dança é muito gratificante para mim."
A professora ensina que soltar o quadril é o primeiro passo para quem quer aprender a sambar. Já utilizou bambolês com suas alunas, mas hoje prefere recorrer a cabos de vassoura e exercícios físicos, como prancha e agachamento. Ela também usa halteres para fortalecer os braços e ainda trabalha a respiração para aumentar a concentração. "Tudo isso é para dar ritmo e auxilia na concentração", diz.
Ao ser questionada sobre qual seria um dos requisitos principais para aprender a sambar, Santos não pensa duas vezes em apontar a autoaceitação. "Já me deparei com várias mulheres falando 'ai... o meu corpo' ou então 'o meu marido não acha bacana eu sambar'. Algumas até chegam com a ideia de que sambar é vulgar, uma superexposição da sensualidade. É difícil aprender qualquer coisa quando já se começa com alguma resistência", avalia.
Os irmãos Victor Hugo Allonzo e Marcus Prado também começaram no samba ainda crianças. Filhos do mesmo pai, enquanto o primeiro se criou na quadra da escola Camisa Verde e Branco, o segundo defendeu por anos o pavilhão da Vai-Vai.
Hoje, os dois são passistas da Águia de Ouro e, entre os ensaios, dão aulas para Sabrina Sato, Nicolas Prattes e Erika Januza. A dupla ainda tem outros famosos como alunos, mas a maioria prefere ser discreta. Aliás, assim como os demais consultados para este texto, eles também não informam os valores de suas aulas.
"Nós respeitamos e não divulgamos os nomes. Procuramos atender todos que nos procuram: de manhã, à noite, de madrugada... qualquer horário", explica Victor.
Ele e Marcus passam metade do ano fora do Brasil dando aulas em países como Portugal, França, Austrália e até na ilha caribenha Martinica. O método que usam é tradicional: muito samba no pé e prática diária de 10 a 15 minutos.
"Tem que praticar. A nossa técnica consiste em mostrar para o aluno do que ele é capaz. Nós identificamos e evidenciamos bem os movimentos para que ele entenda e possa praticar sozinho", ensina Marcus.
"Também pegamos no pé, mas temos plena consciência de que não é fácil coordenar braços, pés e quadril ao mesmo tempo", conta Victor Hugo. "São muitas informações. Só que dá para aprender sim, e é muito prazeroso e revigorante. Recomendo."

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