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Para as crianças

Máscara na escola, saudade e medo marcam um ano de pandemia

Ana Beatriz Felicio e Lucas Veloso - Folhapress
15 mai 2021 às 14:27

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- iStock
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Há mais de um ano que o coronavírus têm dificultado que Maria Clara Sobrino de Oliveira, 6, brinque sem preocupação do seu jogo favorito: o alerta. Para ser mais legal, ela conta que precisa de vários participantes.


A criança ensina o passo a passo. "Uma pessoa pega a bola e fala 'alerta', aí ela tem que dar três passos. Se ela não conseguir jogar a bola em alguém, ela tá fora. Se ela conseguir, a pessoa que ela acertou está fora", diz .

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Moradora do bairro Vila Menck, em Carapicuíba, na Grande São Paulo, Maria divide a casa com a mãe, o pai e três irmãos com idades entre 14 e 1 ano. Em abril ela voltou a frequentar as aulas na escola particular onde cursa o segundo ano, mas não está gostando muito do retorno.

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"Voltar para escola foi mais ou menos, porque você tem que ficar de máscara, não pode ficar nem um pouquinho sem máscara, o que é ruim."
Apesar de ainda estar se adaptando à nova rotina, Maria conta que ficar só em casa com a família também não era divertido. "Brigava muito com meus irmãos porque não é muito legal ficar em casa, não dá para sair. Sinto saudade de ir ao shopping."

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A pandemia mudou a rotina de todos e não foi diferente para as crianças. A reportagem conversou com seis delas sobre como veem esse período, o que pensam do vírus, quais são os medos e as saudades, além da situação das escolas.


O retorno das aulas presenciais na rede pública estadual foi em 14 de abril. Escolas particulares também puderam reabrir no estado. Já as escolas municipais da capital paulista retornaram no dia 12. Em Carapicuíba ainda não há data definida para o retorno das aulas presenciais na rede municipal.

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Para aqueles que já retornaram, a presença não é obrigatória e as escolas devem obedecer protocolos de segurança, como o limite máximo de até 35% de alunos, exceto para educação infantil.


"A aula online é muita chata, eu tenho que fazer várias coisas chatas. Minha mãe me ajuda, mas eu acho difícil", desabafa Laura Oliveira Rodrigues, 5.

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Ela mora com os pais no Jardim Angélica, também em Carapicuíba, e está adorando voltar à escola e poder rever os amigos, pelo menos nos dias da semana em que há aulas presenciais.


Apesar das dificuldades com o ensino a distância, ela conta que está aprendendo a ler. "Já consegui até ler uma frase", diz animada.

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A mãe de Laura, Denise Souza Oliveira Rodrigues, 31, é comerciante e durante a pandemia começou a administrar uma lojinha pelo Instagram.
"Esse período está sendo difícil financeiramente e mentalmente. Ter que se reinventar, tentar conciliar trabalho com a rotina escolar da Laura e ver tantas vidas destruídas deixa o psicólogo abalado", conta.


Em Paraisópolis, segunda maior favela de São Paulo, Luiza Beatriz, 8, mora com os pais e os irmãos em um prédio. Sem escola, costuma descer diariamente até o parque de brinquedos para se divertir com outras crianças. Esconde-esconde, pega-pega e mamãe e filhinha são algumas das brincadeiras citadas pela menina.

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Luiza diz que a solução para este momento é o uso de máscara, álcool em gel e evitar aglomerações. Ela diz que o medo a faz tomar cuidado. "Não quero perder minha família e ficar sozinha, mas estou com saudade de ir na igreja, no shopping e na praia", comenta.


Em casa, a mãe é quem a ajuda com as lições de casa. "No começo foi difícil porque tinha que baixar aplicativos, mas agora foi [deu certo]", resume Luiza, que afirma ser ótima aluna, elogiada pelas professoras.

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Na vizinhança da favela, mora Livia Santos Magalhães , 8. Aluna do 3° ano do ensino fundamental, ela comenta que está triste por conta da saudade da escola e dos amigos. Desde o começo da pandemia, em março de 2020, ela não voltou ao prédio.


Apesar das mudanças na rotina, tem na ponta da língua as indicações dos médicos. "Coronavírus é uma doença respiratória e a gente protege colocando máscara, álcool em gel e ficando em casa", indica.


No Damasceno, distrito da Brasilândia, zona norte de São Paulo, Vitor de Arruda Silva, 9, diz não ter medo do vírus por estar em casa e usar máscara quando vai para a rua. Apesar de reconhecer a importância do item, faz uma ressalva: "A máscara tampa o sorriso da gente, que é a melhor coisa do brasileiro".


Às quartas-feiras, ele têm aulas presenciais. A turma não passa dos dez alunos, diz Vitor. Em casa, faz as lições e provas enviadas pela professora, mas diz que sente falta da rotina escolar e de ver amigos presencialmente. No tempo livre, gosta de jogar online.


Há também famílias que preferem que as crianças sigam estudando de casa. É o caso de Felipe Couto Antônio, 10, que vive em Pirituba, no bairro Jardim Paquetá, na zona norte de São Paulo, com a mãe, os avós e uma tia.


"Achei melhor não mandar para não correr o risco de contaminação, porque mesmo com os cuidados sabemos que isso pode acontecer", conta a mãe, Bruna Rosa Couto, 33, analista de backoffice que está fazendo home office.


Fã de futebol, principalmente de várzea, Felipe costumava jogar como goleiro e acompanhar os jogos do Vila Nova Paquetá, time do coração. Para ele, a antiga rotina faz falta.


"Saudade de ir para rua e brincar com meus amigos e com muita saudade da escola."


Para Maria, o vírus está associado à questão da morte. "O coronavírus é um vírus que quem pega morre. Eu tenho medo que alguém da minha família pegue, por isso uso máscara, passo álcool gel quando chego do lugar."


Até o dia 10 de maio, 732 pessoas tinham morrido em decorrência da doença em Carapicuíba. No estado de São Paulo, até o dia 11 esse número era de 101.660 mortes.


Durante o período de isolamento, a mãe da Maria, Ingrid Natane Sobrinho de Oliveira, 32, conta que sentiu a filha mais chorosa e ansiosa.
"Foi bem difícil explicar que não poderia sair, brincar ou até mesmo estudar fora de casa e quando tudo começava a entrar numa rotina, as aulas voltando, podendo encontrar com familiares de novo, veio a segunda onda", relembra.


Para a psicóloga e pesquisadora que atua com crianças Luiza Bomtempo Mendes, é importante que os pais ou cuidadores sejam sinceros com as crianças sobre a pandemia, explicando que estamos passando por um momento difícil.


"Crianças compreendem o mundo muito melhor do que podemos imaginar", afirma. "Usar uma linguagem adequada, dependendo da faixa etária da criança, e materiais didáticos como livros e vídeos que expliquem o que está acontecendo no mundo é a melhor maneira de lidar."
Enquanto isso, ela recomenda tornar o ambiente mais divertido e programar momentos de lazer mesmo dentro de casa, com objetos simples do dia a dia.

"Guerra de almofadas, piquenique na sala, cabana com cadeiras e cobertores, atividades gráficas (com tinta, lápis de cor, massinha), brincar de teatro, fazer uma receita de uma comida fácil e que a criança goste", diz. "O importante é soltar a imaginação."


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