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Brasil tem no Facebook média diária de 247 mil interações sobre alegada fraude eleitoral

Patrícia Campos Mello - Folhapress
11 fev 2022 às 09:24

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- Nelson Jr/ASICS TSE
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Nos últimos 15 meses, foram feitas 394.370 postagens no Facebook sobre alegadas fraudes eleitorais, e esse conteúdo gerou mais de 111 milhões de interações -o que equivalente a cerca de 247 mil curtidas, comentários ou compartilhamentos por dia sobre o tema.


As informações estão em estudo da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (DAPP-FGV) sobre desinformação eleitoral no Brasil, que analisou dados no período entre novembro de 2020 e janeiro de 2022.

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"O dado surpreendente é que essa campanha de desinformação contra o processo eleitoral não arrefeceu, continua muito intensa e é comandada por um mesmo grupo de pessoas e grupos", diz Marco Ruediger, coordenador da pesquisa e chefe da DAPP-FGV.

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"A mobilização vem de palavras de ordem de pessoas públicas, que incitam grupos. É desinformação muitas vezes custeada com dinheiro público, impulsionada com fundo partidário."

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Um total de 12 contas concentra o maior volume de interações nas postagens no Facebook sobre fraude nas urnas e voto impresso: a campeã foi a deputada federal Carla Zambelli (PSL), com 1.576 publicações e quase 8 milhões de interações.


Na sequência aparecem: deputada Bia Kicis (PSL-DF), deputado Filipe Barros (PSL-PR), presidente Jair Bolsonaro, Jornal da Cidade online, deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), UOL (notícias sobre o tema), deputado Carlos Jordy (PSL-RJ), grupo Bolsonaro 2022, Jovem Pan News, deputada Caroline de Toni (PSL-SC) e grupo Aliança pelo Brasil -presidente Jair Bolsonaro.

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Entre as contas que mais postaram sobre fraude nas urnas estão vários grupos bolsonaristas, como o Movimento Brasil, com 11.856 posts, Bolsonaro 2022, Grupo Olavo de Carvalho, Força Brasil, Aliança pelo Brasil 38, Bolsonaro 2022, Grupo Soldado de Aço de apoio a Bolsonaro, Somos 70 porcento, Bárbara Te Atualizei, Aliança pelo Brasil, Carla Zambelli, Bolsonaro até 2026.


Nos Estados Unidos, na campanha eleitoral de 2020, o Facebook passou a acrescentar um rótulo informativo a "conteúdo que tenta deslegitimar o resultado da eleição ou discutir a legitimidade dos métodos de votação, por exemplo, ao dizer que métodos legais de votação levarão a fraude".

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Também proibiu a compra de anúncios com esse teor.


No Brasil, no entanto, a plataforma não tem nenhuma política específica em relação a conteúdos que questionam a integridade eleitoral.

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A empresa anunciou que usuários passariam a ver, a partir de 10 de dezembro, um rótulo em postagens do Facebook e Instagram sobre eleições e seriam direcionados para uma página da Justiça Eleitoral.


Mas, segundo mapeamento da FGV, inúmeros conteúdos que disseminam informação falsa sobre as eleições continuam circulando sem nenhum link.

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Por exemplo, posts de 10 de janeiro com as seguintes afirmações:


"Nós exigimos o voto impresso e que as forças armadas acompanhem todo o processo de eleição!!! Se o ladrão ganhar é a prova de (sic) as urnas foram fraudadas #LULANACADEIA #BolsonaroReeleitoEm2022" e 

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"Com o Exército fiscalizando a apuração das urnas vai ser mais difícil a organização criminosa consumar a fraude".


Segundo o levantamento da FGV, os picos das postagens ocorreram em novembro de 2020, durante a corrida presidencial dos EUA e as eleições municipais no Brasil, e em julho e agosto de 2021, na esteira da discussão pública sobre a PEC do voto impresso e das declarações falsas de Bolsonaro.


O conteúdo de deslegitimação do sistema eleitoral, segundo o levantamento, continua a circular e, em 2021, ultrapassou os níveis da última eleição presidencial, em 2018.


Facebook afirma que sistema segue em aperfeiçoamento A Meta, empresa controladora do Facebook, afirmou, em nota, que em alguns casos "os sistemas podem não reconhecer um conteúdo sobre eleições e não adicionar o rótulo". "A empresa está trabalhando continuamente para aperfeiçoar o produto."


A empresa também afirmou que "o Brasil é um dos primeiros países em que adicionamos rótulos desse tipo para eleições e o primeiro em que fazemos isso mais de 10 meses antes do dia da votação."


A empresa informou também que postagens no Facebook e no Instagram estão sujeitas à verificação de autenticidade por agências de checagem de fatos.


"Se um conteúdo sobre eleições for marcado como falso por uma agência de checagem de fatos, ele será rotulado como desinformação e terá sua distribuição reduzida de forma significativa."


Porém conteúdo postado por políticos, sejam eles candidatos ou ocupantes de cargos, não passa por checagem das agências.


Segundo a empresa, os políticos não têm a veracidade de suas afirmações avaliada porque a empresa se norteia pela "na crença fundamental do Facebook na liberdade de expressão, no respeito ao processo democrático e de que o discurso político é o mais analisado que existe, especialmente em democracias maduras com uma imprensa livre."


Segundo o Marco Civil da Internet, o Facebook só pode ser responsabilizado se houver ordem judicial para remover conteúdo e a plataforma descumprir.


Para Ruediger, da FGV, o TSE deveria assumir uma postura mais pró-ativa.


"A estrutura do TSE não pode ser reativa, a corte precisa monitorar essas contas que mais publicam a desinformação eleitoral e que, muito provavelmente, seriam os grupos que estariam envolvidos em tumultos e questionamento do resultado durante a eleição", diz o sociólogo.


"Existe um processo de naturalização desse discurso, estão preparando terreno para contestar os resultados, da mesma maneira que políticos republicanos nos EUA fizeram em 2020."


Ruediger também engrossa o coro dos pesquisadores que pedem maior transparência nas regras do aplicativo. "O Facebook precisa tornar claras, urgentemente, as regras de moderação de conteúdo que vai usar durante a campanha eleitoral, para não repetir erros de 2020 nos EUA e 2018 no Brasil."


TSE diz reagir com informações de qualidade O TSE, em nota, ressaltou a preocupação com a liberdade de expressão, diz realizar ações contra a desinformação sem, porém, cercear o debate público e a livre circulação de ideias, "ainda que embasadas em teorias conspiratórias e afirmações sem qualquer conexão com a realidade".


O tribunal afirma combater as fake news por meio da oferta de informações oficiais de qualidade, sem prejuízo de apresentar respostas, a depender de fatores circunstanciais.


Nesse campo, encaminha a agências de checagem de fatos e veículos abalizados da imprensa dados oficiais verificáveis, que permitem a conferência e respectivo desmascaramento de medidas virais."


Mas a corte indica também que pode agir de forma mais contundente para tirar do ar determinados conteúdos.


O tribunal se refere à sua recente resolução sobre propaganda eleitoral que veda "a divulgação ou compartilhamento de fatos sabidamente inverídicos ou gravemente descontextualizados que atinjam a integridade do processo eleitoral, inclusive os processos de votação, apuração e totalização de votos".


Remete ainda à jurisprudência criada pela cassação do mandato do deputado estadual Fernando Francischini (PSL-PR), no ano passado, por divulgar notícias falsas contra o sistema eletrônico de votação em live no Facebook no dia das eleições de 2018.

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