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Influenciadores se juntam por debate político menos tóxico e polarizado

Joelmir Tavares - Folhapress
17 dez 2023 às 15:59

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- Anastasia Nelen na Unsplash
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Os celulares que se manifestam de repente durante a aula dão pistas do perfil da turma reunida em uma sala na capital paulista em meados de novembro. Um aparelho toca uma música inesperada, outro emite uma voz humana --e seus donos se apressam em interrompê-los.


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São influenciadores digitais que têm uma vida ativa nas redes sociais e foram chamados para um treinamento do Redes Cordiais, projeto que busca espalhar a ideia de "influência responsável" para enfrentar questões como polarização política, discurso de ódio e desinformação.

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Na atividade daquele dia, 12 convidados aprenderam sobre segurança pública com especialistas do Instituto Sou da Paz. A ideia é aproveitar o "canhão de comunicação" dos influencers, como definiu um mediador, chamando-os de "novos Faustões, novas Fátimas Bernardes".

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Criado em 2018, o Redes Cordiais faz parte de uma lista de organizações que estimulam artistas, personalidades e criadores de conteúdo a atuarem por um ambiente digital menos tóxico.


Além de agências de checagem como Lupa e Aos Fatos, plataformas como Despolarize e Politize! ganharam espaço com iniciativas para combater fake news e estimular um debate saudável e democrático no país que se dividiu entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) nas eleições de 2022.

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Em nome da tal cordialidade, o Redes já arrastou para seus cursos e campanhas figuras de perfis distintos como as atrizes Paolla Oliveira e Dira Paes, o humorista Fabio Porchat, os cantores Rogério Flausino e Manu Gavassi e os jornalistas Leda Nagle e Guilherme Fiuza.


"Nossa atuação tem o intuito de transformar esses atores estratégicos", diz a jornalista e pesquisadora Clara Becker, cofundadora do projeto. "Influenciadores precisam ser engajados na tarefa da educação midiática, para que se tornem melhores exemplos e compartilhem os conhecimentos."

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Na roda de conversa sobre segurança, um dos chavões repetidos era a necessidade de "furar bolhas" para alcançar outros públicos e ter um impacto real. Todos os participantes daquela data tinham tendência progressista, mas em geral há a preocupação de chamar também conservadores.


"Passei a pensar duas vezes antes de compartilhar as coisas", disse à Folha o influenciador Kaique Brito (164 mil seguidores no TikTok e 96 mil no Instagram), que comparecia pela segunda vez a um encontro do Redes Cordiais. A primeira vez foi há quatro anos, quando ele tinha acabado de completar 15.

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Kaique publicou um vídeo antes do segundo turno no ano passado com dicas como controlar as emoções antes de postar, tomar cuidado com "deep fakes" (imagens criadas a partir de inteligência artificial) e evitar reagir a provocações.


Na discussão sobre criminalidade e direitos humanos, influenciadores como Rodrigo Kenji, do canal Normose, Jota Marques, Clara Averbuck e Cazé Pecini concordaram que a pauta requer discussão equilibrada e dados confiáveis, mas reconheceram que abrir vias de diálogo anda difícil.

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A diretora-executiva do Sou da Paz, Carolina Ricardo, disse que os influencers podem ajudar a "ampliar as vozes envolvidas no tema, chegando até o adolescente sentado em casa vendo o Instagram".


Entre uma olhada e outra no celular, o grupo também compartilhou angústias, com reclamações de que representantes da direita bolsonarista se recusam a conversar com base em argumentos, interditando debates, e que os ataques de "haters" (detratores) corroem a saúde mental dos alvos.

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Uma das conclusões foi a de que é preciso tentar sentir a dor do outro, praticando a tão falada empatia, mas também admitir as próprias limitações, para não sofrer tentando salvar o mundo. Circulou ainda o conselho de fugir da armadilha de ostentar uma pretensa superioridade moral.


Um dos principais influenciadores do país, Felipe Neto teve contato com o Redes Cordiais em seus primeiros anos e já foi entrevistado num evento do projeto. Em 2021, ele fundou o Instituto Vero, com o objetivo anunciado de usar tecnologias para difundir informação e fortalecer a democracia.


Em 19 de novembro, Felipe escorregou na própria cartilha ao postar a foto de uma profissional do jornal O Estado de S. Paulo para criticar reportagens e fazer insinuações.


Logo depois ele apagou o conteúdo e fez uma nova publicação. Disse que errou, pediu desculpas à jornalista e afirmou que "não é certo expor sua foto ou incentivar qualquer tipo de perseguição a ela".


O comunicador disse à reportagem, via assessoria, que sua "missão de vida atualmente é trabalhar e investir cada vez mais em prol de uma internet mais saudável e sustentável" e que, quando criou o Vero, buscou se aproximar de organizações que já atuavam com direitos digitais e educação midiática.


O instituto de Felipe também usa influenciadores para tentar incidir na arena pública, por entender que eles concentram a atenção coletiva. "Essas figuras têm o papel de moldar o fluxo da informação, ditar tendências e sugerir o tom da conversa", diz o diretor de comunicação do Vero, Victor Vicente.


Segundo o Redes Cordiais, já passaram por suas ações 300 pessoas, seguidas por 238 milhões de contas.

No ano passado, diante da ofensiva contra as urnas eletrônicas, a entidade levou 30 influenciadores ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para falarem com técnicos e conhecerem a área de totalização dos resultados, chamada equivocadamente de "sala secreta" por Bolsonaro e aliados.


Um dos presentes era o pastor Pedrão, bolsonarista que celebrou o casamento do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Na época, ele fez uma enquete em sua página e viu que 90% dos seguidores não confiavam nas urnas. Isso não o impediu de postar conteúdos sobre a visita.


"Nosso esforço é o de plantar sementes, furar bolhas e ter diversidade. Nem sempre é fácil", diz Clara Becker. "Só de termos influenciadores abertos a ouvirem o que temos a dizer, já consideramos um sucesso, mas, obviamente, nem em todos os terrenos nossas mensagens rendem frutos."


O pastor é um exemplo, segundo ela, de ex-aluno que até melhorou pontualmente suas práticas como formador de opinião, mas "não foi exatamente convertido" à proposta de influência responsável permanente, mesmo caso da ex-deputada federal bolsonarista Alê Silva (Republicanos-MG).


Para 2024, ano de eleições municipais, está nos planos repetir a ida ao TSE e fazer uma imersão no STF (Supremo Tribunal Federal) na intenção de explicar o papel da corte e de seus ministros.


Sem fins lucrativos, o Redes é bancado por doações de organismos como o brasileiro Instituto Betty & Jacob Lafer e o americano Fundo Nacional para a Democracia. Também já recebeu recursos de big techs como Google e Meta (dona do Facebook, Instagram e WhatsApp).


A organização se define como apartidária, mas não neutra. Tem uma bandeira pró-democracia inegociável, mas evita posicionamentos ideológicos para conseguir atrair pessoas de todos os lados.


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