Professores tomaram a avenida Celso Garcia Cid, no centro de Londrina, na tarde desta segunda-feira (3), em uma manifestação pacífica contra a terceirização de 200 escolas públicas paranaenses. O ato, em frente ao NRE (Núcleo Regional de Educação), é uma forma de apoiar os profissionais da educação que foram para Curitiba, assim como conscientizar a população sobre o que classificam como “desmontes que a educação pública do Paraná vem sofrendo ao longo dos últimos anos, sendo o Parceiro da Escola o mais recente”.
Uma professora de geografia da região de Londrina, que preferiu não se identificar, apontou que a manifestação tem o objetivo de defender o “pouco que resta” da educação pública paranaense. Para ela, a quantia de R$ 800 que será repassada por aluno à iniciativa privada é exorbitante e muito acima do que qualquer colégio recebe hoje.
“O projeto que foi para a Assembleia Legislativa não fala sobre como essas empresas vão gerir esse dinheiro”, reforça. Ela garante que a meta do governo é fazer um “desmonte” na educação para que, dessa forma, a privatização seja vista como algo positivo ou como a única solução.
Leia mais:
Quase 5.000 estudantes foram eliminados no 1º dia do Enem; veja erros e relembre regras
Justiça manda CNU cancelar eliminação e corrigir provas de candidatos que não preencheram ficha de identificação
Novo ensino médio terá transição e poderá ser implementado só em 2026, decide CNE
Conselho nacional aprova diretrizes para educação de autistas
A professora explica que muitos professores ainda estão em sala de aula por medo dos descontos salariais anunciados pelo governo. “Eu estou aqui, mas também estou com medo, assim como os meus colegas. Eu vim porque depois não vou conseguir olhar na cara dos meus alunos e dizer para eles lutarem pelos direitos deles se eu não estiver lutando pelos meus”, afirma.
O agente educacional Leandro Leite, 43, trabalha há 20 anos no Colégio Dom Geraldo Fernandes, em Cambé, uma das unidades da lista de terceirizações. Para ele, o Parceiro da Escola é um retrocesso, principalmente por colocar um “atravessador” [empresa] que vai lucrar em cima da educação pública.
Segundo ele, desde 2015 os governos vêm tentando dar início a privatização, mas que a votação em regime de urgência pegou todo mundo de surpresa, assim como também foi um impulsionador para que a classe se unisse em um ato contrário ao texto do projeto.
Professora de ciências do Colégio Maria Helena Davatz, em Lerroville, Thamires Sigora, 36, afirma que o investimento previsto para o Parceiro da Escola deveria ser utilizado para a realização de concursos públicos para a contratação de professores e profissionais da educação.
Para ela, outra opção também seria aumentar o valor repassado por aluno para as escolas, que hoje é de pouco mais de R$ 300, para que possam ser realizadas melhorias estruturais, por exemplo.
Sigora também reforça que o Parceiro da Escola não vai afetar somente professores, mas toda a comunidade escolar. “A gente precisa resguardar o futuro da nova geração, que será ainda mais maltratada com essa educação pública não tão de qualidade”, afirma.
Na escola em que ela trabalha, poucos alunos foram para a aula nesta segunda-feira em apoio à greve docente. Segundo ela, representantes do NRE de Londrina estiveram na escola para fiscalizar e colocar vídeo aulas utilizadas durante a pandemia para que os estudantes presentes não tivessem aula vaga.
Os professores, profissionais da educação, alunos e demais presentes tomaram o estacionamento do NRE de Londrina com o coro de “não à privatização” e de “Eu estou na luta”.
Secretária-geral do APP-Sindicato (Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Estado do Paraná), Neide Alves Silva detalha que quatro ônibus foram de Londrina a Curitiba para participar do protesto na capital.
Outras duas manifestações já foram marcadas para esta terça-feira (4): às 9h no Calçadão de Londrina e às 11h em frente ao NRE de Londrina.