O ensino em tempo integral aumentou em 35% o aprendizado de matemática e em 26% o de língua portuguesa dos alunos do 6º a 9º ano da rede pública de São Paulo.
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Os dados fazem parte de uma pesquisa, obtida pela Folha, realizada pelo Lepes (Laboratório de Estudos e Pesquisas em Educação e Economia Social), ligado à USP, em parceria com o Instituto Sonho Grande, ONG que apoia redes públicas de ensino do Brasil na implementação do ensino integral, e o Instituto Natura.
A pesquisa detectou o aumento da aprendizagem utilizando as notas dos estudantes do fundamental 2 (6º a 9º ano) no Saresp (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolas do Estado de São Paulo). Essa prova é aplicada pelo governo para medir quantos pontos de aprendizagem os alunos adquirem ao longo das séries escolares.
Para mensurar o impacto no aprendizado ao longo do fundamental 2, a pesquisa verificou quantos pontos os alunos tinham no Saresp do 5º ano (ou seja, no final do fundamental 1) e quantos obtiveram no Saresp do 9º ano (final do fundamental 2).
Estudantes de escolas de tempo regular adquiriram, nesse período do fundamental 2, 40 pontos em matemática, enquanto aqueles que cursaram ensino integral obtiveram 54 pontos -uma diferença de 14 pontos, ou seja, uma aprendizagem 35% maior.
No caso de língua portuguesa, estudantes de escolas de tempo regular obtiveram 39 pontos ao longo do fundamental 2; já os de ensino integral conseguiram 49 pontos -10 pontos a mais, o que representa uma aprendizagem 26% maior.
A pesquisa utilizou dados de 2013 (ano em que o programa de ensino integral começou a ser implementado nas escolas públicas de ensino fundamental de São Paulo) até 2019. A opção por esse recorte foi para evitar os impactos da pandemia.
O desempenho dos alunos ao final do fundamental, independentemente da carga horária de aulas, está abaixo do considerado adequado no Saresp, embora os que estudam em tempo integral estejam mais próximos da pontuação mínima ideal.
Na média, estudantes de escolas de horário regular tiveram 251 pontos na prova de matemática do Saresp do 9º ano, enquanto os de escolas de tempo integral chegaram a 265 pontos, uma diferença de 14 pontos. Tanto um resultado quanto o outro estão na faixa considerada "aprendizado básico" do Saresp (225 a 299 pontos). O aprendizado considerado adequado é aquele de 300 pontos para cima.
É o mesmo caso da língua portuguesa. O resultado médio dos alunos do 9º ano de escolas de horário regular foi de 238 pontos, enquanto os de escolas integrais, de 248 pontos, diferença de 10 pontos, portanto. Ambos os resultados se enquadram na faixa do aprendizado básico (200 a 274 pontos). O adequado seria de 275 pontos para cima.
Mas os pesquisadores são otimistas. "O estudo mostra que, quanto maior é o tempo que a escola está funcionando no modelo de ensino integral, melhor é o desempenho dos estudantes", diz Roberta Biondi, doutora em economia pela FGV-SP e uma das coordenadora da pesquisa. "Os próximos anos devem trazer resultados melhores."
Um gráfico com o desempenho dos alunos de acordo com o ano de adesão da escola ao tempo integral evidencia a observação da pesquisadora e mostra também que a aprendizagem melhora assim que a carga horária aumenta. Mesmo os alunos das últimas escolas a aderir ao tempo integral (em 2018) em um ano ultrapassaram a aprendizagem dos estudantes de escolas de horário regular.
Biondi também ressalta outros achados da pesquisa. "O efeito da melhora no aprendizado gerada pelo modelo de tempo integral é o mesmo quando consideramos diferentes características dos estudantes, se é menino ou menina, pretos, pardos ou brancos, e se é um aluno atrasado ou não na escola", afirma.
Além disso, o modelo integral, além da carga maior das matérias tradicionais, amplia as atividades extracurriculares e a oportunidade de os alunos serem acolhidos pela escola, aponta Biondi. "Com isso, verificamos que aumenta a chance de o estudante ingressar no ensino médio", afirma. "Na média, de 87% para 89%, mas, dentre os alunos atrasados, sobe de 61% para 70%", explica a pesquisadora.
Quando a pesquisa foi feita, o número de escolas em tempo integral no fundamental 2 ainda era muito pequeno, 227 apenas, 6% do total. O avanço do programa de ensino integral aconteceu a partir de 2020, e a grande ampliação se deu em 2022. Atualmente, de acordo com a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, há 1.811 escolas de tempo integral no fundamental 2, o que representa 47,3% do total.
A pesquisa também avaliou as escolas convertidas para tempo integral nesses últimos anos (2020 a 2022) e detectou melhora no aprendizado de 15% em língua portuguesa e 25% em matemática. O resultado, inferior ao do recorte principal da pesquisa (escolas que aderiram entre 2013 e 2019), é atribuído ao menor tempo de adesão ao tempo integral, bem como aos efeitos do fechamento das escolas na pandemia.
A ampliação do programa de escolas em tempo integral, uma das principais bandeiras da última gestão tucana na educação, foi freada em 2023, no primeiro ano da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos). Logo no primeiro dia de aulas das escolas estaduais em seu mandato, o governador afirmou que não ia seguir nessa ampliação. "Não adianta aumentar o tempo integral sem qualificar e estruturar as que já têm", disse.
No final do ano, o governo paulista anunciou que iria investir R$ 2 bilhões na construção, ampliação e manutenção de escolas do programa de ensino integral. Desse montante, R$ 1,6 bilhão será parte do PPI (Programa de Parcerias de Investimento do Estado), que prevê parcerias com a iniciativa privada -essas parcerias não contemplam a parte pedagógica, que fica sob comando da Secretaria da Educação.