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Criança precisa de orientação para entender a dimensão do TikTok, diz educador

Laura Mattos - Folhapress
12 jun 2023 às 10:10
- Cottonbro Studio/Pexels
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Há dois extremos, igualmente ruins, quando se pensa na relação entre crianças e adolescentes com a internet.


Em um deles, o romântico, imagina-se que os mais novos, que já nasceram em um mundo dominado pela tecnologia, sabem tudo sobre esse universo, mais do que qualquer adulto. No outro, o alarmista, eles são subestimados, considerados vulneráveis por completo, facilmente manipuláveis.

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Quem quiser educar essa geração para um uso saudável das mídias não pode se deixar levar por um ou outro, mas seguir o caminho do meio, defende o pesquisador inglês David Buckingham, 68, referência mundial na educação midiática.

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Com toda a sua carreira dedicada a pesquisar esse tema, Buckingham acaba de lançar, no Brasil, o livro "Manifesto pela Educação Midiática". Trata-se de uma versão traduzida da obra original em inglês, de 2019, e acrescida de dois textos de jornalistas e pesquisadores brasileiros, Eugênio Bucci e Januária Cristina Alves.

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A escolha do termo "manifesto" para dar título ao livro dá conta de um aspecto central: a defesa de que a educação para as mídias é urgente, um "pré-requisito básico da cidadania contemporânea", como o autor coloca. Deve ser matéria obrigatória nas escolas, objeto de programas consistentes de governos, prioridade da sociedade.


Mas o livro vai além de levantar uma bandeira - funciona como um guia para pais e educadores, com dicas simples de como tornar crianças e jovens capazes de se relacionar de forma crítica com as mídias.

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E o caminho para isso, vamos lembrar, é o do meio. "Como educador e como pai, percebi que, quando começamos a falar com crianças sobre esse tema, muitas vezes elas demonstram uma capacidade sofisticada de entender algumas questões do uso que fazem das mídias", diz o autor durante o lançamento da edição brasileira. "Dito isso, temos que evitar o outro extremo, o risco de considerar que os mais novos, por serem nativos digitais, sabem naturalmente tudo sobre as mídias".


E o que pais e pesquisadores precisam entender além dessa simplificação" é o que as crianças e os jovens sabem e o que eles não sabem". "Há elementos de um contexto maior em torno da tecnologia que os menores não necessariamente entendem muito bem", afirma.

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"Eles podem dominar as etiquetas da comunicação online, das mídias sociais ou como fazer vídeos do TikTok. Mas o que sabem sobre as empresas que são proprietárias dessas mídias? Que noção eles têm, por exemplo, a respeito de como os dados das pessoas estão sendo coletados e como estão sendo usados?"

Essa perspectiva ajuda a construir um diálogo entre os adultos e os mais novos, ele acredita. "Sim, há coisas que as crianças e os adolescentes sabem, e precisamos dar a eles crédito por isso", afirma. "Mas há coisas que não sabem, e nós, adultos, precisamos identificar quais são para estabelecer diálogos e engajá-los em discussões."

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Na avaliação do pesquisador, não é efetivo que pais e educadores "atuem como polícia" em relação ao uso que crianças e jovens fazem das mídias, apontando o que é o certo e o errado, assim como é simplista considerar que a educação midiática só serve para proteger dos perigos da internet.


Educar para as mídias é desenvolver habilidades críticas para se compreender o universo digital, e, para isso, Buckingham defende que o tema deve estar no currículo das escolas e os professores precisam ser treinados.

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É algo maior, como ressalta em entrevista, do que "apenas ensinar a reconhecer fake news". "E esse termo, fake news, aliás, nem considero muito útil", afirma, "porque pressupõe que podemos fazer diferenciações simples entre verdadeiro e falso, quando a questão é bem mais complicada".


Para ele, "a educação midiática abrange toda a gama de mídias que crianças e jovens experimentam, e não só as notícias, que, muitas vezes, são o principal interesse dos adultos".

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Outro equívoco, ele aponta, é relacionar educação e tecnologia de uma forma instrumental, ou seja, considerar os dispositivos digitais apenas como ferramentas para o aprendizado. Em palavras simples, educação midiática não é colocar impressora 3D no laboratório da escola ou usar aplicativos para corrigir redações. "Não tem a ver com educar por meio da mídia, utilizando tecnologia, mas educar sobre a mídia".


Claro que os estudantes podem utilizar as mídias de forma criativa, mas de modo a compreender criticamente o seu funcionamento. "Meu ponto é: se vamos usar as mídias como ferramentas de educação, precisamos educar sobre como representam o mundo, como são centrais na política, na cidadania, na economia, na cultura."


O pesquisador defende uma regulação das plataformas digitais, como propõe o PL das Fake News, de forma a controlar o poder de grandes empresas de tecnologia. Mas ressaltou que "essa tarefa tem sido complicada em diversos países, porque a tecnologia avança rapidamente, e é difícil saber quando e onde interferir". A educação midiática se coloca, portanto, como tão essencial quanto a regulação.


Ele avalia que as redes sociais não são a resposta para a violência nas escolas. "A mídia não é a causa principal. Há muitas causas complicadas, não é uma questão simples, e a educação midiática não resolverá esse problema." Entre achar que as redes sociais são o inferno ou que são totalmente benéficas para os mais novos, Buckingham, de novo, opta pela via do meio.


"Precisamos ter uma visão mais equilibrada e sutil, e, acima de tudo, ouvir as crianças e os jovens e respeitar as suas opiniões sobre tudo isso."


MANIFESTO PELA EDUCAÇÃO MIDIÁTICA

Preço: R$ 58 (136 págs.); R$ 29 (ebook)

Autoria: David Buckingham

Editora: Edições Sesc

Tradução: José Ignacio Mendes


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