Tornar o Campus Universitário da UEL (Universidade Estadual de Londrina) em laboratório vivo e, ao mesmo tempo, aliar tecnologia e experiências humanas para solucionar problemas diários, como ambientes pouco ventilados e alto consumo de energia elétrica. A proposta é do projeto “Explorando metodologias de projeto no Smart Campus UEL: a implementação de um laboratório vivo, informacional e afetivo”, do CTU (Centro de Tecnologia e Urbanismo), que pretende fazer do espaço da Universidade um modelo de smart city (cidade inteligente) para criar e experimentar novas possibilidades de vivência no meio urbano.
O Campus é facilmente associado a uma cidade, segundo o coordenador do projeto, Rovenir Bertola Duarte, professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo, do CTU. “Tem pessoas, sistema de transporte, rua, iluminação, espaço de alimentação, estacionamento”, afirma. Por este motivo, é um local que pode simular ações antes delas serem implantadas nas cidades.
O que dá mais facilidade à investigação, de acordo com ele, é que a população do espaço, ou seja, a comunidade universitária, formada por alunos, professores e servidores, é engajada para novas tecnologias e há o interesse do próprio espaço nas pesquisas. “O Campus é um campo infinito de dados”, defende o professor.
Leia mais:
Aluno leva faca escondida na mochila para escola municipal de Londrina
Prefeitura de Ubiratã abre concurso para contador com salário de R$ 9,4 mil
Alvorada do Sul abre inscrições para concurso com 45 vagas e salários de até R$ 13 mil
Cianorte anuncia concurso para guarda municipal com salário de R$ 2,9 mil
Iniciado em dezembro de 2020, o projeto tem o modelo guarda-chuva, com várias frentes e participantes envolvidos, sendo eles do CTU, do CCE (Centro de Ciências Exatas), da PCU (Prefeitura do Campus Universitário) e colaboradores de universidades nacionais e internacionais.
Projeto Piloto - Para as primeiras pesquisas na UEL, o prédio do CTU foi escolhido como edifício piloto, por já ter ser realizado a etiquetagem de eficiência energética com apoio da Copel (Companhia Paranaense de Energia). Virtualmente, será criado modelo idêntico ao prédio, chamado de digital twin (gêmeo digital), construído em processo BIM (Modelagem de Informações da Construção) a partir de diversos dados do edifício. Esta etapa será feita em parceria com o pesquisador Ricardo Codinhoto, da Universidade de Bath (Inglaterra).
O primeiro estudo, em processo de aprovação pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico), poderá avaliar o conforto do ambiente e a ventilação de áreas de uma sala de aula, por meio de monitoramento em tempo real e análise com inteligência artificial. Isso significa medir o espaço e entender o desenho das paredes, além de medir temperatura, umidade, CO2 e velocidade do vento.
Nesta etapa, além de Rovenir Duarte e Ricardo Codinhoto, participam os professores Thalita Giglio, Camila Atem e Ercilia Hirota, do Departamento de Construção Civil; Cesar Imai, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo; Bruno Zarpelão, do Departamento de Computação, do CCE; e Marieli Azoia Lukiantchuki, da UEM (Universidade Estadual de Maringá).
Serão realizadas ainda outras frentes. Para melhorar a eficiência energética e diminuir o consumo de energia elétrica no local, uma das propostas é utilizar a dimerização de lâmpadas, isto é, controle da intensidade da luz. Em estudos prévios feito pelas professoras do CTU já citadas, um sistema com iluminação dimerizada e automatizada podem identificar, por meio de simulações computacionais, espaços mais claros, perto das janelas, e diminuir a intensidade da luz emitida – com isso, economizar energia elétrica.
Há ainda estudos com uso da inteligência artificial para avaliar as filas do RU (Restaurante Universitário) e apontar, em tempo real, os momentos em que ocorre picos de usuários. Para isso, os pesquisadores irão adotar a tecnologia chamada “detecção de objeto”, em que é possível fazer a contagem de pessoas num mesmo espaço. A pesquisa é realizada por Ricardo Rodrigues, estudante de mestrado em Arquitetura e Urbanismo, que terá na sua banca professor convidado que pertence da Universidade de Harvard.
Outras ações futuras estão previstas no espaço do Centro de Estudo, como caminhabilidade e mapa comportamental. Isso está associado em mais segurança aos prédio, por se definir as principais rotas feitas, os horários, a iluminação do ambiente. Essa parte do projeto guarda-chuva, será em parceria com a professora Milena Kanashiro, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo.
O objetivo, segundo Rovenir, é ampliar os estudos para todo o Campus. “O modelo informacional é o no CTU, mas, de fato, não deve ficar só ali. Vamos aprender, gerar aprendizado, e pouco a pouco compartilhar a gestão com a Prefeitura do Campus”, afirma.
Manutenção dos prédios - Para além dessas ações, o projeto vai colaborar também com a manutenção dos prédios do Campus. Por meio da tecnologia, será possível identificar problemas da área de cada prédio. A ação será feita em parceria com a PCU (Prefeitura do Campus), que já tem utilizado geoprocessamento para levantar informações sobre os prédios. O prefeito do Campus, Gilson Bergoc, também colabora como docente no projeto.
Todas essas informações serão possíveis de repassar para o BIM. Segundo Rovenir, a modelagem, que era utilizada somente para construção dos prédios, agora, também é uma ferramenta para acompanhar a vida deles e torná-los mais sustentáveis. Ele exemplifica: “se soubéssemos as janelas que estragam mais, poderíamos investir nas que dão mais certo; se soubéssemos quais salas têm ventilação mais adequadas, seria possível replicarmos o modelo em novas construções”.
Smart City e Smart Campus - Como explica Rovenir Duarte, a smart city surge embrionariamente com o primeiro projeto de dados urbanos em grande escala em meados de 1970 em Los Angeles, no Estados Unidos. O objetivo era transformar as cidades em ambientes mais sustentáveis, a partir do uso de ferramentas tecnológicas. Nos anos 2000, começaram a falar em cidade mais humanas, com envolvimento emocional.
Primeiras experiências como essa foram aplicadas em universidades da França, Espanha e Inglaterra, sendo chamadas de smart campus. No Brasil, elas começaram em 2015, em instituições como Facens (Faculdade de Sorocaba), Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e Universidades Federais UFPA (do Pará) e UFRN (do Rio Grande do Norte).
Experiência feita na Unicamp, pode ser aplicada futuramente no Campus da UEL, com o sistema de transporte. Segundo o professor, foi estudado por lá a quantidade de ônibus que se precisava para cada horário, por meio de monitoramento nos pontos de ônibus e inteligência artificial.
Cidade sensível versus automação - De acordo com o professor, esse não é um projeto pensado somente para os próximos 50 anos da UEL. “É inevitável, o futuro está nos atropelando. A gente não consegue mais projetar, porque ele está nos alcançando rápido. É um projeto de preparação”, afirma. Esse futuro antecipado é, segundo Rovenir Duarte, provocado também pela tecnologia. Na visão dele, para “aproveitarmos de fato a tecnologia, é preciso nos mantermos mais humano possível”.
Por este motivo, defende o conceito de cidade sensível: “a cidade é sensível à pessoa e a pessoa à cidade”. Neste modelo, as pessoas são preparadas criticamente para utilizar a tecnologia e aprendem a conversar com as máquinas. Com isso, os processos são automatizados o máximo possível e as máquinas trabalham para as pessoas – não o contrário.